A crescente incidência de **tornados em cenários de mudança climática** emergiu como um alerta urgente para a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP-30), especialmente após o evento devastador que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, causando extensa destruição e deixando centenas de feridos. Este episódio reforça a necessidade de ações concretas por parte dos líderes mundiais diante de um clima em constante transformação.
O recente tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu resultou na destruição de cerca de 90% da cidade e deixou pelo menos 750 pessoas feridas. Essa catástrofe sublinha a urgência com que autoridades globais, reunidas na COP-30, precisam encarar a realidade dos impactos climáticos. O encontro de chefes de Estado ocorreu na última quinta e sexta-feira, enquanto a abertura oficial da Conferência está agendada para a próxima segunda-feira, 10 de novembro de 2025.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a principal rede da sociedade civil brasileira com atuação sobre as alterações climáticas, utilizou a tragédia no Paraná como um doloroso exemplo do cenário que o mundo enfrenta. Segundo Astrini, o ocorrido, de gravidade inquestionável, é mais uma repetição dos eventos extremos já testemunhados não só no Brasil – citando exemplos na Amazônia, Rio Grande do Sul, São Sebastião, Petrópolis, norte de Minas e sul da Bahia – mas também em diversas outras partes do planeta. Ele enfatizou a necessidade de o encontro se abrir para a realidade, expressando sua frustração de que, muitas vezes, as reuniões climáticas parecem “impermeáveis ao mundo real”.
Mudança Climática Pode Intensificar Tornados, Alerta COP-30
Astrini pontuou que a última década se consolidou como os dez anos mais quentes da história, e que esse dado alarmante, junto aos fenômenos destrutivos como o tornado paranaense, deveria pautar as discussões da COP-30. Ele manifestou a esperança de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faça menção ao acontecimento de Rio Bonito do Iguaçu na abertura oficial da Conferência, agendada para a próxima segunda-feira. A expectativa é que tal citação ajude a sensibilizar as nações participantes sobre o “mundo real” que se encontra em uma situação de vulnerabilidade, especialmente para países como o Brasil, que dependem fortemente da agricultura e da regularidade climática para a geração de energia em suas hidrelétricas.
A complexidade dos fenômenos atmosféricos e sua conexão com a crise climática foi abordada pela oceanógrafa Renata Nagai, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio do Instituto Serrapilheira. Nagai esclarece que tornados, como o que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, não são unicamente causados pelas **mudanças climáticas**. Contudo, o desequilíbrio climático global, impulsionado pela contínua liberação de combustíveis fósseis e gases de efeito estufa na atmosfera, atua como um catalisador fundamental. Essa contribuição para o aquecimento da atmosfera e dos oceanos amplifica a energia térmica e aumenta a umidade por meio da evaporação. Este cenário de maior calor e maior umidade, detalha a especialista, funciona como um “combustível” essencial para o surgimento e a intensificação de eventos meteorológicos extremos.
Explicando a natureza desses fenômenos, Nagai descreve os tornados como colunas de ar que rotacionam em velocidades altíssimas, originando-se a partir de nuvens de tempestades severas. Apesar de sua geralmente curta duração e pequena extensão geográfica, quando esses fenômenos tocam o solo, podem desencadear um poder destrutivo imenso. A ocorrência e a força dos tornados são favorecidas significativamente pela combinação de alta umidade e pela presença de massas de ar quente na atmosfera.
Confirmando a preocupação com a crescente frequência desses eventos, o professor e pesquisador da USP, Michel Mahiques, alerta que fenômenos como o tornado no Paraná podem se tornar cada vez mais comuns. Ele aponta que a formação de tornados está diretamente ligada a grandes diferenças de pressão atmosférica, causadas por massas de ar com propriedades muito distintas, como a temperatura. O contexto das **mudanças climáticas**, no entanto, acentua drasticamente essas disparidades, elevando consideravelmente a probabilidade de eventos extremos se materializarem com maior intensidade. A relação entre **mudança climática e tornados** é, portanto, de intensificação e de uma potencial maior ocorrência, demandando atenção global.
Ainda segundo os especialistas, as mudanças na dinâmica climática global intensificam a complexidade e o impacto desses fenômenos naturais. O aquecimento global proporciona condições atmosféricas mais energéticas, gerando ambientes propícios para tempestades mais violentas e, consequentemente, a formação de tornados com maior frequência e severidade. A compreensão profunda desses mecanismos é crucial para o desenvolvimento de estratégias de mitigação e adaptação que protejam comunidades vulneráveis e infraestruturas essenciais.
As repercussões econômicas e sociais de eventos como o tornado em Rio Bonito do Iguaçu são imensuráveis. Além dos danos materiais e das perdas de vidas ou feridos, há um impacto duradouro na saúde mental das comunidades atingidas, na economia local e na segurança alimentar, especialmente em regiões que dependem da agricultura, como apontou Astrini para o cenário brasileiro. Diante disso, o diálogo na COP-30 deve transceder a retórica e se transformar em compromissos palpáveis e recursos significativos para a transição energética e o apoio a países mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas.
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Diante de eventos climáticos cada vez mais intensos e frequentes, como o observado no Paraná, a discussão sobre a adaptação e resiliência de nossas cidades torna-se primordial para a segurança e o futuro da população. É fundamental que a sociedade esteja informada e engajada na busca por soluções sustentáveis. Para compreender mais sobre os desafios e avanços na gestão urbana frente a fenômenos naturais e outros temas relevantes para o dia a dia, explore outros conteúdos em nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Ari Dias/AEN

