As discussões sobre **justiça climática e combate à desinformação** ocuparam o centro dos debates durante o renomado Festival Nosso Futuro, realizado na cidade de Salvador, na Bahia. Em um ambiente vibrante, onde as vozes de especialistas e jovens se cruzaram, a sustentabilidade e a importância de uma governança ambiental justa foram os temas preponderantes, amplificados pelas ondas do rádio e pela efervescência da internet.
A capital baiana se transformou no palco de uma notável intersecção de ideias, recebendo a jornalista francesa Valérie Nivelon, que, diretamente do local do fórum, realizou uma gravação para seu programa. Distanciando-se do habitual estúdio em Paris, Nivelon conduziu um debate enriquecedor com a presença marcante do público e de diversos convidados, registrando a essência das conversas que permearam o evento. Essa edição especial, veiculada na França neste sábado, 8 de novembro de 2025, concentrou-se nos obstáculos persistentes que moldam as relações entre Brasil, França e as nações do continente africano, enfatizando a necessidade de uma colaboração mais profunda e equitativa.
Justiça Climática e Desinformação em Fórum na Bahia: A Influência do Pensamento Crítico
O impacto do pensamento crítico reverberou logo no início da gravação, com a potente voz do filósofo e historiador camaronês Achille Mbembé. Sua fala pré-gravada, reproduzida para o auditório presente, marcou a atmosfera do evento. Mbembé, conhecido internacionalmente como o autor da expressão “necropolítica” – um conceito que examina a intrínseca relação entre o poder político e a prerrogativa de determinar quem pode viver e quem deve morrer –, não pôde comparecer pessoalmente ao fórum por razões particulares, mas sua mensagem ressoou com intensidade, enfatizando a vitalidade da conexão com a vida. Ele salientou, de maneira urgente, a importância de uma relação harmoniosa e protetiva com a natureza e, em especial, com os ecossistemas florestais, defendendo a preservação ambiental como um pilar fundamental para qualquer debate sobre justiça climática. Ademais, o pensador reforçou a necessidade de se garantir proteção integral às comunidades mais vulneráveis, como as populações rurais e quilombolas, que historicamente são as mais afetadas pelos impactos das mudanças ambientais e frequentemente são as menos representadas nos processos decisórios.
Diálogo Global: Vozer Pelo Clima e Sustentabilidade
O Festival Nosso Futuro promoveu uma série de diálogos enriquecedores, com a participação de distintas personalidades. Karim Bouamrane, o prefeito da cidade de Saint-Ouen; Ileana Santos, fundadora da iniciativa “Je m’engage pour l’Afrique” (Eu me comprometo pela África); e a curadora Zola Chichmintseva-Kondamamdou contribuíram para ampliar as perspectivas internacionais sobre os temas debatidos. O painel também contou com a presença e a experiência da jornalista Dríade Aguiar, cuja perspectiva sobre a realidade brasileira trouxe uma dimensão crucial às discussões. A pluralidade de visões e a diversidade de backgrounds dos participantes sublinharam o caráter multifacetado e transnacional dos desafios relacionados à sustentabilidade e à equidade ambiental. Cada um dos participantes trouxe à tona questões específicas de suas regiões de atuação, enriquecendo o panorama sobre como diferentes culturas e sistemas sociais lidam com as emergências climáticas e as tentativas de promover justiça em escala global.
Racismo Ambiental e o Papel Essencial das Comunidades Quilombolas
Para Dríade Aguiar, cofundadora da Mídia Ninja e a única voz brasileira no programa de rádio francês, a pauta do racismo ambiental no Brasil é inegavelmente crucial. Ela destacou que a discussão aprofundada desse fenômeno é fundamental para assegurar a defesa plena dos direitos e da existência dos povos quilombolas, que enfrentam, rotineiramente, a invisibilidade e a marginalização dentro da agenda ambiental dominante. A comunicadora pontuou que, apesar de serem guardiões ancestrais de territórios e práticas que sustentam uma relação de profundo respeito e sacralidade com a natureza, a presença e a participação desses grupos não são convocadas com a devida frequência e consideração nas esferas de decisão. Segundo Dríade, as comunidades quilombolas, juntamente com as religiões de matriz africana, representam um modelo de vida que concebe a natureza não apenas como um recurso, mas como um elemento sagrado e vital. Na prática, tais comunidades emergem como verdadeiros baluartes na proteção ambiental e sustentam os princípios basilares da justiça climática, reiterou ela. Para a jornalista, que seguirá para a COP30 em Belém no final de semana, o momento exige aprofundar os laços e o diálogo entre Brasil e África. Apenas assim será possível edificar territórios verdadeiramente mais justos e ecologicamente sustentáveis. Dríade Aguiar argumenta que as propostas de construção de novos arranjos territoriais e sociais deveriam trilhar um caminho mais convergente: em vez de apenas o Brasil discutir a África de um ponto de vista externo, é imperativo que haja um reconhecimento genuíno do espelho, do encontro e da continuidade que permeia as culturas e os povos de ambos os lados do Atlântico.
Embora a jornalista brasileira reconheça os significativos progressos do Brasil nas últimas décadas em temas de combate ao racismo e à conscientização racial – citando como exemplo a promulgação de leis que garantem o ensino da cultura afro-brasileira nas instituições de ensino –, ela enfatiza a urgência de aprofundar a valorização da herança cultural africana. Este esforço é particularmente vital para as novas gerações, que são chamadas a serem agentes de transformação. Aguiar concluiu suas reflexões com uma nota de otimismo em relação à juventude, destacando o vigor e o discernimento que vêm observando entre jovens tanto em pequenas cidades francesas quanto em diversas nações africanas. Ela afirmou que essa nova geração compreendeu que não são meramente o “futuro”, mas o “presente”, atuando de forma incisiva e imediata em causas cruciais como a crise climática, as pautas de moradia e o direito fundamental de pertencer e de ir e vir.
Juventude Conectada: Informação e Engajamento Ambiental
Após as discussões transmitidas pelo rádio, a pauta ambiental ganhou ainda mais força e dimensão no universo digital. O Festival Nosso Futuro, que reuniu jovens de, no mínimo, três continentes distintos, teve como destaque a presença visível de um grupo de estudantes, tanto brasileiros quanto franceses, identificados com o crachá de “Repórter”. Esse coletivo juvenil faz parte de uma ampla mobilização, resultado de ações colaborativas entre os governos do Brasil e da França, com o propósito de empoderar a juventude na disseminação de informações. A estratégia visa capacitá-los para que possam compartilhar conhecimentos e notícias relevantes a partir de suas próprias realidades e territórios. Um exemplo marcante desse engajamento é a estudante Brenda Batista, de apenas 16 anos. Membro ativa da Agência de Notícias Estudantil Voz Ativa, ela contribui não só com conteúdos educacionais, mas também veicula informações essenciais sobre serviços comunitários. A experiência tem sido, segundo ela, “uma oportunidade incrível para aprender várias coisas e levar informações para outras pessoas também”, demonstrando o impacto transformador da iniciativa. Brenda, que é aluna da Escola Estadual Clarice Santiago dos Santos, localizada em Salvador, integra um grupo de aproximadamente 20 estudantes oriundos de diversos municípios baianos e da cidade francesa de Saint-Ouen. Estes jovens tiveram suas primeiras incursões no combate à desinformação no próprio Festival Nosso Futuro e agora se preparam para aplicar seus conhecimentos e habilidades de forma prática durante a próxima Conferência do Clima na Amazônia (COP30).

Imagem: pessoal via agenciabrasil.ebc.com.br
O Projeto MidiaCop e a Capacitação Midiática da Nova Geração
A iniciativa, nomeada MidiaCop, é um projeto de grande relevância financiado pela Embaixada da França no Brasil, voltado para a capacitação de professores e estudantes. A implementação do projeto no país está sendo coordenada pelo CLEMI – Le Centre Pour L’éducation Aux Médias et à L’information (Centro para Educação de Mídias e Informações, em tradução livre) – em colaboração direta com o governo brasileiro. Durante um debate mediado na sexta-feira, 7 de novembro de 2025, Lucas Chevalier, representante do CLEMI, enfatizou a importância estratégica da produção de conteúdo midiático. Segundo Chevalier, o desenvolvimento de narrativas e a criação de materiais informativos que emergem dos próprios territórios de jovens e estudantes configuram-se como uma das formas mais potentes e eficazes de enfrentar e combater a crescente onda de desinformação na sociedade contemporânea. Essa perspectiva é amplamente compartilhada pela coordenadora-geral de Comunicação Midiática da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Mariana Filizola. Em sua intervenção no evento, Filizola destacou que a premissa central da parceria firmada entre os dois países é promover um intercâmbio de experiências bem-sucedidas. O objetivo maior é o fortalecimento contínuo das democracias através da comunicação e do empoderamento cívico. Ela salientou a potência intrínseca que surge “quando pessoas com o mesmo objetivo se unem por um propósito”, referindo-se à sinergia entre os atores envolvidos. Questionada sobre qual carreira gostaria de seguir, a jovem estudante baiana Brenda Batista respondeu com convicção e clareza: “Jornalista, claro!”. Essa declaração encapsula a aspiração e o entusiasmo da nova geração em ser parte ativa da construção de uma sociedade mais informada e justa, utilizando o poder da comunicação como ferramenta de transformação.
O Festival Nosso Futuro: Legado de 200 Anos de Cooperação
O Festival Nosso Futuro, ocorrido em Salvador, integrou-se às comemorações dos 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e a França, evidenciando a solidez e a importância dessa parceria. Até o sábado, 8 de novembro de 2025, a capital baiana foi palco de uma rica tapeçaria de eventos que abrangeu atividades culturais, demonstrações gastronômicas, exposições de arte e oficinas práticas. O encontro reuniu ativistas engajados, artistas inovadores e empreendedores com um propósito comum: edificar territórios mais justos, sustentáveis e resilientes. A predominância de jovens – oriundos da França, do Brasil e de diversas nações africanas – reforçou a vitalidade da pauta ambiental. Esses participantes, visivelmente preocupados com o destino do planeta diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, representaram a força motriz do festival. O evento não só celebrou o bicentenário da relação bilateral, mas também serviu como uma plataforma essencial para a troca de ideias e o fomento de projetos colaborativos, que se revelam cada vez mais necessários para a construção de um futuro equitativo e sustentável para todos.
Os diálogos promovidos no Festival Nosso Futuro reiteram a complexidade e a urgência da justiça climática e do combate à desinformação, apontando para a juventude como um pilar fundamental nessa construção. O intercâmbio entre Brasil e França, focado na capacitação e no engajamento cívico, demonstra um caminho promissor para enfrentar os desafios globais do nosso tempo.
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Crédito da imagem: Adrielen Alves/EBC


