Expansão de Facções Aumenta Criminalidade no Interior

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A **expansão de facções criminosas no interior** do Brasil tem se consolidado como um dos desafios mais urgentes para a segurança pública, impactando diretamente os níveis de criminalidade em cidades de médio e pequeno porte. Conforme revelado pelo abrangente Atlas da Violência 2025 – Retrato dos municípios brasileiros e dinâmica regional do crime organizado, divulgado na última sexta-feira, 7 de junho, a interiorização da violência letal é um fenômeno marcante. O estudo, fruto da colaboração entre o respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aponta para uma preocupante redistribuição da violência que antes era predominantemente concentrada nos grandes centros urbanos.

Este cenário multifacetado demonstra uma dinâmica inversa em relação ao que se observa em muitas capitais e metrópoles brasileiras. Enquanto cidades maiores implementaram e colheram os frutos de estratégias eficazes de combate ao crime nas últimas décadas, alcançando significativas reduções nos índices de violência letal, municípios menores se tornaram o novo palco para as disputas territoriais e as operações das organizações criminosas. Este deslocamento exige uma reavaliação das abordagens de segurança em âmbito nacional.

Expansão de Facções Aumenta Criminalidade no Interior

Dados recentes do Atlas confirmam essa tendência ao destacar a expressiva diminuição das taxas de homicídios em metrópoles como Fortaleza, São Luís, Goiânia, Cuiabá e o Distrito Federal. Essas regiões apresentaram declínios superiores a 60% entre os anos de 2013 e 2023. Tal avanço, contudo, contrasta drasticamente com a crescente escalada da criminalidade e das rivalidades entre grupos criminosos em diversas cidades médias e no interior, especialmente notáveis nas regiões Norte e Nordeste. Nestas localidades, os episódios de violência que anteriormente se limitavam às grandes áreas urbanas, agora se manifestam com frequência alarmante.

Interiorização da Violência e as Facções

A pesquisa ressalta dois fatores cruciais que explicam essa dinâmica. Primeiramente, o êxito de grandes centros em conter a letalidade homicida. Em segundo lugar, e talvez o mais preocupante, a intensificação da interiorização do crime, que tem feito com que cidades de menor porte experienciem um aumento considerável na violência letal. Este movimento demonstra a adaptabilidade e a resiliência das redes criminosas, que buscam novos territórios para expandir suas operações e disputar o controle de mercados ilícitos.

Apesar da clara ampliação geográfica da atuação das facções, o relatório traz uma informação positiva: o Brasil tem testemunhado uma continuada redução nos números gerais de homicídios no país, uma tendência perceptível desde 2018. Essa queda nacional se intensifica quando observamos estados como São Paulo, que há mais de duas décadas registram declínio ininterrupto nas mortes por causas violentas. Essa discrepância regional, no entanto, sinaliza que as políticas públicas precisam ser ajustadas para lidar com as realidades locais.

Panorama da Expansão das Facções pelo Brasil

O Atlas da Violência 2025 oferece um mapeamento detalhado da presença das facções criminosas, indicando que estes grupos atuam em todas as unidades federativas, mas com níveis de intensidade distintos. Em determinados estados, a coexistência de múltiplas facções fomenta confrontos territoriais severos e fatais. Na Bahia, por exemplo, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) se aliam a organizações locais, como o Bonde do Maluco e o Comando da Paz, gerando intensas disputas pelo domínio territorial. Cenário semelhante se verifica em Pernambuco, onde ao menos 12 facções em conflito contribuem para as elevadas taxas de homicídio do estado.

Outros exemplos alarmantes são o Amazonas e o Amapá. Nesses estados, as confrontações entre o CV, o PCC e grupos regionais, incluindo a Família Terror do Amapá e o Cartel do Norte, são a força motriz por trás das crescentes ondas de violência, sobretudo em cidades médias e portuárias consideradas estratégicas. A documentação aponta que a dinâmica nesses locais reflete a importância logística e econômica que essas áreas adquirem para as atividades ilícitas.

Em contraste, outras regiões do país apresentam um panorama diferente, onde os conflitos por território são menos intensos, revelando uma convivência relativamente estável entre os grupos rivais. Em São Paulo, por exemplo, o cenário é de uma espécie de “pacificação” da violência, resultante do domínio consolidado dos mercados ilegais por uma única e poderosa organização criminosa, o PCC. Minas Gerais exibe uma realidade análoga, com a presença de diversas facções fragmentadas, mas com um menor grau de confronto aberto. Em Santa Catarina, a atuação do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) ocorre em um contexto de violência mais controlada e pontual.

Estratégias Diversas dos Grupos Criminosos

O Atlas da Violência 2025 também ilumina a diversidade de estratégias adotadas pelos grupos criminosos. O relatório sublinha que organizações com estruturas mais robustas e orientadas ao lucro tendem a mitigar o uso de violência ostensiva, priorizando operações mais discretas e econômicas. Em contrapartida, grupos menores e mais fragmentados recorrem com maior frequência a confrontos armados. Essa tática é empregada para afirmar seu poder e consolidar o controle territorial, indicando uma distinção clara entre os métodos de expansão e manutenção do domínio entre os diferentes atores criminais.

Infiltração do Crime em Atividades Lícitas e na Gestão Pública

Um dos alertas mais críticos emitidos pelo levantamento diz respeito à crescente infiltração do crime organizado em atividades produtivas lícitas e na gestão pública. O documento afirma que este fenômeno representa uma grave ameaça ao Estado Democrático de Direito, dada a expansão das facções para a esfera política, para setores econômicos legítimos e para o controle de contratos e da própria administração pública. Para os autores do Atlas, esta expansão econômica e institucional das organizações criminosas configura uma das faces mais perigosas e insidiosas do crime organizado contemporâneo, exigindo respostas complexas e integradas.

Na contramão dessa expansão criminosa, o relatório também identifica progresso em políticas públicas de segurança. Essa “revolução invisível na segurança pública”, como os especialistas a descrevem, tem ganhado força desde a década de 2010. Ela se manifesta através da integração de ações preventivas, qualificação policial e do uso estratégico da inteligência. Tal transformação, que se espalha por cada vez mais estados e municípios, busca uma abordagem mais eficaz e sistêmica para o enfrentamento da criminalidade, evidenciando que há caminhos para reverter o cenário.

Expansão de Facções Aumenta Criminalidade no Interior - Imagem do artigo original

Imagem: Tânia Rêgo via agenciabrasil.ebc.com.br

Análise Detalhada dos Dados de Homicídios

Ao detalhar os dados de homicídios, o Atlas da Violência 2025 oferece uma análise segmentada por tamanho populacional. Em 2023, municípios grandes (com mais de 500 mil habitantes) registraram uma taxa média de 23,6 homicídios por 100 mil habitantes. Já as cidades médias (entre 100 mil e 500 mil habitantes) apresentaram uma taxa média de 24,2 por 100 mil. As cidades pequenas (com até 100 mil habitantes) tiveram uma taxa média de 20 homicídios por 100 mil habitantes, consolidando a preocupante interiorização.

Os números demonstram ainda que os 20 municípios mais violentos do Brasil, em média, possuíam uma população de 330 mil habitantes e uma taxa média estimada de 65,4 homicídios, o que representa quase o triplo da média nacional. Em contraste, a média das taxas de homicídio estimadas nos 20 municípios com menor letalidade era de 3,8. Comparativamente, a prevalência de homicídios no grupo mais violento foi 17 vezes maior do que no grupo menos violento, uma diferença que supera a relação entre a taxa de homicídios do Brasil e da Europa, onde essa proporção é de 10,4 vezes.

O levantamento aponta também que em 1.548 (29,6%) dos 5.237 municípios classificados como pequenos, nenhum homicídio foi estimado, seja registrado ou oculto. Entre as cidades de tamanho médio, foram identificadas 10 com taxas superiores a 60 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto 51 apresentaram taxas menores que 10 homicídios estimados. No grupo das 46 grandes cidades, oito registraram taxas inferiores a 10, consolidando a tendência de declínio nestes centros.

Crítica à Operação Contenção no Rio de Janeiro

Uma crítica significativa no Atlas da Violência 2025 é direcionada ao governo do Rio de Janeiro, em virtude da “Operação Contenção”, realizada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão. O relatório conclui que muitos governos continuam a oferecer à sociedade ações que, supostamente soluções para o crime organizado, contribuem negativamente para a segurança pública. Um exemplo é o “espetáculo midiático” da referida operação. Moradores, familiares e representantes da sociedade civil se reuniram em Vila Cruzeiro em 31 de outubro de 2025 para manifestar repúdio aos 121 mortos em decorrência da ação policial. Essa dinâmica de incursões violentas nas comunidades tem se repetido há pelo menos quatro décadas, sem qualquer efetividade na redução do poder de facções como o CV, e muitas vezes gerando o efeito inverso. A operação em questão resultou na morte de 121 pessoas, na apreensão de 118 armas e na prisão de 113 indivíduos, dos quais 54 possuíam anotação criminal.

Reflexos Sociais e o Custo da Violência

O estudo aprofunda-se nos custos sociais da Operação Contenção, que vão muito além da trágica perda de vidas humanas, incluindo a de quatro policiais. Os danos materiais, a destruição de valores econômicos – com impactos diretos no comércio, transporte, escolas e postos de saúde – paralisaram virtualmente o Rio de Janeiro. Além disso, as cenas de guerra certamente intensificaram a sensação de insegurança, prometendo reflexos adversos no futuro. A crítica é acompanhada pela fotografia de Tânia Rêgo/Agência Brasil, que ilustrou os protestos em resposta a estes eventos, realçando a profunda dor social.

O Atlas aponta que, entre os mortos, 39 eram oriundos de outros estados, e possivelmente integrantes do Comando Vermelho (CV). Este dado suscita dois pontos de atenção cruciais. Primeiramente, a existência de trabalho remoto e a integração nacional das maiores redes criminosas sublinham a urgente necessidade de uma ampla interoperabilidade e integração entre as agências do sistema de segurança pública do país. Em segundo lugar, as autoridades precisam estar atentas à repercussão que essas mortes podem provocar sobre o mercado criminal e eventuais disputas por poder, sobretudo em estados como Pará, Amazonas, Bahia, Ceará e Goiás.

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O cenário da criminalidade no Brasil, conforme o Atlas da Violência 2025, evidencia um paradoxo entre a queda de homicídios em grandes capitais e a preocupante **expansão de facções criminosas no interior** do país. Os dados reforçam a urgência de políticas de segurança pública mais estratégicas e contextualizadas regionalmente para combater a **criminalidade no interior** e a infiltração do crime organizado em esferas lícitas. Para continuar a aprofundar a compreensão sobre os desafios urbanos e a segurança pública nas cidades do país, mantenha-se atualizado com nossa editoria. Continue acompanhando nossas análises para uma visão completa do tema.

Crédito da imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil, Tânia Rêgo/Agência Brasil

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