Uma sofisticada rede de produção e distribuição de fuzis clandestinos foi desmantelada, revelando que armamentos fabricados em território nacional, especificamente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, abastecem o arsenal do Comando Vermelho e outras facções criminosas no Rio de Janeiro. A descoberta é fruto de uma investigação aprofundada que inclui imagens inéditas obtidas pelas autoridades policiais, expondo o funcionamento dessas fábricas secretas.
Recentemente, a Polícia do Rio de Janeiro executou uma operação de grande envergadura no Complexo do Alemão, culminando na maior apreensão de fuzis em uma única ação em favelas: um total de 91 armas de fogo. Esses armamentos, com calibres capazes de perfurar coletes à prova de balas e estruturas físicas, evidenciavam a capacidade bélica do grupo criminoso. Embora muitas dessas armas cheguem ao Brasil via rotas de fronteira com o Paraguai ou através da Amazônia, as novas apurações indicam uma fonte interna crucial para o abastecimento do Comando Vermelho, desviando a atenção da mera importação.
Fuzis Clandestinos de SP e MG Abastecem o Comando Vermelho
As investigações, conduzidas pela delegacia de repressão a drogas da Polícia Federal (PF), desvelaram um intrincado esquema. Rafael Xavier do Nascimento, um dos operadores da quadrilha, realizava transportes de fuzis de São Paulo para o Complexo do Alemão, outras comunidades da zona norte do Rio de Janeiro e áreas controladas por milícias, com frequência mensal. A prisão em flagrante de Nascimento na Via Dutra, onde foram apreendidos 13 fuzis em seu poder, foi um ponto de virada, pois o exame de seu telefone celular revelou uma série de mensagens com o destinatário final do armamento de guerra.
O epicentro da produção ilícita estava localizado em Santa Bárbara d’Oeste, no interior paulista. Esta fábrica não era um mero improviso, mas uma “planta industrial profissional”, conforme descrito pelo delegado Samuel Escobar. A estrutura operava com pelo menos 11 equipamentos industriais de alta precisão, como tornos e fresadores, que custariam milhões de reais. No local, a PF encontrou aproximadamente 150 fuzis já montados e mais de 30 mil peças avulsas. A estimativa dos investigadores aponta que essa linha de montagem possuía capacidade para produzir até 3.500 fuzis anualmente.
Um outro elo crucial nesta rede criminosa era Anderson Custódio Gomes, que integrava o núcleo operacional. Imagens obtidas pela PF mostram Gomes sendo preso em flagrante junto a um comparsa, enquanto transportava um volume de peças suficiente para a fabricação de 80 fuzis. Eles se deslocavam da fábrica com destino a um depósito da quadrilha situado na cidade de Americana, também em São Paulo. Para camuflar suas atividades ilícitas, a fachada utilizada pela organização criminosa era um CNPJ registrado como uma fábrica de peças aeronáuticas. A propriedade estava em nome do piloto de avião Gabriel Carvalho Belchior, que ganhou as manchetes em 2015 quando a aeronave que pilotava sofreu um acidente e caiu no mar na Praia do Leblon, no Rio.
Conexões Internacionais e Desvios na Rede de Abastecimento
Antes da operação da PF no início do mês passado, Gabriel Belchior já havia saído do Brasil. Em uma mensagem de voz destinada a um familiar, ele afirmava estar nos Estados Unidos. A investigação da PF indicou que Belchior estava envolvido no envio de fuzis desmontados para o Brasil, camuflados dentro de caixas de piscinas infláveis e outras mercadorias. Os itens eram comprados nos Estados Unidos e entregues em uma residência alugada por ele na Flórida, para serem posteriormente despachados ao Brasil. Em agosto, uma remessa similar foi interceptada pela Receita Federal. Belchior encontra-se atualmente foragido e seu nome foi incluído na lista de procurados pela Interpol.
É relevante destacar que o modelo de fuzil enviado por Belchior do exterior difere dos armamentos produzidos na fábrica clandestina em Santa Bárbara d’Oeste. Segundo o delegado Samuel Escobar, “o principal investigado no Rio de Janeiro recebia esses fuzis e vendia para a facção criminosa aqui no Rio de Janeiro”. Esse investigado é Silas Diniz Carvalho, que já havia sido preso em 2023, após ser flagrado com 47 fuzis em seu apartamento na Barra da Tijuca. A Polícia Federal conseguiu desvendar que Silas Carvalho também coordenava outra fábrica ilegal em Belo Horizonte.

Imagem: g1.globo.com
A esposa de Silas, Marcely Ávila Machado, possuía participação ativa na rotina de produção da unidade de Belo Horizonte. A descrição dos investigadores aponta que “parecia uma fábrica normal, comum, uma fábrica de móveis, de esquadrias, de portas, mas dentro da fábrica, no interior tinha toda a operação ilícita”. A estimativa é que essa indústria bélica clandestina tenha fornecido cerca de mil fuzis para facções do Rio de Janeiro, com destino não apenas ao Complexo do Alemão, mas também à Rocinha e ao Complexo da Maré, além de abastecer grupos de milicianos. A quadrilha também expandia suas operações, fornecendo armas para facções nos estados da Bahia e Ceará.
A perícia nos mais de 90 fuzis apreendidos na megaoperação contra o Comando Vermelho será realizada pela Polícia Civil do Rio. Pelo menos 25 das armas correspondiam à plataforma AR-15, calibre 556, exatamente o tipo produzido em Santa Bárbara d’Oeste, solidificando a ligação entre as fábricas clandestinas e as apreensões. Segundo dados do Instituto Sou da Paz, o número de fuzis apreendidos no Rio de Janeiro teve um aumento significativo de 32% entre os anos de 2019 e 2023, um dado alarmante que corrobora a gravidade do cenário do tráfico de armas no país. A produção do Fantástico não conseguiu estabelecer contato com a defesa de Silas Diniz Carvalho e de Anderson Custódio Gomes, que estão detidos. Da mesma forma, não foi possível localizar Marcely Ávila Machado e Gabriel Carvalho Belchior, este último seguindo foragido da justiça.
Para aprofundar seu entendimento sobre operações de combate ao crime organizado no Brasil, que desempenham um papel crucial na segurança pública, você pode consultar informações detalhadas em portais oficiais de notícias e instituições. Para contextualizar, operações da Polícia Federal são regularmente destacadas pela mídia e agências governamentais, como a Agência Brasil.
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As revelações sobre as fábricas clandestinas que produzem fuzis em SP e MG e abastecem facções como o Comando Vermelho no Rio sublinham a complexidade do desafio enfrentado pelas forças de segurança. Esta notícia reforça a urgência de investigações contínuas e ações coordenadas para desmantelar esses esquemas que alimentam a criminalidade no Brasil. Para mais análises e desenvolvimentos sobre política e segurança pública, continue acompanhando as atualizações em nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Arte/g1



