A trajetória de Daniel Ferraz, absolvido da acusação de participação no que foi classificado como o maior assalto a banco da história do Brasil, toma um rumo inesperado. A Justiça de São Paulo o inocentou das denúncias de envolvimento na complexa construção de um túnel que objetivava atingir o cofre principal do Banco do Brasil. Diante da dificuldade em reingressar no mercado de trabalho formal após sua saída da prisão, Ferraz, hoje morador de Guarujá, litoral paulista, dedicou-se à carreira de criador de conteúdo digital, compartilhando sua paixão por veículos e interagindo com uma vasta audiência nas redes sociais.
Em uma declaração emocionada ao portal G1, o agora influenciador expressou o profundo alívio em ter seu nome limpo após um processo tão desgastante, ressaltando a importância da absolvição para apagar o que ele descreveu como uma “mancha” em seu histórico. Contudo, Daniel Ferraz lamentou as irreversíveis consequências em sua vida pessoal e profissional. Ele contou ter investido consideravelmente em sua formação, com um curso superior em Engenharia Civil e aprimoramento de inglês no exterior, mas enfrentou portas fechadas em todas as tentativas de emprego, evidenciando o estigma persistente de seus antecedentes criminais. “Quando as pessoas veem os meus antecedentes criminais, já me excluem”, desabafou, refletindo sobre o preconceito vivenciado.
Absolvido de assalto ao Banco do Brasil, Daniel Ferraz vira influenciador
A trama que envolvia Daniel Ferraz teve seu início em outubro de 2017, quando a polícia desmantelou uma megaoperação criminosa em andamento. Foi nesse período que o túnel, que se estendia por metros sob a terra até o Banco do Brasil na Zona Sul da capital paulista, foi descoberto pelas autoridades. As investigações, lideradas pelo delegado Fábio Pinheiro Lopes, revelaram a grandiosidade do plano, com a organização criminosa visando um montante que poderia alcançar R$ 1 bilhão. Na ocasião, o delegado Lopes enfatizou a magnitude do esquema, afirmando que a ação, caso fosse concretizada, “seria o maior assalto do mundo”. O túnel, uma obra de engenharia clandestina, chocou a opinião pública pela sofisticação e ambição dos criminosos envolvidos.
Daniel Ferraz não foi detido no momento inicial da descoberta do túnel. Sua prisão, que o ligou ao caso, ocorreria anos mais tarde, em 2020. Naquela ocasião, o homem, agora com 32 anos, foi preso em flagrante sob a acusação de porte ilegal de arma e de envolvimento em um roubo a residência. Passou cerca de dois meses detido por estas imputações. De maneira significativa, Daniel Ferraz também seria subsequentemente absolvido de ambas as acusações por ausência de provas consistentes, conforme destacado pelo próprio influenciador. Durante o período de encarceramento, ele narrou uma fase de extrema angústia e fragilidade. “Mesmo negando o conhecimento dessa arma, o delegado me encaminhou ao presídio. Lá, fiquei doente e pedia para Deus, que se fosse para ser preso por um crime que não cometi, para ele me recolher e me levar com ele”, relatou. O custo emocional e financeiro de sua defesa impactou diretamente sua família, com sua mãe de 70 anos utilizando todas as suas economias para arcar com os honorários advocatícios. Esse investimento financeiro, somado aos gastos com sua formação acadêmica e profissional, parecem hoje inalcançáveis para colher os frutos.
As esperanças de Ferraz de uma vida mais tranquila e distante das salas de Justiça foram abruptamente interrompidas. Segundo seu depoimento, após a absolvição dos processos anteriores de porte ilegal de arma e roubo a residência, uma nova e grave acusação surgiu: seu envolvimento direto na construção do túnel do Banco do Brasil. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um novo processo e expediu um novo mandado de prisão contra ele, reacendendo o tormento em sua vida. “[Depois de ser absolvido dos outros dois processos], o delegado apresentou mais uma acusação, que eu estava envolvido no caso da maior [tentativa de] ‘roubo do mundo’ e aí um novo processo foi dado início, um novo mandato de prisão foi expedido, meu mundo caiu novamente”, recordou Ferraz, descrevendo o abalo.
A nova acusação contra o ex-detento, apresentada pelo Ministério Público, fundamentava-se na apreensão de uma luva na residência que foi alvo do roubo ao qual Daniel Ferraz havia sido inocentado. O advogado Marcos Jesuino Junior, defensor do influenciador, explicou que este item foi submetido a uma combinação genética. As autoridades utilizaram amostras biológicas da luva para cotejar com o DNA de uma escova de dentes encontrada no túnel escavado em direção ao banco. O laudo técnico forense resultante indicou uma impressionante probabilidade superior a 99,9% de compatibilidade entre os materiais genéticos, constituindo a principal peça da nova acusação contra Ferraz no que tange ao maior assalto do mundo.
O ponto crucial para a nova absolvição de Daniel Ferraz veio do veredito proferido pelo juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa, Lavagem de Bens e Valores da Capital. Em sua decisão mais recente, emitida no dia 23 do mês passado, o magistrado considerou improcedente o pedido de condenação feito pelo Ministério Público de São Paulo. A fundamentação judicial para a absolvição foi a insuficiência de provas concretas para amparar uma sentença condenatória. O juiz Kellner explicitou que a base da acusação do MP-SP se apoiava exclusivamente na coincidência genética de um material biológico (a luva) obtido em um processo distinto no qual o próprio influenciador já havia sido anteriormente absolvido. Além disso, a decisão destacou que a prova da real posse e pertencimento da luva a Daniel Ferraz foi considerada inconclusiva, o que enfraqueceu substancialmente a tese acusatória. A absolvição de Ferraz ressalta a importância de um processo legal justo, onde o princípio da presunção de inocência, fundamental no sistema jurídico brasileiro, deve ser rigorosamente aplicado, conforme preceitos encontrados no portal do Conselho Nacional de Justiça. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) optou por não emitir comentários acerca de decisões judiciais, mantendo sua postura institucional.
Após a reviravolta judicial, Daniel Ferraz busca um novo propósito e reconhecimento longe das páginas policiais, construindo uma identidade pública através das redes sociais. Com uma audiência que já supera os 100 mil seguidores, ele utiliza suas plataformas para compartilhar sua profunda paixão por veículos motorizados, desde motocicletas e carros até embarcações marítimas. No entanto, mesmo com o crescente engajamento em sua nova carreira como criador de conteúdo, Daniel Ferraz ainda lamenta a persistente discriminação em seu cotidiano. A vivência anterior continua a gerar estereótipos, conforme ele relata: “Na rua, não consegui emprego e sou discriminado até hoje. Quando sou abordado pela polícia, pensam que eu sou um criminoso”, destacou Ferraz, evidenciando as barreiras sociais que persistem, mesmo após a comprovação de sua inocência.
Confira também: Imoveis em Rio das Ostras
A história de Daniel Ferraz serve como um espelho das complexas facetas da justiça e do impacto indelével das acusações, mesmo quando culminam em absolvição. Sua jornada de acusado de um dos maiores assaltos a influenciador digital reflete a luta pela ressocialização e pelo reconhecimento social em um cenário de estigma. Para se aprofundar em outras notícias de grande impacto ou desafios sociais enfrentados em grandes centros urbanos, convidamos você a explorar mais reportagens em nossa editoria de Cidades.
Crédito da imagem: Arquivo Pessoal e Reprodução/TV Globo

Imagem: g1.globo.com



