Demissões na Amazon e Big Tech: IA ou Fatores Econômicos?

Últimas Notícias

As demissões na Amazon e em outras proeminentes empresas do setor de tecnologia estão no centro das discussões sobre o futuro do mercado de trabalho. Recentemente, a gigante do e-commerce, Amazon, anunciou planos de cortes que impactarão milhares de postos de trabalho globalmente, totalizando aproximadamente 14 mil cargos. Essa notícia reacendeu um debate de longa data: até que ponto a inteligência artificial (IA) é responsável pela substituição de mão de obra humana?

A decisão da Amazon, divulgada na terça-feira (28), a coloca ao lado de um grupo crescente de corporações americanas que mencionam o avanço da IA como um fator preponderante nas reestruturações. No entanto, especialistas questionam a atribuição exclusiva à tecnologia, levantando a dúvida sobre se as demissões em larga escala, observadas atualmente, realmente sinalizam um impacto direto e abrangente da inteligência artificial sobre o emprego, ou se outros elementos estão em jogo.

Demissões na Amazon e Big Tech: IA ou Fatores Econômicos?

Empresas de diversos setores já anunciaram cortes substanciais, relacionando-os, em alguma medida, com o surgimento e aprimoramento da IA. A Chegg, por exemplo, especializada em educação online, citou as “novas realidades” trazidas pela inteligência artificial ao informar, na segunda-feira (27), uma redução de 45% em sua força de trabalho. Da mesma forma, no mês passado, quando a Salesforce, que oferece softwares de computação em nuvem, eliminou cerca de 4 mil postos de atendimento ao cliente, seu diretor-executivo indicou que agentes de IA já estavam realizando essas funções. A gigante logística UPS, por sua vez, anunciou na terça-feira cortes de 48 mil empregos desde o ano anterior, com sua presidente ligando parte dessas demissões ao uso de aprendizado de máquina (machine learning).

Contudo, a análise de tais declarações por executivos durante períodos de corte pode ser enganosa para se determinar os reais efeitos da inteligência artificial no emprego, conforme argumenta Martha Gimbel, diretora-executiva do Budget Lab, centro de pesquisa econômica da Universidade de Yale. Segundo ela, as dinâmicas internas e particularidades de cada empresa frequentemente são os principais motores dessas decisões. “Existe uma propensão considerável, motivada pelo medo generalizado sobre o impacto futuro da IA no mercado de trabalho, a supervalorizar anúncios de demissões pontuais por parte das empresas”, explica Gimbel.

Estudos indicam que alguns grupos profissionais podem ser mais vulneráveis à rápida adoção da tecnologia, como recém-formados e trabalhadores de centros de dados. Um relatório recente do Federal Reserve de Saint Louis, nos Estados Unidos, detectou uma correlação entre ocupações com maior penetração de inteligência artificial e um crescimento no desemprego a partir de 2022. Em contrapartida, Morgan Frank, professor da Universidade de Pittsburgh, que se dedica a estudar os riscos de desemprego por tipo de ocupação, revelou que, após o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, os únicos trabalhadores significativamente afetados foram os do setor de apoio administrativo e de escritório, que viram sua probabilidade de solicitar seguro-desemprego aumentar no início de 2023. Para as carreiras de computação e matemática, contudo, Frank observa “nenhuma alteração detectável na tendência ao redor do lançamento do ChatGPT”. Ele complementa que, embora tanto o setor de tecnologia quanto o administrativo enfrentem um mercado de trabalho mais desafiador do que em anos anteriores, “eu seria cético em atribuir tudo isso à IA”.

Os “padrões” de contratação e demissão observados no setor de tecnologia também merecem destaque. Empresas como a Amazon e suas concorrentes experimentaram um boom de contratações nos anos pré-pandemia e em seus primeiros meses, impulsionado pela decisão do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros americanas a quase zero. Segundo especialistas, esse intenso ritmo de expansão preparou o terreno para as futuras reduções de pessoal, uma dinâmica que independe do fenômeno da inteligência artificial generativa dos últimos três anos. Vale ressaltar que o Fed começou a elevar as taxas de juros aproximadamente na mesma época em que o ChatGPT foi lançado, introduzindo um novo componente ao cenário econômico.

Martha Gimbel, do Budget Lab, reforça a ideia de que a palavra “inteligência artificial” permeia a discussão, tornando-a diferente. Contudo, “até o momento, nada que tenho observado se diferencia dos padrões habituais de contratação e demissão empresarial, especialmente em um estágio como o atual de um ciclo econômico”. A especialista salienta a importância de monitorar como os padrões de contratação se comportarão em um futuro período de sólido crescimento econômico. A longo prazo, Gimbel destaca que será crucial diferenciar entre perdas de emprego decorrentes de fatores cíclicos e aquelas causadas diretamente pela IA. Por exemplo, em uma possível recessão econômica nos EUA, cortes em recursos humanos e marketing seriam esperados. No entanto, essas são também algumas das funções mais expostas à IA, o que complica a tarefa de discernir se as demissões são resultado de condições macroeconômicas, da adoção tecnológica ou de uma combinação de ambos, dificultando a análise e compreensão. O papel do Federal Reserve e suas políticas monetárias são importantes fatores nesse contexto de análise econômica mais ampla.

Demissões na Amazon e Big Tech: IA ou Fatores Econômicos? - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

A Amazon, confirmando seus planos de eliminar cerca de 14 mil cargos corporativos, justificou a medida afirmando a necessidade de se reorganizar de forma “mais enxuta” para melhor aproveitar as oportunidades oferecidas pela inteligência artificial. Curiosamente, a performance recente da empresa tem sido positiva; em julho, a Amazon superou as expectativas de Wall Street em vários indicadores trimestrais, incluindo um notável aumento de 13% nas vendas em relação ao ano anterior, totalizando US$ 167,7 bilhões (R$ 902,8 bilhões).

Enrico Moretti, professor de economia na Universidade da Califórnia em Berkeley, sugere que grandes empresas de tecnologia como a Amazon estão na linha de frente dos cortes de empregos relacionados à IA, em parte por serem simultaneamente “produtoras e consumidoras de IA”. No entanto, ele também concorda que a necessidade de correção após o ritmo intenso de contratações durante a pandemia pode ter impulsionado esta nova rodada de demissões na empresa. De acordo com Lawrence Schmidt, professor associado de finanças no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o MIT), a Amazon tem capacidade de automatizar funções mais rapidamente do que a maioria de seus concorrentes devido à sua escala. “Não é ilógico pensar que a Amazon queira suprimir certas categorias de cargos – ou deixar de contratar mais pessoas para funções específicas – se essas atividades puderem ser prontamente automatizadas”, afirmou Schmidt. Ele acrescenta que, “independentemente do que ocorra com o número total de empregos, é plausível que haja uma realocação substancial”.

Confira também: Imoveis em Rio das Ostras

Em suma, as demissões nas gigantes da tecnologia como a Amazon representam um complexo fenômeno que interliga avanços da inteligência artificial, reajustes pós-pandemia e condições macroeconômicas influenciadas pelas políticas de bancos centrais como o Federal Reserve. Distinguir a real causa desses cortes requer uma análise aprofundada, além da simples atribuição à IA, apontando para um futuro onde a adaptação e a realocação profissional serão cada vez mais importantes. Continue acompanhando nossas análises de mercado na seção de Economia para entender as tendências e impactos das mudanças econômicas e tecnológicas.

Crédito da imagem: BBC

Deixe um comentário