Transposição do São Francisco avança para fase final após anos

Economia

O projeto de Transposição do Rio São Francisco, uma das maiores e mais complexas obras de infraestrutura hídrica do Brasil, se aproxima de sua conclusão, prevista para 2026 ou, no máximo, o início de 2027, conforme informações do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Com início das obras em 2007, o empreendimento, que já teve custos extraordinariamente altos, estimados inicialmente entre R$ 8 bilhões e R$ 12 bilhões, alcança agora suas derradeiras etapas de finalização, prometendo uma transformação hídrica no semiárido nordestino.

No mês de setembro, o MIDR deu um passo decisivo ao avançar em uma das últimas fases para a contratação de bombas e conjuntos motobombas, essenciais para expandir a capacidade das estações de bombeamento no Eixo Norte da transposição. Este segmento do projeto é responsável por conduzir as águas do “Velho Chico” a importantes estados do Nordeste: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Transposição do São Francisco avança para fase final após anos

Giuseppe Vieira, secretário nacional de segurança hídrica do MIDR, enfatiza a alta prioridade do projeto. Ele destaca que a ampliação da capacidade de bombeamento é crucial não apenas para assegurar o abastecimento de água aos quatro estados atendidos pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf), mas também para fomentar o desenvolvimento regional, impulsionando a agricultura irrigada, o turismo e outras atividades econômicas.

Com uma extensão total de 477 quilômetros, a Transposição do São Francisco interliga diretamente Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A concepção do governo federal para esta obra gigantesca visa fornecer acesso à água para aproximadamente 12 milhões de habitantes, distribuídos em 390 municípios do semiárido nordestino. Estruturada em dois grandes eixos – o Eixo Norte, com 260 quilômetros, e o Eixo Leste, com 217 quilômetros – a infraestrutura inclui 13 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios e um túnel de 15 quilômetros dedicado ao transporte das águas.

Embora o governo federal não tenha divulgado os custos totais já aplicados desde a instalação dos canais até o início da operação comercial, o Ministério assinala que os gastos com operação e manutenção do Pisf têm demonstrado um crescimento constante à medida que novas estruturas são ativadas. Registros orçamentários oficiais indicam que, entre 2015 e 2025, os valores destinados exclusivamente a estas ações somam cerca de R$ 2,1 bilhões.

Para o MIDR, o valor intrínseco do projeto transcende sua dimensão física. Uma nota do setor de comunicação do Ministério ressalta que os benefícios da Transposição do São Francisco são diretos e quantificáveis para as comunidades, ao mesmo tempo em que fortalecem a economia local e desempenham um papel estratégico na gestão sustentável da própria bacia doadora. Mais de 294 comunidades rurais estão sendo diretamente beneficiadas, abrangendo 12 comunidades quilombolas, 23 etnias indígenas e nove assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Impactos Ambientais e Socioeconômicos da Obra

Pesquisadores de diversas universidades e institutos também apresentam avaliações positivas sobre os efeitos do projeto no meio ambiente e nos aspectos socioeconômicos. Renato Garcia Rodrigues, coordenador do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), destacou os resultados de dez anos de monitoramento da fauna e flora nos estados envolvidos. Segundo Rodrigues, a instalação dos canais gerou impactos ambientais significativamente menores para a vegetação do que o previsto pelo Relatório de Impacto Ambiental (Rima) aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A Univasf, por meio do Nema, é uma das várias instituições de pesquisa contratadas pelo MIDR para implementar os 38 programas ambientais estabelecidos pelo Ibama. O objetivo desses programas é mitigar os impactos das obras e promover a recuperação de áreas de vegetação degradadas. Rodrigues complementa que “o desmatamento foi muito controlado, restrito às áreas liberadas pelo Ibama, e não houve uma corrida para desmatamento de áreas marginais da construção da Transposição do São Francisco.”

Transposição do São Francisco avança para fase final após anos - Imagem do artigo original

Imagem: valor.globo.com

No âmbito socioeconômico, César Nunes de Castro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta um benefício “muito evidente e palpável” da Transposição do São Francisco: o abastecimento hídrico de áreas urbanas em 390 municípios nordestinos. Ele argumenta que esse fornecimento alivia consideravelmente a insegurança hídrica nas sedes municipais, onde reside uma parte substancial da população, especialmente durante os frequentes períodos de seca na região.

Contudo, Castro observa que os benefícios no meio rural são comparativamente menores. Ele explica que o custo de levar água encanada para a população rural é proibitivo, e que a questão ainda precisará ser gerenciada por meio de investimentos em cisternas e operações com carros-pipa.

Apesar dos avanços notáveis, a Transposição do Rio São Francisco ainda enfrenta importantes desafios. Cláudio Ademar, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), enfatiza a necessidade de uma gestão hídrica mais eficiente e sustentável. Segundo ele, é fundamental criar canais de diálogo e cooperação entre os seis estados que compõem a bacia hidrográfica do São Francisco, além do Distrito Federal, e os quatro estados receptores das águas. Este esforço conjunto seria vital para uma atuação efetiva na revitalização do “Velho Chico”. Para mais informações sobre a bacia, visite o portal do CBHSF.

Ademar reitera a urgência de trabalhar na recuperação das nascentes do Rio São Francisco, que já apresentam menor produtividade de água, cuidar dos rios afluentes e proteger a bacia contra o despejo de esgotos sanitários. Somente com essas ações coordenadas será possível mitigar os impactos negativos e garantir a perenidade do recurso hídrico para as futuras gerações.

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A Transposição do Rio São Francisco representa um marco no desenvolvimento hídrico do Nordeste brasileiro, prestes a consolidar seu impacto na vida de milhões de pessoas. Fique atento às últimas notícias sobre grandes projetos de infraestrutura e desenvolvimento regional acompanhando a nossa editoria de Economia.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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