Índia Acelera Indústria Naval como Alternativa à China com uma estratégia ambiciosa que visa redefinir sua posição no cenário global do transporte marítimo. Construtoras navais indianas estão intensificando significativamente seus esforços para captar clientes internacionais, respondendo à crescente demanda de empresas de transporte marítimo em busca de novas opções para aquisição de navios que fujam da dependência da China.
Essa investida do setor privado está em perfeita sintonia com a visão de Nova Déli de impulsionar e expandir substancialmente a indústria naval nacional. A nação asiática, sob a liderança do Primeiro-Ministro Narendra Modi, projeta-se para se tornar um hub marítimo de relevância global nas próximas décadas, estabelecendo um plano robusto de crescimento e modernização.
Índia Acelera Indústria Naval como Alternativa à China
Narendra Modi ressaltou o rápido progresso e a energia do setor marítimo da Índia, destacando o engajamento governamental em apoiar ativamente a construção de navios e o aprimoramento das infraestruturas portuárias. Suas declarações foram feitas na última quarta-feira, durante a prestigiada Semana Marítima da Índia, evento que reuniu delegações governamentais e empresariais de mais de 85 países, com a participação de mais de 500 companhias exibindo suas mais recentes inovações tecnológicas no setor.
A Ambição da Índia no Transporte Marítimo Global
O governo indiano nutre o objetivo audacioso de transformar o país em um centro mundial de transporte marítimo. Para alcançar essa meta, busca-se um crescimento exponencial: aumentar a participação da frota naval indiana no volume global de cargas de modestos 1% para expressivos 20% até o ano de 2047. Esta data marca o centenário da independência indiana e simboliza uma virada estratégica na economia e logística do país.
Em um passo concreto para concretizar essa visão, o governo anunciou, no mês de setembro, um robusto pacote de apoio financeiro no valor de 697,3 bilhões de rúpias, o equivalente a aproximadamente US$ 7,86 bilhões. Este montante inclui a criação de um fundo de desenvolvimento marítimo, direcionado para investimentos substanciais tanto na construção naval quanto na infraestrutura marítima, preparando o terreno para o crescimento futuro da indústria.
Cochin Shipyard: Um Pilar da Indústria Naval Indiana
No centro da expansão naval da Índia está a estatal Cochin Shipyard, uma empresa fundamental para o setor. Fundada em 1972, a construção de sua primeira instalação foi concluída em 1982, contando com a importante colaboração e apoio tecnológico da Mitsubishi Heavy Industries do Japão. Nos últimos cinco anos, a Cochin Shipyard demonstrou sua capacidade e produtividade, entregando um total de 70 embarcações variadas, desde pequenos navios mercantes até embarcações de guerra, respondendo predominantemente à demanda interna.
A solidez e o crescimento da empresa são evidentes nos seus resultados financeiros recentes. No ano fiscal encerrado em março, as vendas da Cochin Shipyard registraram um aumento superior a 20%, atingindo a marca de cerca de 50 bilhões de rúpias. Em paralelo, o lucro líquido também apresentou crescimento expressivo, consolidando a posição da empresa como líder nacional no setor.
Estratégia de Expansão Global e Colaborações Internacionais
Visando um crescimento ainda maior e a conquista de novos mercados, a Cochin Shipyard direciona agora seus esforços para atender à demanda de países estrangeiros. Para tanto, estabeleceu uma parceria estratégica de peso em julho, assinando um memorando de entendimento para cooperação técnica com a HD Hyundai, que se destaca como a maior empresa de construção naval da Coreia do Sul, reforçando a capacidade técnica e produtiva do estaleiro indiano.
Um marco recente nesta jornada global ocorreu em 15 de outubro, quando a Cochin Shipyard anunciou a celebração de um contrato significativo. A empresa francesa de transporte marítimo CMA CGM encomendou seis navios porta-contêineres de médio porte, com capacidade para 1.700 TEUs (unidades equivalentes a vinte pés) e tecnologia de propulsão movida a gás natural liquefeito. Este pedido não apenas demonstra a capacidade de inovação e adaptação da Cochin às novas exigências do mercado, mas também solidifica sua reputação internacional. Além disso, a Mitsui O.S.K. Lines, do Japão, está em fase de avaliação para a possível encomenda de navios petroleiros ao estaleiro indiano.

Imagem: Reprodução Nikkei Asia via valor.globo.com
De acordo com informações veiculadas pela Reuters no mês passado, o presidente da Mitsui O.S.K. Lines, Takeshi Hashimoto, comentou o interesse, afirmando que “o governo indiano quer ver os novos navios construídos na Índia. Se possível, queremos estar envolvidos no projeto.” Essa declaração evidencia o alinhamento de interesses entre o governo indiano e grandes operadores marítimos, que buscam diversificar suas fontes de fornecimento e apoiar o desenvolvimento de novos polos de construção naval.
Contexto Global e Desafios Competitivos
O setor naval indiano tem demonstrado uma trajetória de expansão notável. De acordo com as autoridades indianas, no ano fiscal de 2023, o país concluiu a construção de 200 embarcações, um volume que representa aproximadamente o triplo do registrado no ano fiscal de 2020. Esse crescimento é impulsionado por uma mudança de paradigma global, na qual as empresas de transporte marítimo buscam diversificar seus pedidos e reduzir a dependência de um único país fornecedor, notadamente a China.
Essa reorientação é, em parte, motivada por medidas políticas. Sob a administração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram introduzidas tarifas portuárias aplicadas a navios construídos na China. Essa política teve um efeito catalisador, incentivando as companhias a explorar e investir em outros fornecedores. Nos anos recentes, a elevação constante dos preços dos navios, ocasionada pelo encarecimento das matérias-primas e pelo aumento da demanda global, somada à escassez de mão de obra qualificada no setor, criou um cenário propício para a Índia emergir como uma opção viável e estratégica no mercado de construção naval.
Embora as perspectivas sejam otimistas, a Índia ainda enfrenta um desafio considerável para se consolidar entre os líderes globais. Em 2022, China, Coreia do Sul e Japão — os três maiores países construtores de navios do mundo — detiveram conjuntamente mais de 90% da participação de mercado global em termos de tonelagem concluída, segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). A ascensão da Índia nesse ranking exigirá o superamento de barreiras importantes, como o aprimoramento e desenvolvimento de recursos humanos qualificados e a construção de cadeias de suprimentos robustas e eficientes.
Madhu Nair, presidente da Cochin Shipyard, expressou uma visão realista sobre o tempo necessário para o pleno amadurecimento da indústria naval indiana. Na quarta-feira, ele afirmou que “o mínimo para começar seria de 15 anos, mas o amadurecimento levará muito mais. Nada vai acontecer da noite para o dia.” Essa perspectiva destaca a complexidade e o tempo que envolvem a construção de um setor de tal magnitude, que demanda investimentos consistentes e estratégias de longo prazo para consolidar-se efetivamente no cenário internacional.
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Em suma, a Índia está firmemente engajada em transformar sua indústria naval em uma potência global, com investimentos maciços e parcerias estratégicas, visando uma fatia maior do mercado de transporte marítimo até 2047. Apesar dos desafios significativos, o país se posiciona como uma alternativa promissora em um mercado em constante transformação. Para aprofundar seu conhecimento sobre o dinamismo econômico da Índia e as implicações dessas iniciativas para o comércio mundial, veja outras notícias sobre a economia global e nacional em nosso portal.


 
						 
						