As megaoperações policiais, como a recente intervenção nos complexos da Penha e do Alemão em 28 de outubro de 2025, frequentemente falham em atingir resultados duradouros na redução do poder do crime organizado. Essa é a avaliação da advogada criminalista Lorena Pontes, que questiona a eficácia dessas ações isoladas diante da complexidade do cenário criminal brasileiro. A especialista enfatiza que tais iniciativas, apesar da visibilidade, não conseguem desmantelar as raízes multifacetadas do problema, que estão intrinsecamente ligadas a redes econômicas e sociais profundamente estabelecidas.
De acordo com Pontes, a estrutura do crime organizado exige uma abordagem muito mais abrangente do que apenas operações ostensivas. Seriam necessárias políticas públicas integradas, que contemplem a prevenção social e uma articulação robusta entre as esferas federal, estadual e municipal. A recente operação, inclusive, foi classificada como a mais letal da história do país, resultando em 121 mortes – sendo 117 civis e 4 policiais – além de 113 prisões e 118 armas apreendidas, das quais 91 eram fuzis. Tais números, segundo especialistas, evidenciam a magnitude e as graves consequências desses confrontos de grande escala.
Megaoperações Policiais: Especialistas Debatem Prejuízos
A advogada Lorena Pontes reforça que o sucesso das intervenções estatais não deve ser medido pela letalidade. Pelo contrário, ela aponta que essas operações policiais de grande porte aumentam os riscos de abusos de autoridade e violações dos direitos humanos. No Rio de Janeiro, existe uma autonomia histórica das forças policiais que, embora possa gerar agilidade em algumas situações, também apresenta o perigo de descoordenação com as políticas públicas existentes e de uma fiscalização limitada, comprometendo a transparência e a efetividade das ações.
Impactos Financeiros e Sociais Incalculáveis
Os desdobramentos de uma megaoperação policial se estendem muito além das questões de segurança imediata. Menos de 24 horas após a ação nos complexos da Penha e Alemão, o Centro de Operações da Prefeitura (COR) do Rio de Janeiro divulgava a retomada de 35 vias que haviam sido bloqueadas com barricadas e o restabelecimento do fluxo de carros, sinalizando um aparente retorno à normalidade.
Contudo, para o advogado Bruno Medeiros Durão, especialista em Direito Tributário, as consequências dessas operações de segurança extrapolam em muito as interdições de tráfego. Ele argumenta que o fechamento de vias, a suspensão de serviços essenciais e o impacto generalizado na logística urbana geram perdas fiscais e tributárias imensas para os cofres estaduais e municipais. A instabilidade gerada por confrontos tão intensos inegavelmente afasta investimentos, suprime oportunidades de negócios, dificulta a criação de empregos e reduz a geração de renda em áreas afetadas.
Na visão de Durão, os impactos negativos dessas megaoperações na segurança pública são verdadeiramente incalculáveis, atingindo a totalidade do ecossistema social de uma cidade. Ele frisa que a paz social é um pilar fundamental para o desenvolvimento econômico de qualquer localidade, e a situação crônica de insegurança no Rio de Janeiro demonstra uma falha constante neste pré-requisito básico. Isso resulta em um custo adicional significativo para o contribuinte, que arca com despesas emergenciais de segurança, sem a garantia de melhorias efetivas na criminalidade.

Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br
Corroborando a visão de especialistas, um levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) em parceria com o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) revelou dados alarmantes: o Estado do Rio de Janeiro chega a registrar perdas anuais de aproximadamente R$ 11,5 bilhões em decorrência de crimes violentos. Esse montante representa cerca de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da unidade da Federação, evidenciando o profundo dano econômico que a falta de uma estratégia de segurança eficaz provoca.
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Em suma, o debate em torno das megaoperações policiais revela um cenário complexo, onde a eficácia a longo prazo e os custos humanos e econômicos são questionados. A necessidade de abordagens mais holísticas e integradas na segurança pública torna-se cada vez mais evidente para enfrentar o crime organizado de forma sustentável e garantir a paz social e o desenvolvimento. Para aprofundar a compreensão sobre os desafios das cidades brasileiras, continue explorando nossas análises sobre o impacto social da segurança em outras regiões do país.
Crédito da imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil



