Ação Militar EUA na Venezuela: Cenários e Implicações no Caribe

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As crescentes manobras militares dos Estados Unidos no Caribe, nas proximidades da Venezuela, estão alimentando intensas discussões sobre uma possível escalada de intervenção no país sul-americano. Diante dessa complexa conjuntura, o cenário de uma invasão terrestre não parece plausível, contudo, especialistas observam uma gama de outras possibilidades que incluem desde ataques cirúrgicos a focos de narcotráfico até operações com o intuito de destituir o presidente Nicolás Maduro de seu cargo. Esta é a questão central abordada no título Ação Militar EUA na Venezuela: Cenários e Implicações no Caribe.

A percepção da Casa Branca, sob a administração de Donald Trump na época dos fatos, era de que as autoridades em Caracas já estariam sentindo a pressão de uma ofensiva americana. Tal operação foi justificada pela retórica da “guerra ao narcotráfico”. Um dos movimentos mais recentes, divulgado na ocasião, foi a chegada de um navio de guerra dos EUA ao arquipélago de Trinidad e Tobago no domingo, 26 de abril, um local estrategicamente próximo à Venezuela. Antes disso, já haviam sido mobilizados para a região do Caribe ativos navais significativos, como o navio lançador de mísseis USS Gravely e o grupo de ataque USS Gerald Ford, este último incorporando o maior porta-aviões nuclear do planeta.

Ação Militar EUA na Venezuela: Cenários e Implicações no Caribe

As autoridades de Trinidad e Tobago anunciaram a realização de exercícios militares em conjunto com as forças armadas americanas, adicionando outra camada de complexidade à situação. Embora a imprensa americana tenha veiculado relatos sobre o sobrevoo de bombardeiros americanos perto da costa venezuelana, essa informação foi subsequentemente desmentida pelo então presidente americano. Em um desenvolvimento adicional, o chefe de estado dos EUA declarou ter dado sinal verde para operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA) em território venezuelano. O Pentágono também divulgou, na sexta-feira, 24 de abril, que uma décima embarcação supostamente ligada ao narcotráfico havia sido afundada, uma ação que muitos analistas consideram questionável do ponto de vista legal internacional.

Para uma especialista que falou à imprensa internacional, sob condição de anonimato, as operações militares americanas se mostram “completamente desproporcionais” caso o objetivo principal seja de fato combater pequenas lanchas que transportam drogas. A interpretação de diversos analistas é que essas manobras servem, primariamente, como uma robusta demonstração de força e um alerta claro. Há indícios crescentes, conforme observado pela especialista, de uma iminência de ataque direto contra a Venezuela, evidenciado por recentes incursões aéreas nas imediações do espaço aéreo venezuelano que visam testar as capacidades de resposta das Forças Armadas do país. É crucial notar que o suporte das forças armadas é um pilar fundamental para a manutenção do presidente Nicolás Maduro no poder.

Intervenção Direcionada e Guerra ao Narcotráfico

Contrariamente à ideia de uma operação em grande escala, intervenções terrestres e o emprego de bombardeiros B-1 são descartados por especialistas, em função do elevado custo financeiro e do desgaste político que tais ações imporiam aos Estados Unidos. Uma fonte militar espanhola, em sua análise, sugere que um provável primeiro passo seria “algum ataque seletivo com um míssil lançado de um navio ou do ar”. Essa abordagem mais contida seria complementada por esforços da CIA na coleta de inteligência, com o propósito de “promover a rebelião interna [nas forças militares]”, uma estratégia característica dessa agência. Por outro lado, o coronel aposentado do Exército dos EUA, Manuel Supervielle, não exclui totalmente o uso de bombardeiros B-1, ressaltando sua capacidade de operar a longas distâncias.

“A vantagem dos EUA em um confronto com a Venezuela é que eles têm tecnologia militar muito superior e podem atingir alvos fora do alcance venezuelano. O que o governo americano certamente não quer são baixas entre as tropas americanas”, observa Supervielle. Sua análise destaca a assimetria tecnológica e o objetivo primordial de evitar perdas humanas por parte dos americanos em qualquer eventual ação militar.

A jornalista venezuelana Sebastiana Barráez, com sua expertise em temas militares, levanta a hipótese de que um alvo potencial para um ataque americano seriam “laboratórios” ou “acampamentos guerrilheiros” diretamente vinculados ao narcotráfico. De acordo com Barráez, uma ação desse gênero encontraria maior respaldo e justificação no âmbito internacional, em comparação com outras formas de intervenção. Ela também ventila a possibilidade de uma operação focada na “extração” de figuras de alto escalão do governo venezuelano, incluindo o presidente Maduro, sob a premissa de seu envolvimento na liderança do narcotráfico no país.

Ação Militar EUA na Venezuela: Cenários e Implicações no Caribe - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Em julho de um ano anterior, os Estados Unidos já haviam imputado a Nicolás Maduro a liderança do que chamavam de “Cartel de los Soles”, então qualificado por Trump como uma organização terrorista de dimensão internacional. A Casa Branca já havia, inclusive, oferecido recompensas financeiras por informações que levassem à captura de Maduro e outros oficiais venezuelanos. Supervielle, por sua vez, adiciona à lista de possibilidades a “eliminação seletiva”, através de “ataques para assassinar determinadas pessoas e criar instabilidade na cúpula do regime que permita ou dê a oportunidade a outros grupos dentro das próprias Forças Armadas da Venezuela de tomar o poder e transferi-lo ao governo legítimo”. O panorama internacional é marcado pelo reconhecimento, por parte dos EUA e do Parlamento Europeu, do líder da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia, como presidente legítimo e democraticamente eleito em 2024. Críticos do chavismo reiteram que os resultados eleitorais foram manipulados em favor de Maduro, acusando-o de usurpar o poder.

Reações e o Xadrez Geopolítico Regional

Nesse complexo xadrez político, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, afirmou que “o regime está mais fraco do que nunca”, ecoando as percepções de uma crescente fragilidade interna. Nicolás Maduro, por outro lado, mantém um discurso de resiliência, assegurando que a Venezuela preserva “nervos de aço” diante da pressão exercida pelos americanos. “Somos ameaçados com palavras diariamente pelo império estadunidense, diariamente uma guerra psicológica”, declarou o presidente em um pronunciamento transmitido pela televisão. Segundo ele, o país dispõe de mais de cinco mil mísseis antiaéreos de fabricação russa, os quais ele atribui ao apoio do presidente Vladimir Putin, da Rússia, bem como da China e de outras nações aliadas, para “garantir a paz”.

Analistas consultados pela imprensa destacam a crescente influência da China na região como um componente chave na equação das tensões entre EUA e Venezuela. A potência asiática tem mantido uma postura neutra, abstendo-se de manifestar-se abertamente tanto em favor de Maduro quanto contra as ações de Trump. Paralelamente, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que teve um encontro com o então presidente americano Donald Trump durante uma cúpula na Malásia, ofereceu-se como intermediador no diálogo entre Washington e Caracas. “Nós queremos manter a América do Sul como zona de paz. Nós não queremos trazer os conflitos de outras regiões para o nosso continente”, argumentou o líder brasileiro, sublinhando o desejo de preservar a estabilidade regional e aprofundar as discussões sobre política externa para as Américas, como a que é apresentada no site Council on Foreign Relations, em sua seção sobre as relações dos EUA com a Venezuela.

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Em síntese, as especulações sobre uma possível intervenção militar dos EUA na Venezuela se intensificam no contexto de uma “guerra ao narcotráfico”, mas analistas apontam para a improbabilidade de uma invasão em larga escala, privilegiando ataques seletivos ou operações de desestabilização. Acompanhe os desdobramentos dessa complexa geopolítica e outros temas relevantes em nossa editoria de Política para se manter sempre atualizado.

Crédito da imagem: Alyssa Joy/Marinha dos Estados Unidos
Crédito da imagem: U.S. Air Force
Crédito da imagem: Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

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