Mais de 100 Animais no Paraná: Risco Crítico de Extinção

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No Paraná, mais de **100 espécies de animais estão em extinção**, enfrentando um perigo crítico que excede a ameaça em âmbito nacional. O panorama para a fauna local é alarmante, conforme revelam dados atualizados em 2025. Espécies icônicas do estado, como o tamanduá-bandeira, a onça-pintada, a anta e o veado-campeiro, figuram entre as 116 classificadas como “Criticamente em Perigo (CR)” no recém-publicado Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado.

O relatório, fruto de uma profunda análise da biodiversidade paranaense, sublinha que essa classificação significa um risco excepcionalmente alto de desaparecerem da natureza, marcando o último estágio antes de serem declarados regionalmente extintos. Esse cenário dramático coloca a proteção da biodiversidade como um elemento fundamental para a salvaguarda dos ecossistemas. A intensificação de ameaças como caça predatória, desmatamento e a incessante expansão agrícola sobre áreas de floresta são apontadas como os principais fatores de deterioração ambiental que impactam esses animais.

Mais de 100 Animais no Paraná: Risco Crítico de Extinção

De acordo com Roberto Fusco, biólogo e coordenador do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, enquanto no contexto nacional a maioria desses animais é classificada como “Vulnerável (VU)”, indicando um nível de risco dois degraus abaixo, no Paraná, a situação é mais severa. O estudo abrangente examinou um total de mais de 5 mil espécies, englobando diversas categorias do reino animal, desde mamíferos, aves, répteis e anfíbios até insetos, a fim de delinear a gravidade do cenário atual.

Principais Ameaças à Fauna Paranaense

A degradação ambiental se manifesta de múltiplas formas, impactando diretamente a sobrevivência das espécies nativas. O desmatamento e a consequente fragmentação das florestas têm criado verdadeiras “ilhas” de vegetação isoladas, com pouca ou nenhuma conectividade, espalhadas pelo território paranaense. As vastas regiões de preservação, como a Serra do Mar, o Vale do Ribeira e o litoral na porção leste, e os Parques Nacionais do Iguaçu e de Ilha Grande no sudoeste e noroeste, estão geograficamente distantes, separadas por uma extensão de aproximadamente 750 quilômetros.

Dados alarmantes apresentados pelo MapBiomas revelam que a Mata Atlântica perdeu cerca de 400 mil hectares apenas na última década no Paraná, um volume equivalente a mais de 560 mil campos de futebol. Em uma perspectiva mais ampla, desde 1985, o desflorestamento no estado atingiu a marca de 3,5 milhões de hectares, uma área que supera em duas vezes a soma das 29 cidades que compõem a Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Essa perda maciça de habitat natural é um dos pilares que sustenta o risco de extinção para uma grande parcela da fauna paranaense, detalhada pelo Livro Vermelho da Fauna Ameaçada do Paraná, uma publicação do Instituto Água e Terra (IAT) e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest).

Impacto Direto na Reprodução e Sobrevivência

Espécies de grande porte, como a onça-pintada e o cachorro-vinagre, cruciais para o equilíbrio dos ecossistemas, encontram-se em situação de risco crítico devido à necessidade de territórios extensos para sua sobrevivência, reprodução e garantia de diversidade genética. Conforme explicado por Fusco, uma onça-pintada pode demandar uma área de vida que varia de 10 mil a 50 mil hectares. A redução e a má qualidade dos ecossistemas ameaçam igualmente os grandes herbívoros; a população de cervos-do-pantanal no Paraná, por exemplo, não ultrapassa 250 indivíduos e sofre com a construção de barragens e a caça indiscriminada.

A fragmentação torna cada vez mais raro encontrar antas ou queixadas, com pouquíssimos indivíduos restando em fragmentos isolados no interior do estado. O estudo ressalta que essas populações enfrentam uma severa retração não apenas pela perda de seus habitats, mas também pela intensa prática de caça, que persiste inclusive dentro de Unidades de Conservação (UCs).

Doenças e Zoonoses como Fatores Agravantes

A vulnerabilidade da fauna nativa aumenta com a perda de seus habitats naturais, tornando-as mais suscetíveis a doenças. O Livro Vermelho aponta que primatas como o bugio-ruivo, o bugio-preto, o muriqui e o mico-leão-da-cara-preta são sensíveis à febre amarela, uma doença viral transmitida por mosquitos infectados. O relatório adverte que a febre amarela tem o potencial de causar a extinção local de bugios, destacando que esses primatas são os mais vulneráveis à doença, exibindo altos índices de morbidade e mortalidade.

Adicionalmente, a proximidade entre criações domésticas, como o gado, e os animais selvagens favorece a transmissão de zoonoses. Onças-pintadas e cachorros-vinagre, por exemplo, são afetados por vírus como a raiva, além de leptospirose e toxoplasmose. A degradação dos habitats naturais e o consequente contato mais próximo com animais de criação são fatores que potencializam o contágio. Parasitas e doenças que comumente afligem rebanhos bovinos, como a língua azul, são transmitidos por meio das pastagens para herbívoros nativos, incluindo o veado-mateiro, a anta e o cervo-do-pantanal. Gatos domésticos, portadores da esporotricose, uma grave infecção fúngica, podem contagiar felinos selvagens como a jaguatirica, a onça-parda e o gato-mourisco em áreas onde os animais de estimação transitam próximos a regiões de mata.

Ameaça Silenciosa das Espécies Invasoras

Entre as diversas espécies invasoras que causam dano à fauna brasileira, o javali, originário da Eurásia e do norte africano, destaca-se pela sua destrutividade. Essa espécie exótica estabelece uma competição direta com porcos nativos do Brasil, como o caititu e o queixada, por recursos alimentares. “Por onde ele passa, vai acabando com tudo”, enfatiza o biólogo Roberto Fusco, descrevendo o impacto devastador do javali. O animal invade predominantemente áreas abertas, incluindo campos e lavouras, o que justifica sua ausência em regiões de mata preservada, como a Serra do Mar e o Parque Nacional do Iguaçu.

Fusco reitera a importância da conservação e recuperação das florestas como uma estratégia eficaz para frear a proliferação do javali. Além da competição por alimento, o relatório sublinha que a caça de javalis acaba expondo outros animais nativos, especialmente antas, cervos e demais herbívoros, à ameaça da ação humana e da caça ilegal.

Avanço Ininterrupto da Expansão Agrícola

Nas últimas décadas, a maioria das áreas degradadas no Paraná foi convertida para atividades agropecuárias. Atualmente, o estado destina cerca de 13 milhões de hectares ao setor, enquanto a área urbanizada corresponde a apenas 318 mil hectares. Conforme os dados do MapBiomas, as florestas cobrem somente 26% do território paranaense, enquanto a pecuária e a agricultura juntas ocupam quase 70% das terras.

O Livro Vermelho da Fauna Ameaçada identifica que pelo menos 59 espécies têm seu risco de extinção diretamente ligado à expansão e aos impactos da agropecuária, incluindo o uso intensivo de agrotóxicos ou a conversão de habitats para fins agrícolas e pastagem. O motor dessa expansão predatória é, em grande parte, a monocultura de soja. Desde 1985, a área cultivada com soja no Paraná cresceu aproximadamente 3,5 vezes, saltando de 1,6 milhão para 5,7 milhões de hectares.

O estudo também ressalta que a transformação de campos naturais em plantações de pinus e eucalipto figura entre os fatores que ameaçam espécies como o tamanduá-bandeira. Agrotóxicos usados para o controle de pragas, incêndios florestais e atropelamentos nas rodovias somam-se às ameaças existenciais para o animal no estado. Entre os polinizadores, dez espécies de abelhas estão sob risco de extinção e uma já se encontra regionalmente extinta, incluindo mamangavas, abelhas-das-orquídeas e abelhas-sem-ferrão. A principal razão para o risco dessas abelhas é a perda de habitat para a monocultura, pastagem e silvicultura, além do fogo e uso de pesticidas. Espécies que nidificam no solo, como as mombucas, são particularmente sensíveis às alterações antrópicas no solo. Além das abelhas, 11 espécies de anfíbios, sendo dez delas endêmicas e encontradas apenas em território paranaense, correm risco iminente de desaparecer na região.

A Biodiversidade como Pilar da Conservação

Para Roberto Fusco, ações de conservação e proteção dos habitats são as mais importantes estratégias para combater o risco de extinção da fauna nativa. O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar concentra seus esforços na preservação de animais como a onça-pintada, a anta e o queixada em um dos maiores remanescentes desse bioma no Brasil. Em uma área conjunta da Serra do Mar do Paraná e de São Paulo, que soma 1.700.000 hectares, a estimativa é de apenas 25 indivíduos de onças-pintadas, uma densidade extremamente baixa – aproximadamente uma onça-pintada para cada 68 mil hectares.

“A biodiversidade é a chave em todo esse processo”, afirma Fusco. Ele argumenta que a preservação da biodiversidade transcende a proteção de espécies isoladas, sendo essencial para garantir a própria existência e funcionalidade de ecossistemas completos. “A proteção de florestas com toda a sua biodiversidade previne a propagação de doenças, zoonoses. Os animais têm um papel fundamental na qualidade do solo, na qualidade da floresta”, explica o biólogo. Fusco detalha ainda como o desequilíbrio gerado pela extinção de espécies impactantes não afeta apenas a fauna e a flora, mas também a população humana e contribui para o agravamento do aquecimento global. “Herbívoros, de um modo geral, têm um papel muito importante na dispersão de sementes de árvores para recuperação, e essas árvores são aquelas que conseguem capturar a maior quantidade de CO2”, pontua, referindo-se ao gás carbônico, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

O Livro Vermelho e o Cenário Alarmante de Extinção no Paraná

O Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Paraná, coordenado pelo Instituto Água e Terra (IAT) e pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), categorizou 5.087 espécies, das quais 339 foram classificadas sob diferentes níveis de risco de extinção. As categorias de risco, em ordem crescente de gravidade, são: Menos Preocupante (LC), Quase Ameaçada (NT), Vulnerável (VI), Em Perigo (EN), Criticamente em Perigo (CR), Regionalmente Extinta (RE), Extinta na Natureza (EW) e Extinta (EX).

O relatório documenta a extinção de oito espécies no Paraná, com a maioria sendo aves, como a bandoleta, o pato-mergulhão e o pararu-espelho. Adicionalmente, uma espécie de abelha, a mandaçaia-do-chão, também já não é mais encontrada na região. O g1 procurou o IAT e a Sedest para obter mais informações, mas não houve retorno até a última atualização da reportagem original.

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A gravidade do cenário de animais em extinção no Paraná exige atenção imediata e a implementação de políticas públicas e ações de conservação eficazes. O futuro da rica biodiversidade paranaense depende da colaboração entre poder público, especialistas e a sociedade. Para se aprofundar em análises sobre sustentabilidade e meio ambiente, continue acompanhando as notícias em nossa editoria de Análises e descubra mais sobre os desafios ecológicos atuais.

Crédito da imagem: Lucas Eduardo Araújo Silva, Tonn Viana e Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar

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