STM Pede Perdão por Crimes da Ditadura em Ato de Herzog

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Durante um marcante evento inter-religioso que assinala os 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, a presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, formalizou um pedido de perdão em nome da instituição pelos abusos e crimes perpetrados pelos militares ao longo do regime autoritário no Brasil. A solenidade, realizada na imponente Catedral da Sé, no coração de São Paulo, rememorou o assassinato de Herzog nas instalações do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).

O gesto da alta autoridade judiciária foi acompanhado por centenas de pessoas e representa um momento significativo na revisão da história recente do país. A presidente Maria Elizabeth expressou, com clareza e emoção, seu pesar institucional. Ela declarou publicamente: “Eu peço, enfim, perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário. Recebam meu perdão, a minha dor e a minha resistência.” Sua fala foi recebida com calorosa ovação do público, que se levantou em aplauso. O impacto da ditadura militar na imprensa e na sociedade brasileira permanece um tema de reflexão e memória coletiva, destacando a importância de atos como este.

STM Pede Perdão por Crimes da Ditadura em Ato de Herzog

A cerimônia de rememoração, meticulosamente organizada pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, buscou replicar o emblemático protesto silencioso de 1975, quando milhares de indivíduos lotaram a mesma Catedral da Sé em uma missa de sétimo dia de Herzog. Aquele evento, realizado em um período de intensa repressão, uniu lideranças como Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, contando com o crucial apoio do jornalista Audálio Dantas, então à frente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O ato de cinco décadas atrás transformou-se em um marco decisivo para o processo de redemocratização do Brasil.

A Reconstituição de um Marco da Resistência

Agora, 50 anos após os trágicos eventos, o novo encontro presta tributo a Vladimir Herzog e a todos aqueles que foram vítimas da ditadura militar. O público reuniu personalidades de diversas esferas, incluindo figuras religiosas proeminentes, familiares das vítimas, artistas, parlamentares e autoridades governamentais. A recepção aos participantes começou às 19h, introduzida por uma apresentação do Coro Luther King, seguida por manifestações inter-religiosas. Nomes como Dom Odilo Pedro Scherer, a reverenda Anita Wright (filha de Jaime Wright) e o rabino Ruben Sternschein conduziram momentos de reflexão e memória.

Entre os presentes, destacou-se a participação do presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), que esteve acompanhado de sua esposa, Lu Alckmin. A programação cultural do evento incluiu performances artísticas e a projeção de vídeos inéditos. Um dos momentos mais comoventes foi a interpretação da carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, pela aclamada atriz Fernanda Montenegro. Também prestigiaram o ato José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, bem como amigos e parentes de Herzog, além de representantes das entidades organizadoras, reforçando a amplitude e relevância do acontecimento.

Legado Preservado: O Dossiê e a Trajetória de Herzog

Como parte das múltiplas homenagens, o Instituto Vladimir Herzog apresentou um dossiê especial que detalha a vida e o valioso legado do jornalista. O documento compilou uma rica seleção de fotografias, documentos e registros históricos que compõem o vasto acervo da instituição. Essa iniciativa não apenas celebra a memória de Herzog, mas também garante que sua história e seus princípios continuem a inspirar novas gerações em prol da liberdade e dos direitos humanos.

A Morte que Desnudou a Brutalidade do Regime

Durante a década de 1970, o exercício do jornalismo no Brasil carregava riscos significativos, incluindo censura, prisões arbitrárias e, em casos extremos, a morte. Vladimir Herzog, que atuava como diretor de jornalismo da TV Cultura na época de sua detenção, foi mais uma vítima dessa opressão. Antes de seu caso, registros apontam que onze outros jornalistas já haviam sido presos e alguns torturados pelo regime. Em 25 de outubro de 1975, Herzog compareceu espontaneamente às instalações do DOI-CODI para prestar esclarecimentos sobre suas atividades profissionais. Poucas horas depois, a notícia de sua morte chocou o país.

A versão oficial disseminada pelo regime militar afirmava que Herzog havia cometido suicídio. Contudo, essa narrativa foi veementemente desmentida por perícias e evidências fotográficas que inequivocamente atestaram seu assassinato. A impactante imagem do corpo de Herzog, que exibia os joelhos flexionados e estava amarrado a uma janela notadamente mais baixa que sua altura, gerou profunda comoção nacional. Ela se tornou um símbolo pungente que expôs, sem meias palavras, a brutalidade e a face violenta da repressão ditatorial.

Justiça e Reconhecimento da Verdade

O percurso em busca de justiça para Vladimir Herzog e sua família foi longo. Apenas em 1978, a Justiça Federal confirmou oficialmente que o jornalista havia sido detido, submetido a torturas e morto pelo Estado brasileiro. Décadas depois, em 2012, o Tribunal de Justiça de São Paulo proferiu uma decisão crucial, determinando a retificação de seu atestado de óbito. Esta medida teve como objetivo remover a falsa menção de suicídio, reafirmando a verdadeira causa de sua morte. Recentemente, no início do corrente mês, a família de Herzog recebeu formalmente o novo documento retificado, em uma cerimônia que acolheu aproximadamente cem famílias de vítimas que foram mortas ou desapareceram durante o regime autoritário, consolidando mais um passo na luta por memória e reparação.

O Contínuo Legado e a Defesa da Memória

Vladimir Herzog, nascido na antiga Iugoslávia em 1937, provinha de uma família judia que buscou refúgio da perseguição nazista e encontrou abrigo no Brasil. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), foi ali que conheceu Clarice, com quem viria a ter seus dois filhos, Ivo e André. Atualmente, Ivo Herzog está à frente do Instituto Vladimir Herzog, uma entidade que se dedica à salvaguarda de objetos pessoais do pai, como seu gravador e sua máquina de escrever, e que promove incansavelmente diversas ações voltadas para a educação em direitos humanos, mantendo viva a memória e a luta do jornalista.

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O ato que recordou os 50 anos da morte de Vladimir Herzog e a declaração de perdão da presidente do Superior Tribunal Militar reforçam a importância de confrontar o passado e honrar as vítimas de um período sombrio da nossa história. A verdade e a justiça, mesmo que tardias, são pilares para a construção de uma democracia robusta e consciente. Para aprofundar suas análises sobre questões políticas, sociais e históricas, continue acompanhando as notícias e reportagens em nossa editoria de Política.

Foto: Reprodução

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