Assoalho Pélvico: Pilar da Continência e Saúde Sexual

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O assoalho pélvico, uma parte essencial e frequentemente subestimada do corpo humano, desempenha uma missão silenciosa, mas crítica, na sustentação de múltiplos órgãos vitais. Localizado na base da pelve, este conjunto de músculos e ligamentos funciona como uma base sólida para estruturas como a bexiga, a uretra, a vagina e o útero nas mulheres, e a bexiga, uretra, reto e próstata nos homens. Além dessa função estrutural fundamental, ele é indispensável para a manutenção da continência, controlando tanto a saída de urina quanto de fezes, e desempenha um papel crucial para uma função sexual saudável e satisfatória. A relevância desses músculos é tamanha que qualquer disfunção ou enfraquecimento pode gerar um impacto significativo e prejudicial na qualidade de vida dos indivíduos, conforme aponta a fisioterapeuta Patrícia Zaidan, renomada doutora em ciências do exercício e do esporte e especialista em fisioterapia pélvica.

A fisioterapeuta Patrícia Zaidan frequentemente compara os músculos do assoalho pélvico ao “chão” ou à “base” do nosso corpo. Assim como a fundação de um edifício garante a estabilidade de toda a construção, essa estrutura muscular intrincada assegura a correta posição e o funcionamento adequado dos órgãos pélvicos. Quando essa base perde sua funcionalidade, seja por enfraquecimento, lesão ou atrofia, a capacidade de sustentação é comprometida, abrindo portas para uma série de complicações que afetam desde o bem-estar físico até a vida social e íntima das pessoas.

Assoalho Pélvico: Pilar da Continência e Saúde Sexual

Quando a fundamental sustentação proporcionada pelo assoalho pélvico é comprometida, uma das consequências mais marcantes é o desenvolvimento do que é conhecido como prolapso de órgãos pélvicos. Esta condição ocorre quando um ou mais órgãos da região pélvica, antes firmemente suportados, cedem e se deslocam de sua posição anatômica natural. Um exemplo comum é o prolapso da bexiga, popularmente referido como “bexiga caída”, no qual a bexiga se projeta e se desloca de forma anômala em direção à parede frontal da vagina. Este cenário evidencia claramente que os músculos do assoalho pélvico já não conseguem cumprir adequadamente suas funções de suporte e contenção.

O Impacto Subestimado da Incontinência Urinária

A incontinência urinária emerge como uma das disfunções pélvicas mais amplamente conhecidas, mas paradoxalmente, também uma das mais subestimadas e menos tratadas. Muitos indivíduos não compreendem que a simples perda de algumas gotas de urina em situações cotidianas já configura um quadro de incontinência urinária. Tal desconhecimento, ou a vergonha associada ao problema, muitas vezes impede que os indivíduos procurem ajuda especializada. Com o tempo, a condição pode se agravar, levando a restrições significativas na vida social. O medo de enfrentar episódios constrangedores fora de casa pode fazer com que as pessoas evitem atividades sociais e saídas, diminuindo drasticamente sua qualidade de vida, como enfatiza Zaidan.

Se você percebe que a urina escapa involuntariamente ao tossir, rir, espirrar ou durante a prática de exercícios físicos, é um sinal claro de que chegou a hora de consultar um especialista. A intervenção precoce pode prevenir o agravamento do quadro e restaurar o controle sobre a bexiga, impactando positivamente a autonomia e o bem-estar diário.

Mulheres: Climatério, Menopausa e o Papel do Estrogênio

Para as mulheres, diversos momentos da vida podem influenciar a saúde do assoalho pélvico. A gestação e o parto são fatores reconhecidamente capazes de impactar a integridade desses músculos e tecidos, exigindo atenção especial. No entanto, é durante o climatério — a fase de transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva — que as mulheres enfrentam desafios específicos relacionados à diminuição natural da produção de estrogênio. Este hormônio desempenha um papel crucial para a saúde e funcionalidade do assoalho pélvico, detalha a fisioterapeuta Patrícia Zaidan. O estrogênio é vital para a manutenção do fluxo sanguíneo e da oxigenação dos tecidos pélvicos, fatores essenciais para garantir tanto a continência quanto a lubrificação vaginal adequada. A deficiência estrogênica afeta diretamente a elasticidade e a resistência da musculatura e das mucosas.

A carência de estrogênio pode gerar consequências que vão além da incontinência ou do prolapso de órgãos. Há muitas mulheres que, mesmo sem essas disfunções estruturais, experienciam dor durante as relações sexuais — uma condição conhecida medicamente como dispareunia. Este desconforto é frequentemente decorrente da atrofia vulvovaginal, uma queixa bastante comum na menopausa que pode comprometer significativamente o prazer e a qualidade da vida sexual. O tratamento precoce e a orientação adequada são fundamentais para aliviar esses sintomas e preservar a intimidade.

A Fisioterapia Pélvica: Um Arsenal Terapêutico Abrangente

Felizmente, a fisioterapia pélvica moderna oferece um vasto “arsenal” de tratamentos para as diversas disfunções do assoalho pélvico. Estes incluem uma gama variada de exercícios específicos projetados para fortalecer, alongar, relaxar ou reabilitar a musculatura pélvica, de acordo com a necessidade de cada paciente. Além dos exercícios, são aplicadas tecnologias avançadas como o laser de baixa potência, que pode auxiliar na melhora da qualidade dos tecidos, estimulando a regeneração e a vascularização.

Entre as técnicas mais eficazes e utilizadas, destaca-se o biofeedback, um aparelho equipado com sensores capazes de medir com precisão a contração muscular em tempo real. Essa tecnologia inovadora permite que a pessoa se torne mais consciente e tenha controle sobre os exercícios que está realizando para fortalecer os músculos. “A paciente consegue visualizar em um monitor o que está acontecendo com sua musculatura em cada contração e relaxamento. A avaliação é quantificável, o que permite uma prescrição de exercício altamente personalizada e sob medida, garantindo resultados mais efetivos”, explica Patrícia Zaidan. Além das intervenções diretas da fisioterapia, a especialista reforça que a adoção de uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física funcionam como importantes fatores de proteção e prevenção, contribuindo para a manutenção geral da saúde do assoalho pélvico.

É vital ressaltar que, mesmo que optem por não ter relações sexuais com parceiros após a menopausa, as mulheres são fortemente aconselhadas a manter a dilatação do canal vaginal. O uso regular de vibradores ou dilatadores, por exemplo, pode ser fundamental para evitar a atrofia e a diminuição da elasticidade vaginal. Sem essa manutenção, a mucosa vaginal pode se tornar mais fina e menos lubrificada, o que, do contrário, pode tornar até mesmo um exame ginecológico simples extremamente doloroso. A especialista Patrícia Zaidan atende casos de pacientes lésbicas que não se submetem à penetração e que, por vezes, precisam recorrer ao uso de dilatadores vaginais para corrigir quadros de atrofia e preservar a saúde vaginal. A orientação de um profissional é crucial nessas situações, cujas recomendações ecoam diretrizes de importantes instituições de saúde como o Hospital Israelita Albert Einstein, que também aborda a relevância da fisioterapia pélvica em seus materiais informativos.

Fisioterapia Pélvica para Homens e o Cenário Pós-Prostatectomia

A fisioterapia pélvica não se restringe à saúde feminina; para os homens, ela se apresenta como uma aliada essencial, especialmente no período pós-operatório de uma prostatectomia, que é a cirurgia para remoção da próstata, geralmente em casos de câncer. Uma das complicações mais frequentes e impactantes após este procedimento é a incontinência urinária, cuja incidência pode variar amplamente, de 2% a 87% dos casos, dependendo da severidade do câncer e da extensão da intervenção cirúrgica. Felizmente, os avanços na cirurgia robótica têm contribuído significativamente para amenizar essa situação, reduzindo o trauma tecidual e preservando estruturas adjacentes importantes para a continência.

O grande desafio anatômico pós-prostatectomia reside no fato de que o paciente passa a depender de apenas um esfíncter para o controle urinário. Uma breve explicação de anatomia pélvica revela que o corpo humano possui, na região da bexiga, dois esfíncteres com funções distintas: o esfíncter uretral interno, que funciona de maneira involuntária e automática, mantendo a urina armazenada na bexiga, e está localizado na junção entre a bexiga e a uretra; e o esfíncter uretral externo, que é voluntário e é acionado quando, por vontade própria, decidimos urinar, envolvendo a uretra mais abaixo e sendo auxiliado diretamente pelos músculos do assoalho pélvico.

Durante a prostatectomia, o esfíncter uretral interno é invariavelmente removido junto com a próstata. Consequentemente, o paciente precisa aprender a contar exclusivamente com a funcionalidade do esfíncter externo para manter a continência. Se, além disso, parte do tecido desse esfíncter externo for retirada ou danificada durante a cirurgia, sua capacidade de “preensão” — ou seja, de reter a urina de forma eficaz — é drasticamente comprometida, culminando em incontinência que pode variar em intensidade.

A intervenção fisioterapêutica para homens nesses casos é crucial e envolve, por exemplo, o uso de um eletrodo posicionado no canal anal ou na região perineal. Este eletrodo gera estímulos que promovem a contração do músculo, permitindo que o paciente se torne consciente desse movimento. Através de sessões progressivas e exercícios controlados, o paciente passa a dominar a contração voluntária da musculatura, retomando gradualmente a preensão urinária, conforme destaca Patrícia Zaidan, facilitando o retorno à normalidade.

Em situações onde a cirurgia prostática é muito extensa ou os danos aos esfíncteres são severos, o tratamento conservador da fisioterapia pode não ser suficiente para restaurar a continência completa. Nesses casos, duas alternativas cirúrgicas podem ser consideradas: o “sling” masculino, que consiste na colocação de uma malha sintética para dar suporte adicional e reforço à uretra, ou, como último recurso, o implante de um esfíncter artificial para restaurar o controle voluntário sobre o fluxo urinário. Além da questão da continência, a fisioterapia pélvica também desempenha um papel importante na reabilitação de quadros de disfunção erétil que podem ocorrer após a remoção da próstata, já que é relativamente comum que haja uma pequena lesão dos nervos ou dos próprios músculos eretores do pênis durante o procedimento cirúrgico, afetando a função sexual masculina.

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Em suma, a saúde do assoalho pélvico é um componente indispensável para a manutenção da continência e uma vida sexual satisfatória em todas as idades e gêneros. O reconhecimento precoce de disfunções e a busca por intervenções especializadas, como a fisioterapia pélvica, são cruciais para restaurar a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos. Para aprofundar-se em outros temas relevantes para sua saúde e bem-estar, explore mais artigos e análises detalhadas disponíveis em nossa seção de análises.

Crédito da imagem: Mariza Tavares

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