Gilberto Gil: ‘Raça Humana Reloaded’ Celebra Obra

Últimas Notícias

O álbum ‘Raça Humana Reloaded’ de Gilberto Gil, aguardada edição comemorativa, chega às plataformas de áudio no próximo dia 31 de outubro. Esta reinterpretação do clássico disco de 1984 traz o repertório autoral de Gilberto Gil revitalizado por um time de talentos emergentes da música brasileira, evidenciando a perenidade e a relevância de sua obra ao longo de décadas.

A força da criação autoral de Gil se mantém inquestionável, reverberando em diferentes gerações. A proposta deste lançamento, assinado pela Xirê, é justamente perpetuar um legado que o próprio artista baiano já solidifica, em sua atual turnê “Tempo Rei”, com a qual revisita o vasto cancioneiro iniciado em Salvador (BA) em 1962, arrastando multidões pelo Brasil.

Gilberto Gil: ‘Raça Humana Reloaded’ Celebra Obra

A década de 1980 marcou um período de intensas transformações no cenário musical brasileiro, com o rock provocando uma “Blitz” na Música Popular Brasileira, abrindo novos mercados e ouvidos para uma geração jovem desvinculada de uma devoção cega à MPB. Artistas visionários como Caetano Veloso e Gilberto Gil, atentos à efervescência tropicalista, abraçaram essa onda pop rock. Observa-se essa mudança na discografia de Gil em “Extra” (1983) e, mais incisivamente, em “Raça Humana” (1984), que se alinhou à New Wave, com uma fusão de guitarras e sintetizadores que gerou um repertório de forte apelo pop. Caetano, contemporaneamente, lançou o álbum “Velô”, também com ambiência roqueira. O “Raça Humana Reloaded” resgata esse período, reimaginando as nove faixas na mesma sequência do LP original.

O elenco de artistas convidados, em sua maioria, teve sua ascensão no século XXI, à exceção de Chico César, cantor projetado em 1995, que regravou a faixa-título “Raça Humana” em colaboração com Flor Gil, neta do icônico compositor e vocalista ainda em seu processo de amadurecimento artístico.

Mesmo reconhecendo que a coleção autoral reunida no álbum “Raça Humana” original pode não ser a mais coesa de sua discografia, foi nele que duas das mais importantes canções de Gilberto Gil surgiram, transcendendo gerações. Uma delas é a balada filosófica “Tempo Rei”, que ganha uma reinterpretação sensível em “Raça Humana Reloaded” por Mãeana, enriquecida pelo toque da sanfona de Mestrinho. A gravação, produzida por Bem Gil e Sebastião Notini, faz uma referência marcante ao fim de um verso de “Oração ao Tempo” (1979), canção de Caetano Veloso, ao citar a frase “És um senhor tão bonito”.

A segunda grande obra a despontar neste álbum é “Vamos Fugir”, um reggae resultante da parceria entre Gil e o produtor Liminha. No contexto de “Reloaded”, esta canção ganha a roupagem da banda Jovem Dionísio. Embora o novo arranjo eletrônico, moldado pelo sintetizador do produtor da faixa, Rodrigo Lemos da Silva, procure conferir um balanço diferente ao reggae, a música mantém sua vitalidade, apesar de um registro considerado um tanto menos cativante que o original.

Outros momentos de destaque da coletânea incluem “Extra II (Rock do segurança)”, música que o próprio Gil revitaliza no roteiro da atual turnê “Tempo Rei”. No “Reloaded”, a faixa é reconstruída e assume um DNA roqueiro distinto na gravação de Ana Frango Elétrico, que também assina a produção musical. A canção “Pessoa Nefasta”, que obteve projeção na época do lançamento do álbum original, passou por um processo de reconstrução semelhante, recebendo uma abordagem particular de Silvia Machete e Teago Oliveira, com arranjos de metais orquestrados pelo maestro Dudinha e o uso de samples dos vocais de Gil extraídos do registro de 1984.

Mariana Volker reaviva “Feliz por um Triz” com acerto, entregando uma performance correta em uma música intrinsecamente menos atraente. Jota.Pê reitera sua classe vocal e vigor em “A Mão da Limpeza”, uma faixa que aborda o racismo estrutural da sociedade, “arquitetada pelo branco sujão”, como exposto por Gil na letra. A música é um ponto de expressão de orgulho negro do compositor, ao denunciar a injustiça social do Brasil racista, com Jota.Pê cantando: “Limpando as manchas do mundo com água e sabão / Negra é a mão de imaculada nobreza”. Produzida pelo baterista e percussionista Kabé Pinheiro, “A Mão da Limpeza” é considerada o ponto mais elevado da regravação, sobressaindo até mesmo sobre o registro original do artista em 1984.

A banda Os Garotin também contribui com uma performance notável em “Índigo Blue”, em uma gravação arranjada por Julio Raposo e Pepê Santos, que mantém o poder de sedução da melodia original do refrão. Para finalizar, o sanfoneiro Mestrinho se destaca na recriação de “Vem Morena”, um baião de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, composto em 1950. Esta é a única canção cantada por Gil no álbum “Raça Humana” que não fazia parte do repertório autoral que guia o disco, demonstrando a versatilidade de influências do artista. Em tributos coletivos, as variações de qualidade são comuns, dado que cada artista geralmente possui liberdade estética para orquestrar a produção de sua própria faixa. Apesar desses altos e baixos, a edição “Raça Humana Reloaded” reafirma a perene força e atualidade do cancioneiro de Gilberto Gil, cuja obra permanece um dos maiores tesouros da música brasileira, destinando-se a perpetuar-se espontaneamente. Para mais detalhes sobre a influência da MPB no Brasil, você pode consultar o verbete da Música Popular Brasileira na Wikipédia.

Confira também: crédito imobiliário

Em suma, o relançamento “Raça Humana Reloaded” é um tributo que solidifica a obra de Gilberto Gil, conectando-o a novas vozes e públicos. Mergulhe nas recriações dessas canções atemporais e continue explorando o universo da música brasileira em nossa editoria de celebridades e cultura.

Foto: Reprodução / Facebook Gilberto Gil

Deixe um comentário