O dólar operou próximo à estabilidade nesta sexta-feira (24), mantendo a atenção dos investidores voltada para as recentes divulgações de importantes dados relacionados às taxas de inflação, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Este cenário complexo, marcado pela flutuação da moeda norte-americana e pelas decisões de política monetária global, indica um período de cautela e expectativa nos mercados financeiros.
Às 9h23, o dólar americano apresentava uma ligeira valorização de 0,05%, sendo cotado a R$ 5,388. Esse movimento sutil sucede o fechamento de quinta-feira, quando a moeda havia registrado uma queda de 0,21%, estabilizando-se em R$ 5,385. No mesmo dia, a Bolsa de Valores demonstrou um comportamento oposto, com alta de 0,58%, atingindo a marca de 145.720 pontos, refletindo uma dinâmica multifacetada que define o mercado nacional. No pregão anterior, quinta, o dólar havia recuado 0,37% para R$ 5,441, e a Bolsa também cedeu 0,28%, fechando a 142.200 pontos.
Dólar opera estável, inflação de Brasil e EUA em foco
No front doméstico, a manhã desta sexta-feira trouxe à tona os dados da inflação brasileira, que é um dos fatores-chave na formação da taxa de câmbio. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou significativamente em outubro, registrando uma variação de 0,18%. Este percentual representa uma queda notável em relação aos 0,48% apurados em setembro, indicando um possível alívio nas pressões inflacionárias do país. A taxa de 0,18% se destaca como a menor para um mês de outubro nos últimos três anos, superando o patamar de 0,16% observado em 2022.
Este resultado do IPCA-15, divulgado antecipadamente, foi mais favorável do que a mediana das projeções elaboradas pelo mercado financeiro. Conforme informações da agência Bloomberg, a expectativa geral apontava para uma inflação de 0,21%. O fato de o índice ter ficado abaixo das previsões sugere que a política monetária atual e as condições econômicas estão produzindo um efeito de moderação nos preços. O IPCA-15, por sua natureza de prévia, é um indicativo importante da tendência do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação no Brasil.
Paralelamente à análise interna, o cenário internacional se mantém como um ponto de vigilância constante para os operadores de mercado, especialmente com a proximidade da divulgação dos dados de inflação dos Estados Unidos. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI), a ser divulgado ainda nesta manhã, é um barômetro fundamental para a política monetária global. As expectativas do mercado para o CPI de setembro indicam um possível avanço de 3,1% na base anual. Uma aceleração neste ritmo torna mais desafiador o esforço do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, em atingir sua meta de inflação de 2% ao ano.
Embora o CPI não seja a métrica preferida pelo Fed para a inflação, que normalmente prioriza os dados do Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE), este relatório ganha uma importância amplificada. A paralisação do governo federal norte-americano, que suspendeu temporariamente as divulgações macroeconômicas devido à falta de regularização da verba orçamentária, elevou a relevância do CPI. Desde o início do ‘shutdown’, no princípio do mês, os analistas e operadores têm trabalhado com menos referências sobre a saúde da economia dos Estados Unidos. Mais grave, o próprio Fed, que embasa suas decisões sobre juros em dados oficiais, encontra-se sem a totalidade de informações necessárias.
Jerome Powell, presidente da autarquia, chegou a reconhecer que esta paralisação poderia transformar-se em um problema mais grave no longo prazo para a autoridade monetária. Para contornar a situação, os dirigentes do Fed têm se valido de publicações e análises complementares para avaliar o estado da economia. A próxima reunião do comitê de política monetária do Banco Central norte-americano está agendada para os dias 28 e 29 de outubro. As projeções de mercado amplamente precificam a continuidade do ciclo de cortes de juros, iniciado no encontro anterior, quando a taxa foi reduzida em 0,25 ponto percentual, fixando-a entre 4% e 4,25%. De acordo com a ferramenta CME FedWatch, há uma probabilidade próxima de 100% para uma nova redução de 0,25 ponto percentual no próximo encontro.
A percepção de que um corte nas taxas de juros americanas em outubro já é dado fundamenta-se, mesmo sem a completa referência dos dados oficiais, na observação de uma persistente desaceleração do mercado de trabalho. Julia Coronado, fundadora da MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed, reitera que “nada mudou a perspectiva de que ainda há riscos de queda no mercado de trabalho”. Tradicionalmente, reduções nos juros dos Estados Unidos são bem recebidas pelos mercados financeiros globais. A economia norte-americana, por ser considerada a mais sólida do mundo, torna os títulos do Tesouro (treasuries) um investimento de risco praticamente nulo. Em períodos de juros elevados, o rendimento atraente das treasuries capta recursos de outros mercados; quando os juros declinam, a busca por diversificação se intensifica, e investimentos alternativos ganham destaque.
No que concerne ao Brasil, existe um fator adicional que tende a favorecer os ativos domésticos: o diferencial de juros. Com a queda das taxas de juros nos Estados Unidos e a manutenção da Selic em patamares elevados no Brasil, investidores exploram a estratégia de “carry trade”. Esta prática consiste em tomar empréstimos a taxas de juros baixas, como a americana, para investir em mercados com taxas de juros mais elevadas, como o brasileiro. Esse movimento de capital, ao ser aplicado no Brasil, implica na aquisição de reais, o que, por sua vez, tende a promover a desvalorização do dólar. “Se o CPI não vier mais forte amanhã e com corte de juros pelo Fed na próxima quarta-feira, não seria surpresa o real voltar a subir e o dólar se aproximar de R$ 5,30 novamente”, avaliou José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos, em análise enviada a seus clientes.

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A taxa Selic, conforme indicado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em sua última reunião, deverá permanecer em patamares elevados por um período “bastante prolongado”. Atualmente, os juros estão fixados em 15% ao ano, o ponto mais alto em quase duas décadas, um reflexo da preocupação da autoridade monetária com a inflação e as expectativas inflacionárias, que ainda persistem fora da meta estabelecida. Gabriel Galípolo, presidente do BC, enfatizou durante o Fórum Econômico Indonésia-Brasil, em Jacarta, que “a inflação e expectativas seguem fora do que é a meta, isso é um ponto de bastante incômodo para o Banco Central, mas estamos falando de uma inflação que está num processo de redução e retorno para a meta em função de um Banco Central que vem se mostrando sempre bastante diligente e tempestivo no combate a qualquer tipo de processo inflacionário”.
Contudo, Galípolo optou por não emitir previsões sobre o momento em que a inflação poderá convergir para a meta de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, significando que o objetivo é alcançado quando o IPCA se encontra entre 1,5% e 4,5%. A mais recente pesquisa Focus projeta um encerramento do IPCA em 4,70%, sem indicar que o índice atingirá o centro da meta anualmente até 2028. Você pode encontrar mais informações sobre políticas monetárias globais e índices econômicos acessando a seção de economia da Bloomberg, fonte das projeções mencionadas anteriormente.
Paralelamente às questões monetárias, os investidores também acompanham o cenário das contas públicas no Brasil. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a buscar soluções para o Orçamento federal, especialmente após o Congresso ter arquivado, no início do mês, a Medida Provisória (MP) dos Impostos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adiantou à Folha – informação posteriormente confirmada em entrevista à Globonews – que o Executivo dividirá as medidas de compensação relativas à MP em dois projetos de lei. Um dos projetos focará no controle de despesas, com impacto estimado em R$ 20 bilhões. O segundo, por sua vez, visa aumentar a tributação sobre apostas esportivas (bets), fintechs e Juros sobre Capital Próprio (JCP), que são uma modalidade de remuneração para acionistas, projetando um incremento de receita de R$ 8,3 bilhões para 2025, conforme cálculos preliminares do governo.
Adicionalmente, um elemento político adicionou-se à discussão econômica, com o presidente Lula confirmando sua intenção de disputar a reeleição no próximo ano. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, durante o mesmo evento na Indonésia em que Gabriel Galípolo esteve presente. Em suas palavras, Lula expressou: “Eu vou completar 80 anos, mas pode ter certeza que eu estou com a mesma energia de quando eu tinha 30 anos de idade. E vou disputar um quarto mandato no Brasil”, declaração proferida ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.
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Este complexo panorama, envolvendo a estabilidade do dólar, as projeções e resultados da inflação no Brasil e nos EUA, as decisões de juros e a movimentação política, demonstra a intrincada rede de fatores que moldam a economia global e nacional. Para mais análises aprofundadas sobre economia, política e as dinâmicas de mercado, convidamos você a explorar outras matérias na nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Gabriel Cabral – 26.jan.19/Folhapress


