Uma operação policial deflagrada na sexta-feira (24) revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) elaborou um minucioso plano de assassinato de um promotor de Justiça e de um coordenador de presídios em São Paulo. As investigações indicam que o alvo da facção era o promotor Lincoln Gakiya e Roberto Medina, que atua como coordenador de presídios na região Oeste do estado.
O levantamento da rotina desses alvos feito pela organização criminosa, que precede a etapa de execução, coincide com o período em que os suspeitos do homicídio do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, monitoravam sua rotina em cidades do litoral paulista. Esta similaridade nas ações levanta a possibilidade de uma conexão entre os eventos, intensificando a atenção das autoridades sobre as estratégias do PCC.
PCC: Plano de Assassinar Promotor e Chefe de Presídios Descoberto
A investigação aponta que um veículo modelo Logan, de cor branca, já circulava na cidade de Praia Grande desde o mês de julho, concentrando suas aparições nos dias em que o ex-delegado Ferraz se encontrava em seu posto na prefeitura como secretário de Administração. Essa movimentação, revelada pelo programa Fantástico da TV Globo com base em imagens de mais de 3 mil dispositivos de câmeras da cidade, sugere um mapeamento detalhado da rotina de Ferraz, precedendo seu assassinato ocorrido em 15 de setembro deste ano. A suspeita é de que o mesmo veículo estaria reservado para a fuga dos executores.
Documentos obtidos em presídios do interior de São Paulo, apreendidos no mês anterior, junto a relatórios de inteligência, corroboram as articulações internas do PCC e indicam uma possível ligação entre os esquemas de atentado contra agentes públicos e o assassinato de Ruy Ferraz. Tais registros, conforme os levantamentos, mencionam a existência de uma lista com nomes de autoridades e membros da polícia que, no passado, combateram líderes da facção. As ordens para a retaliação, segundo a documentação analisada, seriam emitidas por Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido como Azul ou Colorido, que havia sido libertado da prisão federal de Mossoró (RN) no início de agosto. Azul é reconhecido como uma das figuras proeminentes do grupo criminoso, com responsabilidade pela coordenação do tráfico de entorpecentes na Baixada Santista. Após o homicídio de Ruy Ferraz, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, não descartou a possível implicação de Azul na execução do ex-delegado-geral.
Detalhes da Operação e Perfis dos Suspeitos
Os indivíduos suspeitos de tramar os homicídios do promotor de Justiça Lincoln Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina foram os alvos da recente operação policial. O Ministério Público e a Polícia Civil de São Paulo cumpriram um total de 25 mandados de busca e apreensão. A Justiça também autorizou a quebra dos sigilos telefônico e telemático dos investigados, medida essencial para os policiais apurarem o envolvimento de mais pessoas neste complexo esquema. As forças de segurança afirmam com convicção que a diretriz para atacar Gakiya e Medina emanou diretamente do PCC.
Os mandados judiciais foram distribuídos em sete cidades paulistas: Presidente Prudente, com 11 ordens; Álvares Machado, com 6; Martinópolis, com 2; Pirapozinho, também com 2; Presidente Venceslau, com 2; Presidente Bernardes, com 1; e Santo Anastácio, com 1 mandado. A investigação, coordenada pela Seccional de Presidente Prudente, foi iniciada em julho, após a prisão em flagrante de um homem por tráfico de drogas. A análise do telefone celular de Vitor Hugo da Silva, conhecido pela alcunha VH, desvendou sua participação ativa em um plano para eliminar o coordenador de presídios Roberto Medina. Entre os materiais descobertos, estava um detalhado dossiê sobre a rotina de Medina, composto por fotos e vídeos que mapeavam o percurso diário do coordenador entre sua residência e local de trabalho. Áudios recuperados também revelaram conversas entre os criminosos, nas quais expressavam preocupação em serem filmados nas redondezas da residência da autoridade.

Imagem: g1.globo.com
Evolução da Investigação e Novas Descobertas
A partir da detenção de VH, os investigadores seguiram a pista que os levou a Wellison Rodrigo Bispo de Almeida, também conhecido como Corinthinha, igualmente identificado como integrante do Primeiro Comando da Capital. Wellison foi detido ao longo do andamento das investigações. Apesar de sua residência em Martinópolis, ele havia locado uma chácara situada a 53 quilômetros de distância, em Presidente Bernardes. Em sua defesa, Wellison alegou que estava se esquivando de um policial que o havia ameaçado de morte, mas as autoridades refutam essa versão, sustentando que sua presença no local era um indicativo de que agia a mando do PCC para vigiar os passos de Roberto Medina.
Um terceiro indivíduo suspeito de envolvimento direto nos planos de atentado contra as autoridades foi identificado: Sérgio Garcia da Silva, codinome Messi. Ele foi detido em 26 de setembro, em uma operação de combate ao tráfico de drogas. Durante a ação, um aparelho celular encontrado sob um travesseiro continha trocas de mensagens que explicitavam seu engajamento no plano de assassinar não apenas Medina, mas também o promotor de Justiça Lincoln Gakiya. Adicionalmente, capturas de tela foram descobertas no dispositivo, ilustrando o itinerário que Gakiya costumava percorrer em seu trajeto diário entre casa e trabalho. As investigações mais recentes ainda revelaram que os suspeitos tinham alugado uma casa a uma distância inferior a um quilômetro do condomínio residencial onde o promotor Lincoln Gakiya mora, sugerindo uma base de operações estratégica para o monitoramento e planejamento. Imagens aéreas obtidas demonstraram que várias pessoas se reuniam nesta residência, que também era utilizada como um ponto para a distribuição de entorpecentes, consolidando o envolvimento da estrutura criminosa nos dois planos.
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A continuidade das operações e o aprofundamento das investigações são cruciais para desmantelar por completo as ramificações dos planos de ataque do PCC. Este caso sublinha a complexidade e a ameaça contínua que as grandes facções criminosas representam para a segurança pública e para a integridade de figuras chave no sistema de justiça e penitenciário. Para aprofundar a discussão sobre temas relacionados à criminalidade organizada e seus desdobramentos, convidamos você a explorar mais conteúdos em nossa seção de Política.
Crédito da imagem: Montagem/g1/Reprodução/TV Globo


