Polícia Civil relata inquérito morte Letícia motel Indaiatuba

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A Polícia Civil de Indaiatuba (SP) concluiu o inquérito referente à morte Letícia Moreira Barbosa em um motel de Indaiatuba, ocorrida em 5 de abril. A jovem de 24 anos, socorrida já desacordada, não teve o homem que a acompanhava no local indiciado pelas autoridades. Embora a perícia tenha apontado asfixia como causa do óbito, um laudo complementar, recebido do Instituto Médico Legal (IML) de Campinas (SP) após seis meses da ocorrência, foi considerado inconclusivo pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) quanto à forma exata da asfixia.

O caso foi formalmente encaminhado ao Ministério Público (MP) na terça-feira (21), responsável por analisar os fatos e decidir sobre a eventual oferta de denúncia à Justiça, solicitação de diligências adicionais ou arquivamento do inquérito. A notícia da ausência de indiciamento foi recebida com surpresa pelo pai de Letícia, José Carlos. Ele expressou que “Os laudos desde o começo estão dizendo que ela foi esganada. Ela estava com álcool no corpo, e não consumiu no motel. Ela foi esganada, enforcada, quebrou o pescoço dela”.

Policial Civil relata inquérito morte Letícia motel Indaiatuba

De acordo com o boletim de ocorrência (BO), Igor Brito Rocha da Silva, que mantinha um relacionamento de aproximadamente três meses com Letícia, relatou à Polícia Civil que eles consumiram bebidas alcoólicas e energéticos antes de chegarem ao motel. Durante a estadia, ele afirmou que a vítima sofreu um sangramento durante o ato sexual. Após alertar Letícia e ir ao banheiro para se higienizar, Igor teria percebido que ela estava inconsciente ao retornar ao quarto. Ele imediatamente acionou os funcionários do motel para pedir assistência. Letícia foi prontamente socorrida e levada ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), onde teve a morte constatada. O suspeito não foi localizado pela reportagem.

Investigação Inicial e Rumores Circulantes

O incidente foi inicialmente registrado como morte suspeita. O delegado Luís Philippe Braga Garcia Santos, responsável pelo plantão policial, informou ter recebido as primeiras comunicações da Polícia Militar indicando que a mulher foi hospitalizada em decorrência de sangramento. O delegado também ressaltou que, conforme a PM, o quarto do motel não apresentava quaisquer sinais de violência, apenas vestígios de sangue relacionados à suposta hemorragia vaginal. Diante dessas informações preliminares, foram solicitadas perícias, incluindo exames necroscópico e toxicológico. No dia da ocorrência, 5 de abril, não havia ainda informações conclusivas sobre a causa do falecimento.

No mesmo dia da morte, iniciou-se uma circulação de informações em grupos de mensagens sugerindo que a médica legista teria identificado lesões compatíveis com violência sexual, traumatismo craniano e asfixia mecânica no corpo de Letícia. “Chegou ao meu conhecimento de maneira informal, teriam sido publicadas em grupos de policiais”, detalhou o delegado Luís Philippe, o que o levou a determinar que o suspeito fosse novamente ouvido. Igor compareceu à delegacia acompanhado da família e, em novo depoimento, forneceu seu aparelho celular e senha para análise. Diante da disseminação extraoficial de que o laudo já estaria pronto, o delegado contactou a médica legista, que confirmou a espera por exames complementares. Assim que emitido, em 7 de abril, o laudo confirmou a asfixia como causa da morte, porém não corroborou o traumatismo e os sinais de violência sexual veiculados nas redes sociais.

Asfixia: Dúvidas Sobre a Ocorrência

Inicialmente, suspeitou-se de hemorragia como causa da morte, em concordância com a versão apresentada por Igor. No entanto, o laudo pericial final indicou a asfixia como causa determinante do óbito. O documento técnico descreve: “(…) Ao exame da região do pescoço foi encontrada fratura do osso hioide, juntamente com outros sinais de asfixia, que é causado por trauma direto da região, como em uma esganadura, portanto a causa mortis foi em decorrência de asfixia”.

A delegada Fernanda Hetem, titular da DDM de Indaiatuba, pontua que a expressão “como em uma esganadura”, em vez de “por uma esganadura”, é um fator crítico para a continuidade da investigação da morte de Letícia. Segundo ela, essa formulação indica que a maneira exata como a asfixia ocorreu permanece sem definição, havendo diversas possibilidades. “Eu não tenho essa informação de como se deu essa asfixia, existem muitas maneiras de ter acontecido. Por isso, por eu não ter essa informação de como aconteceu, eu fiz um novo pedido de laudo complementar com quesitos específicos, porque da mesma maneira que pode ter havido uma esganadura, e pode ter havido uma esganadura, pode não ter havido, pode ter sido alguma outra coisa que causou asfixia na vítima”, explicou a delegada. Ela acrescentou que buscou o esclarecimento de pontos técnicos com outros médicos legistas, os quais foram uníssonos ao afirmar que não é possível “com toda certeza” concluir por esganadura – termo que implica a constrição do pescoço pelas mãos, algo consistentemente negado pelo homem em seus depoimentos. A investigação aguardava este novo laudo e o exame toxicológico para uma perspectiva mais clara sobre a classificação do caso, seja homicídio doloso ou culposo, ou uma morte acidental.

Além disso, a fratura do osso hioide, localizado na região anterior do pescoço, levantou questões sobre o momento de sua ocorrência – se anterior ou posterior à morte –, sendo mais um ponto de esclarecimento requerido no laudo complementar.

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Imagem: g1.globo.com

Relação Sexual e Sangramento

Fernanda Hetem informou que o suspeito foi questionado em diversas ocasiões se, durante o ato sexual, teria exercido pressão no pescoço de Letícia, algo que ele consistentemente negou. Em busca de indícios de práticas sexuais que pudessem ter contribuído para a asfixia, ainda que sem intenção, a delegada ouviu duas ex-companheiras de Igor. Os depoimentos das mulheres, contudo, corroboraram a versão apresentada pelo suspeito.

A lesão vaginal que resultou no sangramento de Letícia também foi objeto de análise. Conforme a delegada, a jovem utilizava medicação devido a um problema cardíaco pré-existente, condição que, após a lesão, teria favorecido a intensidade do sangramento. Os legistas consultados indicaram que esta lesão era compatível com uma posição sexual em que a mulher se encontra de costas para o parceiro, corroborando o relato do homem. Ele havia afirmado ter suposto que a vítima menstruava, ido se lavar e, ao retornar, a encontrou inconsciente. A delegada detalhou: “Condiz exatamente com o que ele falou. (…) lacerou ali realmente, tem um ferimento ali, e que sangrou muito por causa da condição dela. É superficial, não é órgão interno. Não tem nenhum sinal de violência sexual, e no quarto não tinha nenhum sinal de luta.”

Andamento da Investigação e Família

A Polícia Civil de Indaiatuba aguardava a finalização dos laudos complementares para determinar a natureza exata da asfixia, buscando definir se a morte de Letícia configurava crime (homicídio culposo ou doloso) ou se foi um acidente. A delegada destacou que, devido à ausência de requisitos para prisões cautelares, o suspeito responde em liberdade. O princípio da presunção de inocência, fundamental na legislação brasileira, prevalece até prova em contrário. Embora a advogada da família de Letícia tenha solicitado a prisão do suspeito à Justiça, o pedido não foi aceito diante das evidências já apuradas.

A família de Letícia, por sua vez, contesta veementemente a narrativa apresentada pelo suspeito. José Carlos, pai da jovem, relatou ao G1 que sua filha nasceu com uma condição cardíaca grave, tendo passado por seis intervenções cirúrgicas desde a infância, o que a impedia de consumir álcool ou energéticos. Ele também afirmou nunca ter sido formalmente apresentado a Igor, destacando que era apenas a terceira vez que a filha saía com o homem. “Minha esposa diz que eles estavam começando a se conhecer. Até então ela [Letícia] não tinha namorado com ninguém ainda”, comentou José Carlos, que já havia enfrentado a perda de outro filho, diagnosticado com microcefalia e falecido há cerca de três anos após décadas acamado. Ele descreve Letícia como uma jovem caseira e extremamente ligada à família: “Minha filha não saía de casa. Ia de casa para o trabalho, passava na academia e vinha para casa. Ela ia trabalhar com a mãe dela para não ficar sozinha em casa. A gente ia à praia junto, ela ia cortar o cabelo junto com a mãe, ia fazer unha junto, compra junto. Tudo a gente sempre fez junto.”

A complexidade de um inquérito como este exige um trabalho minucioso de diferentes órgãos e peritos, a fim de garantir que todos os elementos sejam considerados para uma conclusão justa e precisa, conforme prevê a legislação. O Ministério Público tem um papel crucial na supervisão desses procedimentos, como detalha o site do Ministério Público Federal, onde informações sobre as funções do órgão podem ser acessadas.

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O caso da morte de Letícia em Indaiatuba sublinha a delicadeza das investigações envolvendo causas de óbito complexas. A Polícia Civil cumpriu sua parte ao concluir e relatar o inquérito ao Ministério Público, que agora analisará o desfecho processual. A família segue em busca de respostas sobre o falecimento da jovem, esperando por clareza e justiça. Continue acompanhando a cobertura detalhada em nossa editoria de Cidades para mais atualizações sobre este e outros temas relevantes para a comunidade.

Foto: Arquivo pessoal

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