A crescente ocorrência de veados albinos em SC tem capturado a atenção de pesquisadores e moradores na região do Parque Nacional da Serra do Itajaí, em Santa Catarina. Desde dezembro de 2024, registros incomuns de cervídeos portadores de albinismo, uma condição genética rara marcada pela ausência de pigmentação na pele e nos pelos, indicam um possível aumento da presença desses animais na natureza.
De acordo com Viviane Daufemback, gestora do Parque Nacional, o primeiro registro documentado foi em dezembro de 2024, na localidade de Porto Verá, cujo animal atualmente está sob cuidados no Zoológico de Brusque. Posteriormente, a partir de julho do ano corrente, três novas aparições foram observadas: uma no município de Indaial (SC) e outras duas em Guabiruba (SC). A distância entre as cidades sugere a presença de indivíduos distintos, totalizando, potencialmente, três veados diferentes registrados desde o final do ano passado.
Veados Albinos em SC: Aparições Levantam Debate sobre Conservação
A recente frequência dessas ocorrências é notável. Márcio Leite de Oliveira, pesquisador da Unesp Araraquara e especialista em cervídeos, aponta que os animais avistados nos vídeos podem pertencer à espécie Mazama jucunda ou Mazama nana. Ele observa um aparente aumento na quantidade de registros de espécimes albinos no ambiente natural. “É complexo determinar se essa raridade é de fato intensificada ou se era previamente subnotificada. Um monitoramento sistemático da fauna seria essencial para um entendimento mais aprofundado, mas a consistência dos avistamentos sugere um crescimento. Notamos também que eles estão frequentemente se exibindo nas bordas da floresta”, comenta Daufemback.
O Parque Nacional da Serra do Itajaí e seus Desafios
Com uma extensão aproximada de 57 mil hectares, o Parque Nacional da Serra do Itajaí constitui uma das maiores e mais relevantes áreas de Mata Atlântica contínua no Sul do Brasil. Apesar de sua grandiosidade, a unidade de conservação enfrenta complexos desafios característicos de áreas cercadas por elevada densidade populacional. Uma parte considerável do parque é composta por terras privadas, havendo a coexistência de residentes e atividades diversas dentro de seus limites, além de ser circundado por centros urbanos e regiões rurais.
Essa proximidade gera pressões significativas, especialmente no que tange à caça ilegal. Espécies nativas como veados, queixadas, cutias e catetos tornam-se alvos constantes, impactando severamente a biodiversidade local. Para combater tais ameaças, a equipe do parque empreende iniciativas de fiscalização rigorosa e programas de educação ambiental. “A intensificação de ações combinadas de fiscalização e educação poderia, com certeza, render resultados mais positivos na redução da caça”, afirma a gestora Viviane.
A configuração montanhosa do terreno, recoberta por densos fragmentos florestais, forma um vital corredor ecológico. Essa característica geográfica é crucial para o deslocamento e a reprodução da fauna local. Contudo, a proliferação de estradas e o avanço das áreas urbanizadas causam uma fragmentação desse ecossistema, dificultando a sobrevivência de espécies mais sensíveis, sobretudo aquelas já impactadas por pressões antropogênicas diretas.
Saúde e Manejo de Veados Albinos
Um dos veados albinos avistados, após ser resgatado, foi encaminhado ao zoológico de Brusque, onde recebe atendimento veterinário especializado. Segundo a médica-veterinária responsável pelo caso, o animal apresenta diversas condições de saúde, incluindo severa deficiência visual (intensificada sob luminosidade intensa) e bronquite, uma doença respiratória que se agrava com as oscilações de temperatura.
Esses sintomas estão diretamente ligados à sua condição genética de albinismo. Conforme orientações do Guia de Manejo Emergencial de Cervídeos, a ausência de pigmentação nos cervídeos albinos os torna particularmente suscetíveis a enfermidades cutâneas, elevada sensibilidade ocular e complicações respiratórias. Adicionalmente, a falta de pigmento compromete a camuflagem natural, fator crucial para a sobrevivência desses animais em seu habitat selvagem.

Imagem: g1.globo.com
O manejo de cervídeos, sejam eles albinos ou não, é reconhecidamente delicado. O guia elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce/UNESP) sublinha a alta sensibilidade desses animais ao estresse, transformando qualquer resgate ou cativeiro em um enorme desafio. Diante da presença humana, que eles interpretam como predatória, os cervídeos manifestam comportamentos autodestrutivos, buscando freneticamente uma via de fuga. Esse esforço pode resultar em fraturas severas e, em casos extremos, culminar em morte por miopatia de captura, alerta o documento. As recomendações para procedimentos envolvem rapidez e silêncio, priorizando o transporte em caixas de madeira escuras e a abstenção de gaiolas metálicas, uma vez que cervídeos não reconhecem cercas ou grades como obstáculos físicos, o que pode levar a graves acidentes. Para mais informações sobre a proteção ambiental no país, você pode consultar o site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão fundamental na gestão de unidades de conservação como a Serra do Itajaí.
Fragmentação do Habitat e Endogamia
Embora o albinismo, por si só, não represente uma ameaça direta à espécie, a recorrência de sua manifestação pode sinalizar questões genéticas profundas, como a endogamia. Este fenômeno, caracterizado pelo cruzamento entre indivíduos geneticamente aparentados, é frequentemente intensificado pela diminuição populacional e pela fragmentação do habitat natural, que restringe o fluxo gênico.
A detecção de veados albinos em múltiplos pontos da região do Vale do Itajaí gera indagações relevantes sobre o estado de conservação da fauna local. Tal cenário reforça a urgência de um monitoramento contínuo das espécies na área. Casos como este evidenciam a indispensável colaboração entre entidades ambientais, zoológicos e comunidades locais. Um manejo eficiente, programas educativos voltados para o meio ambiente e o fomento à pesquisa são elementos fundamentais para assegurar a persistência das icônicas espécies de cervídeos da Mata Atlântica em suas florestas.
O Parque Nacional da Serra do Itajaí, apesar de seu status de refúgio vital, encontra-se imerso em pressões constantes. A sobrevivência e o equilíbrio dessas populações de cervídeos dependem intrinsicamente de nossas ações e de uma maior conscientização e cuidado com o ecossistema.
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