A **participação feminina no multilateralismo** emerge como um pilar indispensável para enfrentar os desafios globais contemporâneos. Em um cenário mundial repleto de instabilidade, cresce a necessidade de mecanismos de cooperação global, mas também aumenta o questionamento sobre sua real efetividade. Nesse contexto de paradoxo, a ausência de uma representação plena das mulheres nos fóruns de discussão compromete a legitimidade, a estabilidade e a capacidade de ação do sistema multilateral, deixando lacunas cruciais que afetam diretamente a busca por soluções duradouras para conflitos, desigualdades e a crescente desconfiança em instituições.
Desde a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, estabelecida há três décadas, a distância entre as metas e a realidade da inclusão de gênero em ambientes de cooperação internacional ainda é marcante. As mulheres, que representam metade da população mundial, são reconhecidas por seu papel crescente na promoção da paz, da colaboração mútua e do bem-estar comunitário. No entanto, números recentes, datados de 2024, revelam um desequilíbrio persistente: apenas 21% dos representantes permanentes nas Nações Unidas são mulheres, e um total de 19 organizações internacionais de destaque nunca foram dirigidas por uma líder feminina, expondo uma discrepância preocupante que afeta a diversidade de perspectivas e a abrangência das políticas adotadas.
Mulheres no Multilateralismo: Essencial para Eficácia Global
Uma nova dinâmica está sendo observada na Ibero-América, onde uma geração de mulheres está ativamente envolvida na redefinição das premissas do multilateralismo. Por meio de sua atuação em ministérios, instituições acadêmicas, redes da sociedade civil e movimentos sociais, elas promovem uma abordagem multifacetada. A diversidade de suas formações e experiências se une a uma crença comum: a cooperação em nível internacional deve, acima de tudo, servir para impactar e melhorar a vida das pessoas de forma concreta. Assim, o sucesso do multilateralismo não deve ser aferido pela quantidade de resoluções ou tratados firmados, mas sim pela sua competência em transformar essas diretrizes em iniciativas tangíveis de paz e de desenvolvimento que se materializem na prática diária.
Embora muitas vezes visto como uma estrutura abstrata, o multilateralismo é, fundamentalmente, uma prática que exige a capacidade de ouvir diversas vozes e construir soluções em conjunto. Nesse exercício, as mulheres trazem contribuições singulares, com uma perspectiva focada na prevenção de crises, na empatia e em uma visão mais ampla e integradora de segurança, que transcende a esfera militar. Evidências globais corroboram a importância dessa abordagem: quando mulheres são integradas em processos de paz, a probabilidade de os acordos perdurarem por um período mínimo de 15 anos aumenta em impressionantes 35%, demonstrando de forma clara o valor estratégico da diversidade e inclusão em negociações complexas, como pode ser visto em relatórios e estudos sobre o tema da participação feminina em processos de paz na ONU Mulheres.
A relevância da liderança feminina na região Ibero-americana se destaca, visto que esta área geográfica tem consolidado de maneira notável sua presença política no cenário global. Atualmente, a Ibero-América alcança a segunda posição mundial em termos de representatividade de mulheres em parlamentos nacionais. Contudo, essa evolução coexiste com persistentes desafios. Um exemplo é a baixa presença feminina na liderança de municípios, com apenas 16% das prefeituras sob gestão de mulheres. Além disso, dados alarmantes indicam que quase 80% das mulheres que atuam na política relatam ter sofrido alguma modalidade de violência em sua trajetória, somando-se a isso o encargo desproporcional de trabalho doméstico não remunerado, que restringe significativamente a sua plena e equitativa participação na vida pública.
A jornada rumo a um sistema multilateral verdadeiramente inclusivo e eficiente demanda a implementação de três pilares de transformação. O primeiro ponto é o reconhecimento formal e estrutural da liderança das mulheres, que implica na garantia da paridade de gênero em todas as instâncias, no investimento em programas de formação contínua e na criação de condições adequadas que favoreçam a conciliação da vida familiar e profissional. A segunda etapa foca no fortalecimento das redes de cooperação entre mulheres provenientes de distintas regiões e campos do saber, com o objetivo de capitalizar a vasta experiência Ibero-americana em iniciativas de diálogo construtivo e inovação social. Por fim, a terceira e decisiva transformação reside na conversão da igualdade em resultados mensuráveis, ou seja, em medir objetivamente o impacto positivo da presença e das decisões de mulheres em áreas críticas como a promoção da paz, a economia e a educação. Este passo é fundamental para que o conceito de igualdade transcenda o plano ideal e se estabeleça concretamente como um método operacionizado e contínuo de trabalho.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O futuro da governança internacional dependerá de sua aptidão para inovar e se adaptar. Nesse cenário, a liderança das mulheres não é apenas desejável, mas absolutamente crucial para edificar uma ordem global que seja mais justa, cooperativa e verdadeiramente eficaz. Suas contribuições vão além da simples reivindicação por mais espaço; elas estão remodelando a própria concepção da cooperação e do entendimento mútuo. Afinal, o multilateralismo genuíno não se constrói somente sobre os alicerces de tratados e acordos burocráticos, mas é sustentado primordialmente pela confiança recíproca entre as nações e seus povos. A paz, por sua vez, não é um documento que se assina, mas sim um processo contínuo que se edifica dia a dia. E a igualdade, mais do que uma meta a ser atingida, deve ser incorporada como uma filosofia e uma prática essencial de vida, presente em cada esfera de nossa existência.
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Este artigo ressalta a importância vital da participação feminina para a efetividade do multilateralismo global, apresentando dados concretos e desafios, enquanto destaca a promissora atuação das mulheres ibero-americanas. Para continuar explorando temas relevantes sobre o cenário político e social que impactam o Brasil e o mundo, convidamos você a acessar nossa editoria de Análises e manter-se informado.
Crédito da imagem: Pedro Ladeira – 1º.fev.25/Folhapress



