A busca por técnicas de memorização eficazes é uma constante para estudantes se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), especialmente nas últimas semanas antes das provas. Em meio à urgência e ao volume extenso de conteúdo, é comum que a “decoreba” surja como uma alternativa. No entanto, especialistas alertam que a memorização é um processo complexo no cérebro, com métodos que auxiliam e outros que podem prejudicar o desempenho, diferenciando quando a memorização é útil e quando deve ser evitada.
O Enem 2025 já tem datas marcadas para os dias 9 e 16 de novembro. O primeiro dia avaliará as áreas de Linguagens, Ciências Humanas e a temida redação, enquanto o segundo domingo será dedicado a Matemática e Ciências da Natureza. Entender como o cérebro absorve e retém informações é fundamental para uma preparação bem-sucedida em todas as disciplinas.
Enem: Técnicas de Memorização e a Armadilha da ‘Decoreba’
Como a Mente Humana Processa e Guarda Conhecimentos
A memorização é um processo ativo e mental que tem seu epicentro principalmente no hipocampo, localizado no lobo temporal do cérebro. Esse processo é dividido em três fases cruciais: a codificação, onde a informação é registrada; o armazenamento, onde ela é retida; e a recuperação, que é o ato de acessar a informação quando necessário.
Conforme explicado por Robson Batista Dias, psicólogo especialista em neuropsicologia e professor de pós-graduação na Rhema Neuroeducação, ao aprender algo novo, o cérebro estabelece conexões neurais, conhecidas como sinapses. “Quando um conteúdo é revisto e utilizado regularmente, essas conexões se fortalecem, caracterizando a potenciação de longo prazo (PLP)”, detalha Dias. Isso significa que quanto mais o estudante revisita e aplica o conhecimento, mais firmes se tornam as sinapses, tornando mais fácil a lembrança posterior. O treinamento cerebral é essencial: a cada revisão, o cérebro recebe um sinal de que aquela informação é importante, consolidando o aprendizado e mitigando o esquecimento, pontua Dias.
Em contrapartida, a prática de apenas decorar informações, sem qualquer tipo de associação de significado, faz com que o cérebro as guarde de maneira temporária na memória de curto prazo. Essa memória possui capacidade limitada e tende a perder o que foi registrado em questão de dias. Isso demonstra que a pressa em assimilar uma vasta quantidade de material antes do exame pode comprometer o rendimento do candidato, visto que as conexões criadas são mais frágeis e a capacidade de retenção em um período curto é naturalmente limitada.
O Impacto da Decoreba e Fatores que Prejudicam a Memória
Para que o conhecimento seja devidamente armazenado, não basta apenas aprender. Outros processos cognitivos precisam ocorrer, e diversos elementos podem interferir no percurso da memorização. Um dos maiores antagonistas, segundo Robson Dias, é a privação ou má qualidade do sono, momento crucial para a consolidação do que foi aprendido. Adicionalmente, outros fatores deletérios incluem a exaustão cognitiva, causada pela sobrecarga de estudos sem os devidos intervalos; o estresse e a ansiedade, que elevam o cortisol e dificultam a gravação de dados; a falta de rotina e organização, que impedem o cérebro de criar previsibilidade e foco; e os hábitos multitarefas, como estudar enquanto se distrai com o celular, que diminuem a atenção.
Estratégias de Estudo Validadas Para a Memorização no Enem
Enquanto a simples releitura de trechos, desprovida de reflexão, oferece um auxílio modesto, a compreensão e aplicação prática são os verdadeiros pilares para o sucesso da aprendizagem, segundo o psicólogo Robson Dias. Ele enfatiza a importância de empregar táticas cientificamente comprovadas, que são particularmente úteis nas semanas pré-Enem para consolidar a memória de longo prazo e evitar sessões exaustivas de estudo na véspera. Essas táticas são a chave para a memorização no Enem.
Entre as estratégias mais eficientes, Dias ressalta a prática de recuperação, também conhecida como “resgate ativo”, que envolve recordar o conteúdo sem consulta, utilizando ferramentas como flashcards, resumos mentais ou a resolução de exercícios. A revisão espaçada, que consiste em revisar a matéria em intervalos progressivamente maiores (como após 1 dia, 3 dias, 7 dias), também é fundamental. Por fim, a elaboração, técnica de explicar o conteúdo com as próprias palavras e fazer associações com vivências pessoais, é um método potente para reforçar a fixação.
O Equilíbrio entre Memorização e Compreensão no Exame Nacional
Embora o Enem abranja o vasto currículo do ensino médio, sua prova tem um caráter fortemente contextualizado e valoriza a interpretação como a habilidade primária. “A memorização desacompanhada da compreensão é ineficaz, especialmente em conteúdos que exigem raciocínio e aplicação, não apenas o ato de lembrar, como é o caso do Enem”, esclarece Dias. André Ricardo de Castro, renomado autor de Química e diretor do Colégio Fibonacci, corrobora que a mera “decoreba” não se alinha ao formato do exame. Ele salienta que as questões são elaboradas para testar habilidades e competências, e raras vezes datas específicas ou nomes complexos são cobrados desde a edição de 2009. Para ter um bom desempenho no Enem, a capacidade analítica é mais relevante.

Imagem: g1.globo.com
Entretanto, certos tópicos em algumas disciplinas podem se beneficiar da memorização pontual. Castro exemplifica com fórmulas de física e termos de biologia e química, que exigem memorização para a prova de Ciências da Natureza. Nesses contextos, o ideal é criar associações com algo que o aluno já conheça. Se não for viável, a construção de narrativas ou o uso de mnemônicos são úteis, desde que desenvolvidos pelo próprio estudante, o que potencializa a memorização. Os mnemônicos, ou “macetes”, são associações que facilitam o resgate de informações, como palavras, frases, siglas, imagens ou rimas. Informações sobre as áreas de avaliação do Enem podem ser encontradas no site oficial do Inep: Exame Nacional do Ensino Médio.
Por outro lado, em disciplinas como Matemática, onde a resolução de problemas depende essencialmente do raciocínio lógico, a “decoreba” de “atalhos” pode levar a erros e consumo indevido de tempo, direcionando o candidato para alternativas incorretas (distratores), como alerta André Castro. A prova de Linguagens, notoriamente interpretativa, também não se beneficia da memorização de regras gramaticais e ortográficas complexas, pois seu foco reside na capacidade de leitura e análise do estudante. Em relação à redação do Enem 2025, a Cartilha de Redação de 2025 adverte que o uso do “repertório de bolso” pode acarretar perda de pontos, uma vez que a avaliação espera que o candidato elabore argumentos contextuais, e não ideias pré-fabricadas.
Cautela com “Dicas” e “Macetes” das Redes Sociais
É fundamental ter cuidado com as supostas “soluções rápidas” encontradas em plataformas como o TikTok, que podem gerar uma falsa impressão de preparo ou até prejudicar os estudos para o Enem. “Não existem atalhos para alcançar um alto desempenho. Os ‘macetes’ e sugestões divulgados nas redes sociais não conseguem desenvolver as habilidades e competências cultivadas ao longo de doze anos de educação básica”, adverte André Castro. Na visão do professor, tais artifícios podem, na melhor das hipóteses, resultar no acerto ocasional de uma ou outra questão, o que teria um impacto marginal na nota final. O modelo estatístico da Teoria de Resposta ao Item (TRI) no Enem prioriza a coerência pedagógica sobre acertos fortuitos em um exame de 180 questões objetivas.
Verificar a credibilidade da fonte é outro aspecto crucial: enquanto há professores qualificados que oferecem material de qualidade nas mídias sociais, também existem influenciadores que, apesar da popularidade, não possuem expertise na preparação para exames como o Enem. Castro recomenda: “É preferível reduzir o tempo nas redes sociais e dedicá-lo mais intensamente aos estudos, utilizando técnicas comprovadamente mais eficazes.”
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Em suma, a preparação para o Enem demanda um enfoque inteligente, onde as técnicas de memorização no Enem são aliadas da compreensão e do raciocínio, e a “decoreba” é relegada a usos pontuais e muito específicos. Os especialistas são unânimes em apontar que a consistência, a prática de técnicas ativas de estudo e o cuidado com a saúde mental e o sono são mais eficazes do que qualquer “atalho”. Para aprofundar suas análises sobre as melhores estratégias para o exame e outros temas educacionais, continue explorando o conteúdo em nossa editoria de Análises.
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