Por Que A Frequência Sexual Diminui Em Relacionamentos Longos?

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É uma percepção comum que a frequência sexual em relacionamentos longos tende a diminuir com o tempo. Muitos casais se veem questionando os motivos por trás da desaceleração da intimidade que antes era pulsante. Relatos frequentes apontam que, no início de uma união, a paixão e o desejo sexual eram intensos, algo que se esperava perdurasse, mas que muitas vezes dá lugar a uma rotina menos estimulante nesse aspecto da vida a dois.

Profissionais da área de psicologia e sexologia oferecem clareza sobre esse fenômeno, que, embora possa gerar frustração, é considerado natural dentro do ciclo de uma relação. Compreender os fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam a vida sexual de casais duradouros é o primeiro passo para reacender a chama ou adaptar expectativas de forma saudável e comunicativa.

Por Que A Frequência Sexual Diminui Em Relacionamentos Longos?

De acordo com Andrea Seiferth, psicóloga e terapeuta de casais em Hamburgo, Alemanha, é absolutamente normal que o desejo sexual diminua após um ou dois anos de relacionamento. Essa mudança está intrinsecamente ligada à química do corpo. Inicialmente, um “coquetel” de hormônios eleva drasticamente o desejo e a atração. Contudo, com a evolução da relação, outro hormônio ganha proeminência: a ocitocina, conhecida por promover o vínculo social e o apego.

Seiferth detalha que esses “hormônios do vínculo”, enquanto essenciais para solidificar a conexão e o afeto entre os parceiros, tendem a “abafar” os hormônios responsáveis pelo impulso sexual mais cru, resultando em uma redução tanto do desejo quanto da frequência das relações íntimas. “Isso é algo que casais precisam ter em mente”, pontua a especialista, indicando que o reconhecimento dessa dinâmica biológica é fundamental para que os parceiros naveguem por essas fases sem alardes ou desilusões desnecessárias. Compreender as fases hormonais pode, inclusive, aliviar a pressão e abrir espaço para a comunicação.

Comunicação Aberta: O Segredo para Manter a Chama Acesa

Diante dessas mudanças hormonais e de fases do relacionamento, a comunicação emerge como o principal alicerce para manter a intimidade. A psicóloga Andrea Seiferth enfatiza que casais devem dialogar abertamente sobre suas preferências sexuais, expressando o que lhes agrada e o que não gostam. Esta abertura para o diálogo entre quatro paredes permite um entendimento mútuo mais profundo e a capacidade de ajustar a vida sexual às necessidades e desejos de ambos.

Além da comunicação explícita com o parceiro, Seiferth salienta a importância de cada indivíduo compreender a própria sexualidade. Experiências anteriores, tanto positivas quanto negativas, podem ter um impacto substancial no desejo sexual. Um autoconhecimento apurado, portanto, permite que cada um traga para a relação uma percepção mais clara de seus limites, anseios e dores, colaborando para uma vida íntima mais satisfatória e consciente.

A Complexidade da Sexualidade Feminina em Foco

Meredith Chivers, renomada professora de psicologia e sexóloga na Universidade Queens, no Canadá, dedicou seus estudos à complexidade da sexualidade feminina, destacando suas distinções em relação à masculina. Suas investigações revelam uma intrigante particularidade: mulheres podem experimentar excitação física (como lubrificação vulvar) sem que haja uma correspondência real com o desejo ou o prazer psicológico.

Chivers explicou à DW que “Observamos resposta sexual física significativa entre mulheres a uma série de estímulos sexuais que eram absolutamente indesejados, por exemplo, imagens de coerção sexual”. Este fenômeno fisiológico é explicado pela pesquisadora como uma função protetiva da lubrificação feminina no contexto de violência, por mais terrível que possa soar. Tal descompasso entre a resposta física e a excitação psicológica se mostra particularmente notório em mulheres heterossexuais, ao passo que homens e mulheres queer (não heterossexuais) demonstram uma sobreposição mais expressiva entre os dois tipos de excitação. A maneira como as mulheres vivenciaram sua sexualidade ao longo da vida, e não meramente a biologia, é a grande determinante, segundo Chivers.

A sexóloga argumenta que fatores como papéis de gênero rígidos, a internalização de mensagens negativas sobre o corpo, e experiências de dor ou violência atuam como desconectores, afastando as mulheres de suas próprias respostas fisiológicas. Além disso, a falta de prioridade para o prazer e a satisfação feminina em muitas relações heterossexuais agrava o quadro, refletindo-se na conhecida disparidade no alcance do orgasmo. Um estudo de 2022 confirmou essa lacuna, mostrando que apenas 30% a 60% das mulheres alcançam o orgasmo durante o sexo heterossexual, em comparação com 70% a 100% dos homens.

O Impacto do Prazer na Manutenção da Intimidade Duradoura

A pesquisa da psicóloga Natalie Rosen sublinha um ponto crucial: quando as necessidades sexuais das mulheres permanecem insatisfeitas por períodos prolongados, especialmente em relacionamentos longos e estáveis, o relacionamento como um todo pode enfraquecer. Essa insatisfação continuada frequentemente leva ao sofrimento sexual, um quadro que, por sua vez, acarreta uma queda significativa da libido.

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Imagem: g1.globo.com

Os estudos de Rosen também estabeleceram uma conexão direta entre a satisfação das necessidades sexuais e o aumento tanto do desejo sexual quanto da satisfação geral no relacionamento. Casais que falham em discutir e atender às necessidades sexuais um do outro correm o sério risco de cair em uma rotina sexual monótona e, por vezes, desagradável. Andrea Seiferth acrescenta a essa discussão que “Muitas vezes, são as mulheres que se entediam” nessas situações, evidenciando uma das razões pelas quais a atenção ao prazer feminino é um pilar da intimidade em relações duradouras.

O Papel Crucial do Afeto no Fortalecimento do Laço e da Frequência Sexual

Andrea Seiferth ressalta a importância do afeto no cotidiano do casal, especialmente para as mulheres, para quem a forma como se sentem na relação é primordial. “Principalmente para as mulheres, é importante como elas se sentem em uma relação”, afirma. Se a mulher não se sente vista, valorizada e respeitada, a intimidade sexual é invariavelmente afetada. Para que possam expressar suas necessidades e desgostos, muitas mulheres necessitam de “muita coragem”, algo que a qualidade da relação deve propiciar.

A terapeuta de casais observa que muitos casais que a procuram devido à estagnação de sua vida sexual, em geral, demonstram pouco ou nenhum contato físico fora do ato sexual – abraços, beijos e carícias se tornam raros na rotina. “E aí vem o final de semana, que é quando o sexo deveria acontecer, e isso pode se sentir como saltar de um trampolim de 10 metros de altura”, compara Seiferth, ilustrando o abrupto da expectativa em um contexto de desconexão. Portanto, a especialista enfatiza que, além da comunicação aberta, a demonstração de afeto mútuo através do toque regular é fundamental para fortalecer o laço afetivo do casal. Paralelamente, alguns casais também se beneficiam de um grau saudável de autonomia e da busca por experiências excitantes e novas para manter a chama da paixão acesa e, consequentemente, impulsionar a frequência sexual em relacionamentos longos.

Sexo: Prioridade Lúdica, Não Obrigação Imposta

As preliminares – como carícias, beijos e o toque sensual – desempenham um papel vital para acender o desejo, gerar prazer e construir a excitação sexual. Andrea Seiferth sugere que, em vez de esperar passivamente pela excitação, o engajamento ativo nessas atividades pode ser a chave: “Posso ter que esperar muito tempo por sexo se só acontecer quando eu estiver sexualmente excitada”, afirma, incentivando a proatividade.

Enquanto a excitação espontânea pode ser suficiente nas fases iniciais de um relacionamento, à medida que a rotina com trabalho, filhos e afazeres domésticos se instala, é ainda mais crucial que os casais reservem um tempo dedicado um ao outro. Esse esforço consciente permite “desenvolver formas lúdicas e íntimas onde o sexo não é mandatório, mas segue sendo uma prioridade”, mudando a percepção de uma obrigação para uma exploração prazerosa e voluntária da intimidade.

Mais do que o ato sexual em si, o tempo de conexão após a relação é um potente aprofundador do vínculo do casal. Trocar carícias, demonstrar afeto e conversar após o sexo são gestos que reforçam a intimidade, a confiança e o carinho mútuo. Um estudo da psicóloga Amy Muise corroborou essa observação, demonstrando que o afeto pós-sexo eleva significativamente a satisfação nos relacionamentos, com um impacto particularmente notável entre as mulheres.

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Em suma, a redução da frequência sexual em relacionamentos longos é um fenômeno multifacetado, influenciado por hormônios, diferenças sexuais e pela qualidade da interação do casal. A chave para uma vida sexual satisfatória reside na comunicação aberta, no entendimento mútuo das necessidades e desejos, e na priorização do afeto e da conexão emocional contínua. Mantenha-se informado sobre análises e dicas de relacionamento, acompanhando nossa editoria de Análises para insights profundos sobre a vida contemporânea.

Crédito da imagem: ArthurHidden/Freepik

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