O rendimento domiciliar mensal por pessoa em Águas de São Pedro (SP) é o mais elevado entre as cidades sob a cobertura do g1 Piracicaba, conforme dados divulgados no início de outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), parte do Censo Demográfico 2022. A pequena cidade turística, conhecida pela tranquilidade e qualidade de vida, registra um valor expressivo que supera médias regionais e estaduais, evidenciando um cenário socioeconômico peculiar.
De acordo com o levantamento oficial, Águas de São Pedro alcançou um rendimento per capita de R$ 2.932,68. Este montante se posiciona acima da média do estado de São Paulo, que foi de R$ 2.093,44, e também de importantes centros urbanos próximos, como Piracicaba (SP), que registrou R$ 2.145,67. Em contraste, Mombuca apresentou o menor valor na região pesquisada, com R$ 1.274,03, um rendimento 2,3 vezes inferior ao de Águas de São Pedro, destacando uma notável disparidade de rendimentos entre os municípios vizinhos. Os dados completos do Censo 2022, disponíveis no portal do IBGE, fornecem um panorama detalhado sobre as realidades socioeconômicas do país.
Águas de SP Lidera Rendimento Domiciliar da Região, diz Censo
A explicação para o cenário de destaque de Águas de São Pedro não está necessariamente ligada à força da sua atividade econômica local, mas sim às suas características demográficas e sociais. Segundo a economista Cristiane Feltre, professora da Escola de Negócios da PUC-Campinas e pesquisadora do Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba (RMP), a renda mais elevada é um reflexo do perfil dos moradores que buscam a cidade para estabelecer residência. Geralmente, esses habitantes são aposentados ou profissionais que atuam em regime de home office, ou seja, com trabalho remoto.
Desse modo, a elevada renda por pessoa não traduz a dinâmica econômica do próprio município, mas sim o seu poder de atração como um local de moradia. Águas de São Pedro é reconhecida por ser uma cidade de porte pequeno, mas com uma elevada qualidade de vida e um ambiente consideravelmente tranquilo. Estas características atraem indivíduos que já possuem uma fonte de renda estável, como aposentadorias robustas, ou que podem trabalhar de qualquer lugar, buscando os benefícios de uma vida menos agitada.
Contrastes Regionais: Mombuca na Outra Ponta do Espectro
Na ponta oposta, a situação de Mombuca oferece um contraste nítido. O município também apresenta uma baixa dinâmica econômica, mas com agravantes que impactam negativamente sua renda per capita. Cristiane Feltre detalha que Mombuca não possui o mesmo apelo turístico de Águas de São Pedro e sua formação do Produto Interno Bruto (PIB) concentra-se majoritariamente em comércio e serviços de baixo valor agregado. Essa composição econômica contribui diretamente para os rendimentos menores por habitante, como os R$ 1.274,03 observados no Censo.
A presença predominante de serviços de menor complexidade e o escasso turismo dificultam a geração de riqueza e, consequentemente, a elevação do rendimento dos seus moradores. Enquanto Águas de São Pedro colhe os frutos de sua capacidade de atrair renda “de fora” (via aposentadorias e salários de trabalho remoto), Mombuca reflete uma economia mais focada em suas próprias atividades internas, que por diversas razões ainda não conseguiram desenvolver um setor de maior valor agregado.
A Importância dos Dados de Rendimento Domiciliar
A economista Cristiane Feltre enfatiza a relevância dos dados de rendimento domiciliar per capita para a formulação de políticas públicas eficazes. Esses números servem como um termômetro social e econômico crucial. Primeiramente, eles auxiliam os gestores públicos a direcionar investimentos e ações de fomento à economia local. Municípios com menor rendimento podem demandar programas específicos de desenvolvimento ou capacitação profissional para elevar o patamar de seus habitantes.

Imagem: g1.globo.com
Adicionalmente, os dados de renda são fundamentais para empresas e instituições na definição de benefícios ou programas de assistência. Compreender o poder de compra e o perfil econômico da população permite um direcionamento mais justo e eficiente de serviços. Por fim, os indicadores de rendimento domiciliar são ferramentas essenciais para dar dimensão às desigualdades regionais e internas a um mesmo estado, auxiliando na identificação de áreas que necessitam de maior atenção e intervenção para reduzir lacunas sociais e econômicas.
A Necessidade de uma Análise Cautelosa da Renda Per Capita
Cristiane Feltre também adverte que a análise da renda per capita deve ser realizada com cautela e sempre contextualizada. É imperativo considerar o custo de vida de cada localidade e a composição familiar para uma interpretação fidedigna. Como exemplo, a economista menciona o salário mínimo ideal calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para setembro de 2025.
Nessa projeção, uma família de quatro pessoas necessitaria de R$ 7.075,83 para cobrir suas despesas básicas. Esse valor equivaleria a uma renda per capita de R$ 1.771,43. Contudo, Feltre ressalta que para uma única pessoa que arca sozinha com todas as suas despesas, mesmo um rendimento per capita aparentemente satisfatório, pode não ser suficiente para garantir uma subsistência adequada. Essa perspectiva complexa ilustra que o número isolado da renda por pessoa é apenas um ponto de partida, necessitando de uma imersão mais profunda nas realidades individuais e contextuais para uma avaliação completa da situação econômica de uma população.
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Os dados do Censo Demográfico 2022 traçam um quadro claro das disparidades econômicas entre municípios paulistas, com Águas de São Pedro se destacando pelo seu rendimento domiciliar por pessoa impulsionado por fatores demográficos e sociais específicos, como a presença de aposentados e profissionais em home office. Enquanto a cidade demonstra o impacto da qualidade de vida na atração de moradores de alta renda, a análise do contraste com Mombuca reforça a importância de entender as nuances econômicas de cada localidade. Para mais informações sobre economia e desenvolvimento regional, continue acompanhando a editoria de Economia.
Crédito da imagem: Aurélio Sal, Yasmin Moscoski/g1, Toni Mendes/ EPTV
