Em outubro de 2025, a **carne suína** apresenta uma melhoria notável em sua competitividade em relação à proteína de frango. Esse cenário ocorre após um período desafiador e surge como resposta direta aos reflexos da gripe aviária, registrada em maio do mesmo ano em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), publicou esses dados em seu boletim mais recente nesta sexta-feira (17), detalhando o reposicionamento do mercado de carne de porco. O Brasil havia se declarado livre da doença em junho, permitindo que as exportações de frango, apesar das adversidades, retomassem recordes no segundo semestre de 2025.
O impacto inicial do caso de gripe aviária em 2025 gerou uma pressão significativa nos valores de comercialização da carne de frango. Consequentemente, a proteína de porco viu sua competitividade ser desfavorecida entre junho e o início de setembro. No entanto, a recente inversão dessa dinâmica marca um momento crucial para o setor suinícola brasileiro.
Carne Suína Ganha Competitividade Após Gripe Aviária
A virada observada em outubro representa a primeira vez, desde o registro do caso de gripe aviária, que a carne suína demonstra ganho de competitividade. “O movimento de alta nas cotações do frango segue firme, enquanto os valores do suíno estão em queda, resultando em ganho de competitividade da carne suína frente à de frango”, destaca o Cepea. Essa reação do mercado evidencia uma adaptação da cadeia produtiva e comercial.
Dinâmica de Preços e Exportações no Cenário Recente
Embora em fevereiro de 2025 o preço da carcaça suína tivesse registrado uma elevação de 10,8% frente a janeiro, atingindo R$ 13,20 o quilo, os meses subsequentes mostraram variações que culminaram na atual recuperação de competitividade. Em setembro, as cotações da carne de frango iniciaram sua recuperação, impulsionadas pela reabertura do mercado europeu. Os envios de proteína de frango à União Europeia estavam suspensos desde maio de 2025, e a retomada das compras contribuiu significativamente para a elevação dos preços e, consequentemente, para o reposicionamento do suíno no mercado doméstico.
Os Indicadores Cepea/Esalq revelam as oscilações nos preços do suíno vivo em diversas praças brasileiras. Em outubro de 2025 (parcial), os preços médios por quilo foram de R$ 8,25 em Minas Gerais, R$ 8,44 no Paraná, R$ 8,31 no Rio Grande do Sul, R$ 8,30 em Santa Catarina e R$ 8,75 em São Paulo. Em setembro de 2025, esses valores eram mais altos: R$ 8,82 em Minas Gerais, R$ 8,87 no Paraná, R$ 8,60 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e R$ 9,60 em São Paulo. Essas variações demonstram um ajuste constante às condições de oferta e demanda do período.
Poder de Compra Otimizado para Suinocultores
Os produtores de carne de porco no estado de São Paulo experimentam um dos momentos mais favoráveis em termos de poder de compra do farelo de soja, um insumo crucial para a atividade suinícola. O boletim do Cepea, divulgado na primeira semana de outubro de 2025, aponta que o poder de compra atual está 54% acima da média histórica da série do Cepea, iniciada em janeiro de 2024, que é de 3,62 quilos. Isso significa que, com a venda de um quilo do suíno vivo no interior de São Paulo, particularmente na região de Campinas (SP), o produtor conseguiu adquirir 5,57 quilos de farelo em setembro de 2025. Esse valor representa a maior quantidade registrada pelo Cepea desde dezembro de 2004, quando a relação de troca alcançou o recorde de 6,49 quilos. Tal cenário benéfico para o suinocultor é amplamente influenciado pelas recentes e acentuadas desvalorizações do farelo de soja.
A Equipe de Grãos do Cepea aponta que a tonelada do derivado, negociada na região de Campinas (SP), teve uma média de R$ 1.660,53 em setembro de 2025. Esse valor é 21,7% inferior ao observado no mesmo período do ano anterior, contribuindo diretamente para o aumento do poder de compra dos produtores. Além da queda nos custos de insumos, os preços mais firmes de venda do suíno vivo impulsionaram essa relação favorável. O valor médio do suíno em setembro de 2025, de R$ 9,25 o quilo, foi o maior do ano, consolidando um panorama positivo para o setor.
Recorde de Exportações Brasileiras de Carne Suína
O Brasil tem se destacado nas exportações de carne suína. Entre janeiro e agosto de 2025, o volume exportado da proteína brasileira cresceu aproximadamente 72%, conforme análise do Cepea realizada na segunda quinzena de agosto do mesmo ano. Em janeiro, foram embarcadas 7,7 mil toneladas, enquanto em agosto essa quantidade saltou para 13,3 mil toneladas. Chile e Filipinas figuram como os principais destinos desses carregamentos. Em julho de 2025, especificamente, foram escoadas 14,5 mil toneladas de carne suína ao Chile, o dobro do volume de janeiro, marcando um pico significativo.

Imagem: g1.globo.com
Chile assumiu a segunda posição como maior destino da proteína brasileira em julho e agosto de 2025, superando a China, que tradicionalmente ocupava esse posto. As Filipinas, por sua vez, mantêm-se como o maior destino da carne suína brasileira desde fevereiro. O aumento expressivo dos embarques para o Chile está diretamente ligado ao reconhecimento do governo chileno, em abril de 2025 (e oficializado em julho), de que o estado do Paraná, segundo maior produtor nacional, é livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica, fortalecendo a confiança no produto paranaense e incentivando as transações comerciais. Mais informações sobre os indicadores agropecuários podem ser encontradas em estudos do Cepea.
Cenário Estável para Preços de Suínos
Os preços do suíno vivo e da carne de porco mantiveram um padrão de alta desde o fim do primeiro semestre de 2025, com as cotações de agosto permanecendo firmes, contrariando o cenário típico de recuos para esse período do ano. O mercado independente do suíno vivo foi beneficiado pela demanda aquecida, especialmente no começo do mês, impulsionando as cotações. Na segunda metade de agosto, a procura se manteve forte, e os valores não sofreram as quedas usualmente observadas. Como resultado, as médias mensais dos preços do suíno vivo em quase todas as praças acompanhadas pelo Cepea avançaram em relação a julho. Em agosto de 2025, o indicador do Suíno Vivo Mensal Cepea/Esalq registrou R$ 8,57 em Minas Gerais, R$ 8,27 no Paraná, R$ 8,15 no Rio Grande do Sul, R$ 8,19 em Santa Catarina e R$ 8,76 em São Paulo. Em relação à carne, a demanda elevada em agosto também contribuiu para o aumento nas cotações da maior parte dos produtos suinícolas.
Expectativa de Recorde nas Exportações de Frango e Desafios
Apesar dos desafios impostos pela gripe aviária, o setor de carne de frango também projeta números recordes para 2025. A quantidade exportada em setembro foi a maior em 11 meses, e em outubro de 2025 (parcial), o ritmo diário de embarques está 9,6% superior ao de setembro do mesmo ano e impressionantes 16% acima do registrado em outubro de 2024, conforme dados da Secex. Analistas do Cepea estimam que 2025 pode fechar com um volume inédito de exportações de carne de frango. Esse resultado seria notável, considerando o caso de gripe aviária em maio em uma granja comercial do Rio Grande do Sul.
Pesquisadores do Cepea atribuem esse cenário favorável à recente retomada das compras da proteína brasileira por parte da União Europeia, o que é crucial para consolidar a recuperação do ritmo exportador nacional aos patamares anteriores à gripe. Contudo, os embarques de carne de frango para a China permanecem suspensos. O retorno dessas exportações ao país asiático, conforme indicado pelo Cepea, poderia impulsionar ainda mais o volume total exportado. As perspectivas de vendas externas recordes em 2025, no entanto, dependem diretamente da ausência de novos casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1 ou IAAP) em granjas comerciais, bem como de outros tipos de influenza, reforçando a necessidade de vigilância constante no setor avícola.
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Em suma, o mercado de carnes no Brasil em 2025 demonstra resiliência e capacidade de adaptação. A carne suína, em particular, recupera sua força em meio a desafios sanitários no setor de frango, impulsionada por preços mais favoráveis para produtores e aumento nas exportações. O cenário futuro dependerá da continuidade das políticas sanitárias eficazes e da demanda internacional. Para se manter atualizado sobre os desdobramentos da economia e do agronegócio, continue acompanhando nossa editoria em horadecomecar.com.br/economia.
Crédito da imagem: Arquivo Secom



