O debate sobre a crescente corrupção no futebol brasileiro volta a ser pauta com as perspicazes análises do jornalista Juca Kfouri. Em sua recente coluna, ele lança um olhar crítico sobre a permissividade que cerca as irregularidades no esporte, frequentemente mascaradas pela busca desenfreada por títulos e resultados em campo. O cerne da discussão aborda como dirigentes se perpetuam, muitas vezes, em cenários nebulosos de gestão.
A percepção de Kfouri aponta para uma falha cultural onde, por vezes, os fins parecem justificar os meios, mesmo que esses meios sejam duvidosos ou francamente fraudulentos. Essa mentalidade, segundo o articulista, culmina na acumulação de dívidas estratosféricas e na erosão da credibilidade institucional. Ele descreve a maneira como a paixão dos torcedores pode ser explorada, criando um escudo para gestões controversas.
Essa tendência de valorizar apenas os resultados em campo, independentemente dos métodos, tem um impacto profundo na saúde financeira e na credibilidade das instituições. As falas de Juca Kfouri ecoam um alerta sobre a crescente passividade de setores da torcida diante de irregularidades, um fenômeno que ele caracteriza como uma “aceitação perigosa”.
Juca Kfouri Critica a Corrupção no Futebol Brasileiro
No caso do Sport Club Corinthians Paulista, as denúncias de má gestão e atos ilícitos têm se tornado uma constante, semana após semana. Relatórios do Ministério Público apontam evidências contra os três últimos presidentes do clube: Andrés Sanchez, Duilio Monteiro Alves e Augusto Melo. Esta sequência de nomes sugere uma recorrente desordem administrativa, marcando a história recente do Alvinegro.
Historicamente, a adoração a dirigentes como Andrés Sanchez em tempos de conquistas e, mais recentemente, a Augusto Melo por um simples título estadual, contrasta com o silêncio em relação a Duilio Monteiro Alves, que não alcançou o mesmo reconhecimento por resultados. Essa dinâmica revela uma ironia onde o aplauso depende diretamente do sucesso no gramado, ofuscando a integridade das ações nos bastidores.
A Questão dos Métodos e o Monstro da Dívida
É alarmante observar a desatenção de muitos com os meios pelos quais as vitórias são alcançadas. Seja por táticas questionáveis ou pela acumulação de débitos financeiros que, no caso corintiano, se aproximam da assustadora marca de R$ 3 bilhões. A preocupação de Juca Kfouri reside justamente nessa desconexão entre o anseio por taças e a consciência sobre as práticas que as tornam possíveis.
No passado, a controversa parceria com a máfia russa, através da MSI, suscitava defesas acaloradas. Quem ousava denunciar os fluxos de “dinheiro sujo” era publicamente hostilizado no Pacaembu. Hoje, os clubes lidam com organizações criminosas de alcance nacional e transnacional. Aqueles que ousam questionar são rotulados como “anti-isso” ou “anti-aquilo”, perpetuando um ciclo de omissão.
Figuras Notórias do Futebol Brasileiro
Juca Kfouri cita um “time” de dirigentes que, em algum momento, foram reverenciados, mas posteriormente caíram em desgraça. Nomes como Eurico Miranda (Vasco), Andrés Sanchez (Corinthians), Mustafá Contursi (Palmeiras), Edmundo Santos Silva (Flamengo) e Augusto Melo (Corinthians) ilustram esse padrão. A lista também inclui José Eduardo Mesquita Pimenta e Carlos Miguel Aidar (São Paulo), John Textor (Botafogo), Wagner Pires de Sá (Cruzeiro), Vitório Piffero (Internacional) e Emil Pinheiro (Botafogo).
Curiosamente, a ruína desses “heróis” não se deu primordialmente pelos crimes eventualmente cometidos, mas sim pela performance negativa nos resultados esportivos. Isso demonstra uma inversão de valores onde o insucesso em campo tem um peso maior do que as infrações éticas ou legais nas salas de diretoria.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
O Papel Real dos Dirigentes e o Poder do Impeachment
Kfouri argumenta que são os jogadores e treinadores os verdadeiros artífices das vitórias em campo. Em contraste, os “cartolas” brasileiros, salvo raras exceções, cumprem seu papel adequadamente apenas quando não atrapalham. Ele compara esses gestores a “certos bispos neopentecostais”, utilizando a paixão alheia como instrumento para seus próprios fins.
O impeachment, um instrumento que não se vê nas igrejas, serve de mecanismo para depor tais líderes quando a pressão se torna insustentável. Dos mencionados, alguns já enfrentaram condenação judicial, enquanto outros se aproximam desse destino. Entretanto, há também aqueles que, mesmo sem conquistar títulos, deixaram um legado de prejuízos colossais, como Duilio Monteiro Alves (Corinthians), José Carlos Peres (Santos) e Orlando Rollo (Santos), evidenciando que a incompetência pode ser tão prejudicial quanto a má-fé.
Um Ciclo Vicioso de Aceitação
O jornalista recorda o Corinthians campeão brasileiro de 2005 e, apenas dois anos depois, rebaixado em 2007. Durante o auge, a presença de Carlitos Tevez, Mascherano e Nilmar, financiados pela máfia russa, levou torcedores a defender o dinheiro questionável sob o argumento de que “se entrou pelo Banco Central, está limpo”. Esse episódio exemplifica como a glória momentânea pode cegar para os riscos a longo prazo.
A preocupação se estende ao futuro: a qualquer sinal de “soluções fáceis para problemas difíceis”, é provável que novos aproveitadores sejam acolhidos como salvadores, em qualquer clube. A lógica cínica de que “os métodos são mafiosos? Eu não sou da polícia” permeia um ambiente de descaso com a conta que, cedo ou tarde, chega. Para um panorama mais amplo sobre os esforços contra a corrupção, é possível consultar o trabalho da Transparência Internacional – Brasil, que atua em diversas esferas sociais e econômicas do país.
Juca Kfouri faz uma distinção crucial entre presidentes de clubes e os quatro ex-presidentes da CBD/CBF que foram banidos do futebol. Estes últimos escolheram explorar a confederação como um todo, não um clube específico, ressaltando diferentes escalas de desfalque. Ele reforça que as verdadeiras glórias pertencem aos craques como Pelé, Mané, Didi, Tostão, Rivellino, Romário, Ronaldos e Rivaldo – os verdadeiros responsáveis pelos triunfos do esporte.
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A coluna de Juca Kfouri serve como um potente lembrete de que o futebol, para ser verdadeiramente grande, precisa de mais do que títulos. Requer integridade, responsabilidade e transparência em suas estruturas de gestão. Continuar vigilante e cobrar postura ética de todos os envolvidos é fundamental para o futuro do esporte. Para aprofundar-se em mais análises e notícias do universo esportivo, visite a seção de Esporte em Hora de Começar.
Crédito da imagem: Raul Luciano – 9.ago.25/Ato Press/Folhapress


