População de Trinidad e Tobago reage a ataques dos EUA no Caribe

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A população de Trinidad e Tobago expressou forte indignação e espanto, levantando o questionamento alarmante de um pescador: “Estamos no Afeganistão?”. A interrogação reflete o choque provocado pelos recentes ataques dos Estados Unidos a embarcações nas águas do Caribe, que teriam resultado na morte de dois cidadãos do arquipélago, gerando uma crise humanitária e política. O incidente ocorreu em meio a uma ofensiva antinarcóticos declarada por Washington na região.

No vilarejo de Las Cuevas, localizado no norte da ilha caribenha, a consternação é palpável. Notícias transmitidas por conhecidos na Venezuela, recebidas na terça-feira (14), apontavam que dois indivíduos da localidade estariam entre as vítimas dos bombardeios americanos. Esta revelação levou a comunidade a um estado de perplexidade, exigindo respostas sobre as operações militares em sua proximidade.

População de Trinidad e Tobago reage a ataques dos EUA no Caribe

As autoridades policiais de Trinidad e Tobago, diante da gravidade das informações e da pressão popular, prontamente iniciaram uma investigação para esclarecer os fatos e identificar as supostas vítimas. O objetivo é compreender a extensão do envolvimento dos seus cidadãos nos incidentes relatados e determinar a natureza das embarcações alvejadas, em face das sérias acusações de narcotráfico feitas pelos Estados Unidos.

Desde agosto, os Estados Unidos intensificaram sua presença no Caribe, implementando uma operação de grande escala contra o tráfico de drogas, envolvendo navios de guerra em águas internacionais, adjacentes à Venezuela. Essa ação militar seguiu-se às acusações formais do governo americano, que classificou o ditador chavista Nicolás Maduro como líder de um cartel de entorpecentes, elevando a tensão geopolítica na América do Sul e no Caribe.

Caracas, por sua vez, rechaça veementemente todas as acusações, caracterizando-as como uma estratégia de Washington para promover uma mudança de regime. De acordo com informações de Washington, desde o início da operação, ao menos cinco embarcações foram bombardeadas, resultando em um total de 27 mortes confirmadas. Contudo, esses dados não foram verificados de forma independente pela Agência France-Presse (AFP), que noticiou o caso.

O mais recente dos incidentes, que desencadeou o clamor em Trinidad e Tobago, foi anunciado pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que confirmou a morte de seis pessoas. O número, no entanto, permanece sob escrutínio e investigação. Em Las Cuevas, múltiplos testemunhos apontam que Chad Joseph e Rishi Samaroo seriam os trinidadianos a bordo da embarcação recentemente atacada. A pergunta angustiante de um morador local, que preferiu não se identificar – “Estamos em Israel? Estamos no Afeganistão? Em algum desses lugares ou o quê? Estamos no Caribe, amigo. Aqui há paz e amor” –, ecoa o desespero de uma comunidade habituada à tranquilidade, não aos conflitos armados.

O pequeno e paradisíaco vilarejo de Las Cuevas, com cerca de 150 casas, abraçado por uma baía de águas cristalinas e densa vegetação, dista aproximadamente uma hora da capital Port of Spain. A calma natural do local foi subitamente substituída por uma atmosfera de incerteza e apreensão, à medida que os habitantes buscam entender as mortes e o suposto envolvimento de seus vizinhos e familiares com atividades ilícitas.

Os familiares dos homens supostamente vitimados negam com veemência as acusações de narcotráfico provenientes de Washington. Lynette Burnley, tia de Chad Joseph, descreveu seu sobrinho como um pescador dedicado desde a infância, de caráter “encantador e simples”. Ela relata que Chad viajou à Venezuela, enfrentou problemas com sua embarcação e nunca mais conseguiu retornar, dedicando-se a diversos “pequenos trabalhos” para subsistir no país vizinho, como limpeza de terrenos e trabalho na terra.

A versão corrente entre os moradores de Las Cuevas é de que os dois homens foram sequestrados em seu retorno a Trinidad, e que o barco no qual estavam teria sido então atacado pelos Estados Unidos. A mãe de Joseph informou à AFP que seu filho estava na Venezuela havia três meses e rechaçou categoricamente qualquer vínculo dele com o narcotráfico. Lenore Burnley, também parente, criticou duramente a ação militar: “Não tenho nada a dizer [a Trump]. A lei do mar é que, se você vê um barco, deve parar o barco e interceptá-lo, não apenas explodi-lo”, enfatizou, pedindo o cumprimento do protocolo marítimo internacional.

O cenário geopolítico revela a complexidade da região. Garvin Heerah, especialista em segurança de Trinidad e Tobago, afirmou à AFP que o arquipélago serve como um crucial ponto de transbordo de narcóticos. Ele detalhou que o país não é meramente uma escala, mas um centro ativo onde carregamentos de drogas são recebidos, armazenados, reempacotados e preparados em grande volume. De Trinidad e Tobago, as substâncias ilícitas são então distribuídas para o norte, em direção aos Estados Unidos; e para o leste, atingindo a Europa e a África Ocidental. A nação insular, portanto, atua como base fundamental de uma complexa e bem estruturada cadeia de tráfico.

A intervenção americana não se limita ao combate ao narcotráfico. Donald Trump, então presidente, havia previamente confirmado ter concedido “carta branca” à CIA, a agência de inteligência norte-americana com um histórico de operações sigilosas na América Latina, para realizar ações secretas na Venezuela. O objetivo final declarado dessas operações seria a derrubada do ditador Nicolás Maduro, intensificando a estratégia de pressão sobre o regime chavista.

Reportagens da agência Reuters, de quinta-feira (16), confirmaram um novo ataque do Exército dos Estados Unidos contra uma embarcação suspeita de transporte de drogas próximo à costa venezuelana. Diferentemente de incidentes anteriores, houve sobreviventes: duas pessoas foram resgatadas e estão sob custódia em um navio da Marinha americana, enquanto outras duas morreram na ação. O Pentágono, entretanto, optou por não comentar as últimas operações, mantendo um perfil de silêncio sobre os detalhes dos incidentes, o que apenas amplifica a tensão e a desconfiança em Las Cuevas e em toda a região do Caribe.

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Diante do cenário complexo de operações militares e alegações de narcotráfico, a população de Trinidad e Tobago aguarda por mais esclarecimentos e justiça para os pescadores de Las Cuevas. Continuaremos acompanhando de perto todos os desdobramentos desses ataques dos EUA no Caribe e as suas consequências humanitárias e políticas. Mantenha-se informado sobre este e outros temas urgentes em nossa editoria de Política para compreender o impacto global de eventos internacionais.

Crédito da imagem: Andrea de Silva / Reuters