PM Morto em Curicica Tinha Ligações com Milícia ‘Mercenários’

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A morte do policial militar Adelmo da Silva Guerini Fernandes, 2º sargento da Polícia Militar e conhecido por apelidos como “Russo” e “Magrelo”, em Curicica, Zona Oeste do Rio de Janeiro, trouxe à tona seu envolvimento em uma rede complexa de atividades criminosas, incluindo uma milícia autodenominada “Os Mercenários”. O militar de 51 anos foi assassinado a tiros na tarde da última sexta-feira, 16 de dezembro, na Comunidade Asa Branca.

Adelmo Fernandes era uma figura central em investigações policiais, especialmente por sua participação em uma milícia ativa na Zona Sudoeste carioca. Além de suas atividades como suposto “Mercenário”, ele havia se tornado réu em um processo por homicídio menos de um mês antes de sua própria execução, um crime ocorrido em agosto de 2019, na cidade de Itaguaí. As acusações formalizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) detalhavam a atuação do sargento e de outros sete policiais em execuções e fraudes processuais.

PM Morto em Curicica Tinha Ligações com Milícia ‘Mercenários’

O caso em Itaguaí, aceito pela Justiça do Rio de Janeiro, descreve uma operação no Morro do Carvão. Na ocasião, Adelmo Guerini e seus colegas, à época membros do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 24º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Queimados, teriam aberto fogo contra dois indivíduos em uma motocicleta. De acordo com a denúncia, não houve confronto prévio, e os disparos foram realizados como uma forma de pressionar os traficantes da região a efetuar pagamentos de propina. Um dos ocupantes da moto foi morto, enquanto o outro conseguiu escapar. A investigação sublinhou que esses PMs tinham o objetivo de coagir o crime organizado local através de violência extrema para garantir benefícios financeiros ilícitos.

As conexões de Adelmo e dos demais acusados com a criminalidade organizada não se limitavam apenas ao incidente de Itaguaí. O grupo já possuía um histórico preocupante, com antecedentes por crimes graves que incluíam organização criminosa, extorsão mediante sequestro e homicídio. A denúncia atualizava seu status para réus em outra grande apuração do MPRJ, batizada de Operação Os Mercenários, que se debruçava sobre um grupo de policiais militares suspeitos de executar criminosos que se recusavam a pagar extorsões. As revelações vieram à tona a partir de mensagens trocadas entre os próprios integrantes da milícia e interceptadas pela inteligência.

Medidas Cautelares e o Histórico de ‘Os Mercenários’

Após o recebimento formal da denúncia que o colocava como réu, a Justiça determinou uma série de medidas cautelares contra Adelmo Guerini e os outros policiais envolvidos. Entre as providências, estavam a suspensão imediata do porte de armas, o afastamento de quaisquer atividades externas de policiamento e a restrição de suas funções apenas ao setor administrativo. Na época de sua morte, o 2º sargento Adelmo estava lotado no 21º BPM (São João de Meriti). Ele se encontrava de folga no dia de sua execução. Procurada pelas autoridades e pela imprensa, a Polícia Militar não informou se cumpriu efetivamente a determinação judicial de afastar Guerini das ruas e de recolher sua arma de serviço, levantando questões sobre a fiscalização de medidas cautelares contra agentes da lei envolvidos em crimes.

A apuração sobre o assassinato de Adelmo da Silva Guerini Fernandes está a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A principal linha de investigação adotada pelos agentes aponta para uma execução premeditada. As evidências sugerem que os criminosos tinham a intenção específica de matar o militar, em vez de se tratar de um confronto fortuito ou assalto.

Desvendando a Trama: A Operação Gogue Magogue

As investigações sobre as ações do grupo “Os Mercenários” tiveram seu ponto de partida crucial após a deflagração da Operação Gogue Magogue, em julho de 2020. Esta operação anterior também mirava policiais. Durante a “Gogue Magogue”, o Ministério Público do Rio de Janeiro apreendeu o telefone celular de Adelmo Guerini. A partir da análise minuciosa dos dados contidos no aparelho, a promotoria conseguiu desvendar a estrutura e as atividades criminosas do grupo. A promotoria apurou que policiais militares vinculados tanto ao Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 24º BPM (Queimados) quanto à P2 do 21º BPM (São João de Meriti) se valiam de suas posições e do conhecimento da rotina policial para integrar uma organização criminosa de alta periculosidade.

PM Morto em Curicica Tinha Ligações com Milícia ‘Mercenários’ - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

O grupo, conforme detalhado pelo MPRJ, estava envolvido em uma gama diversificada de crimes, utilizando táticas de terror e violência. Eles sequestravam criminosos e os submetiam à tortura, exigindo altos valores de resgate. Além disso, os “Mercenários” atuavam na venda de armas, vazavam informações sigilosas sobre operações policiais para organizações criminosas e praticavam a “troia”, uma modalidade de tocaia destinada a surpreender e capturar traficantes de forma violenta. De acordo com as investigações do Ministério Público, quando a extorsão financeira não era concretizada pelos alvos, os denunciados empregavam atos extremos de violência, incluindo novas torturas e homicídídios, além de desviar e se apropriar de materiais ilícitos apreendidos que muitas vezes sequer eram oficialmente apresentados às autoridades policiais. A impunidade e o abuso de poder eram as bases de suas operações.

Extorsão Milionária: O Caso de “Leo Marrinha”

Um dos episódios mais chocantes revelados pelas investigações do MPRJ foi um esquema de extorsão que envolvia o pedido de um milhão de reais. Segundo as provas apresentadas pela promotoria, em uma ocasião em que membros do grupo “Os Mercenários” e uma equipe não identificada de policiais civis efetuaram a prisão de Leonardo Serpa, mais conhecido como “Leo Marrinha”, chefe do tráfico das comunidades Pavão/Pavãozinho/Cantagalo, localizadas na Zona Sul do Rio, o 2º sargento Adelmo Guerini solicitou uma propina de R$ 1 milhão para a libertação do traficante. As conversas extraídas do celular de Guerini incluíam mensagens em que ele expressava satisfação com o resultado da extorsão, utilizando a frase “Deu bom demais”, acompanhada de uma representação gráfica do valor exigido. O policial ainda teria detalhado que metade do valor foi destinada à sua equipe, e a outra parte, à Polícia Civil envolvida no esquema.

Este trágico desfecho para um policial militar com extenso histórico de crimes e participação em milícia é um lembrete contundente dos desafios enfrentados na segurança pública do Rio de Janeiro e da urgência de combater a corrupção dentro das instituições. Para informações detalhadas sobre a atuação do Ministério Público em operações contra o crime organizado, consulte o portal oficial do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

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O caso do 2º sargento Adelmo Guerini ressalta a complexidade e a urgência de combater grupos paramilitares no Rio, que operam à margem da lei e corroem a confiança nas forças de segurança. Continue acompanhando as últimas notícias sobre segurança pública e política em nossa editoria de Política para se manter informado sobre este e outros temas cruciais que afetam a sociedade brasileira.

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