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Mulheres confrontam Meta após anúncios indesejados pós-perda

A experiência de **mulheres que confrontam Meta** por práticas de publicidade digital, especialmente após sofrerem a perda de um bebê, levanta sérias questões sobre a sensibilidade e a ética dos algoritmos de anúncios direcionados. Muitas descobrem que os sistemas detectam a gravidez e as bombardeiam com conteúdo relacionado, mas falham drasticamente em cessar essa exposição […]

A experiência de **mulheres que confrontam Meta** por práticas de publicidade digital, especialmente após sofrerem a perda de um bebê, levanta sérias questões sobre a sensibilidade e a ética dos algoritmos de anúncios direcionados. Muitas descobrem que os sistemas detectam a gravidez e as bombardeiam com conteúdo relacionado, mas falham drasticamente em cessar essa exposição dolorosa quando ocorre um aborto espontâneo ou perda gestacional.

Este cenário de assédio digital forçado é comum. Para muitas que perdem seus filhos antes mesmo de chegarem ao mundo, a exposição a anúncios de bebê e gravidez online prolonga um ciclo de dor e frustração. Essa problemática coloca em pauta o alcance da tecnologia e os limites da privacidade digital e da saúde mental.

Mulheres confrontam Meta após anúncios indesejados pós-perda

Sammi Claxon, uma das vozes dessa mobilização, vivenciou a gravidade dessa situação. Após seu primeiro aborto espontâneo em 2021, a britânica de Nottinghamshire, Inglaterra, passou por mais quatro perdas nos três anos seguintes. Ela relatou a dor de ver seus feeds das redes sociais repletos de publicidade sobre bebês, um cenário descrito como devastador. A dor de planejar um futuro para um filho que nunca chegaria fez com que Sammi se afastasse das redes sociais, uma medida para proteger sua saúde mental de um isolamento imposto tanto pela dor quanto pela insistência algorítmica.

A dificuldade de Sammi reflete uma falha sistêmica na maneira como as plataformas, notadamente as da Meta (proprietária do Facebook e Instagram), gerenciam os dados de seus usuários em momentos de extrema vulnerabilidade. As expectativas das futuras mães são rapidamente captadas pelos algoritmos através de suas buscas e interações online, gerando um perfil de consumidor direcionado. No entanto, o sistema se mostra incapaz de identificar e responder à cessação da gravidez, mantendo a entrega de anúncios indesejados e prejudiciais.

A Luta Jurídica e o Precedente de Tanya O’Carroll

Tanya O’Carroll foi uma das primeiras a agir legalmente contra o direcionamento abusivo de anúncios da Meta. Em 2017, após descobrir-se grávida, Tanya foi alvo de publicidade invasiva no Facebook, inclusive antes de comunicar a notícia a pessoas de seu círculo íntimo. Essa intrusão gerou desconforto e motivou uma ação judicial. Em março do ano passado, em resposta ao processo movido por Tanya, o Facebook se viu obrigado a aceitar o fim do direcionamento de anúncios a usuários individuais com base em dados pessoais.

A argumentação de Tanya, de que o sistema de publicidade direcionada do Facebook se encaixava na definição de marketing direto do Reino Unido, concedendo aos usuários o direito de se opor, foi crucial. Inicialmente, a Meta alegou que os anúncios eram direcionados a grupos de no mínimo 100 pessoas, e não a indivíduos, o que a isentaria de ser marketing direto. No entanto, a Autoridade de Proteção de Dados do Reino Unido discordou dessa interpretação, validando o argumento de Tanya. Hoje, ela é uma exceção notável entre os mais de 50 milhões de usuários do Facebook no Reino Unido, por não ser alvo de anúncios personalizados, e sua vitória encorajou mais de 10 mil pessoas a se oporem às práticas da Meta.

O Impacto Contínuo da Perda e os Algoritmos Implacáveis

Apesar da vitória de Tanya O’Carroll, a situação de muitas mulheres que perderam seus bebês e continuam recebendo anúncios relacionados à gravidez permanece inalterada. Rhiannon Lawson, de Suffolk, Inglaterra, experimentou essa dura realidade por duas vezes. Após uma primeira gravidez que resultou em um aborto espontâneo às oito semanas, Rhiannon engravidou novamente. No entanto, aos 20 semanas, um ultrassom revelou que o bebê, chamado Hudson, possuía uma rara e grave síndrome do coração esquerdo hipoplásico, resultando em um natimorto aos 22 semanas de gestação.

Devastados, Rhiannon e seu parceiro buscaram apoio em redes sociais, mas a tecnologia lhes impôs um novo desafio. “Aplicativos de gravidez ainda enviam notificações de marcos. Lojas de bebês oferecem descontos em itens que nunca precisaremos. Anúncios de carrinhos de bebê e itens essenciais para recém-nascidos aparecem nas rolagens de tela”, desabafou Rhiannon, expondo a frieza dos algoritmos que não compreendem a perda humana, gerando um lembrete doloroso e persistente.

Mulheres confrontam Meta após anúncios indesejados pós-perda - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

A Ineficácia dos Controles de Preferência e o Modelo “Consinta ou Pague”

Hayley Dawe enfrentou um cenário semelhante após um percurso difícil de três tentativas malsucedidas de fertilização in vitro (FIV). Chocada ao descobrir-se grávida de gêmeos, sua empolgação foi logo substituída pela dor da perda. Primeiro, um dos bebês faleceu ainda no início da gravidez; em um exame subsequente, sua outra gêmea também não tinha batimentos cardíacos. Buscando suporte em fóruns online, Hayley se viu inundada por anúncios de maternidade e itens para bebês.

Mesmo com a opção de bloquear tópicos de anúncios nas configurações da Meta, Hayley observou que “gravidez” não era uma categoria separada, e desativar “parentalidade” não surtiu efeito, com ao menos cinco anúncios relacionados aparecendo logo em seguida. As repetidas promoções de gravidez persistiram por semanas, mesmo após marcar alguns anúncios como spam. Ela, assim como Rhiannon, critica a proposta da Meta de um serviço de assinatura, onde os usuários pagariam £2,99 (cerca de R$ 22) por mês para não ver anúncios, questionando por que deveria pagar quando as opções de preferência parecem falhar. Este modelo de “consinta ou pague” é visto como uma forma de monetizar a privacidade e não uma solução real para o problema de anúncios sensíveis e invasivos.

A Perspectiva de um Insider e a Resposta da Meta

Arturo Bejar, ex-funcionário sênior da Meta, atuante entre 2009 e 2015, e novamente de 2019 a 2021, corroborou as experiências relatadas, afirmando que o botão “marcar como spam” era praticamente ineficaz, “não conectado a nada”. Ele revelou que muitos relatórios de ajuda eram descartados devido ao volume excessivo. Bejar, que inclusive testemunhou ao Congresso dos EUA em 2023 sobre a ineficácia da Meta em manter a segurança dos usuários, acusou a empresa de priorizar o aumento de usuários e o lucro em detrimento do bem-estar, descrevendo tal postura como “desumana”.

Em sua defesa, um porta-voz da Meta declarou que a empresa leva essas preocupações a sério e busca melhorar a sensibilidade e a precisão da veiculação de anúncios. A Meta afirma que seus sistemas são projetados para compartilhar conteúdo relevante e útil, mas reconhece que podem não ser perfeitos, ocasionalmente resultando em anúncios insensíveis ou mal colocados. A empresa “encoraja as pessoas a optarem por bloquear certas categorias”, mantendo a responsabilidade sobre os usuários.

A Luta Pessoal de Uma Jornalista da BBC

A angústia desses anúncios é profundamente sentida pela jornalista da BBC Hayley Compton, que faz parte do mesmo “clube” de pais que ninguém deseja pertencer. Após ter sua filha, Liliana, em 2020, que nasceu sem vida após 40 semanas de gestação, Hayley também perdeu outros dois bebês por aborto espontâneo. Mãe de “dois bebês que posso segurar nos braços e três que carrego no coração”, ela narra como a fragilidade emocional se agrava ao ser “bombardeada” por anúncios de bebês rindo, gestantes felizes e famílias perfeitas, que servem como lembretes dolorosos de suas perdas. Essa persistência na entrega de conteúdo de gravidez mesmo após a morte de um filho ilustra o quão distante a tecnologia ainda está da empatia humana.

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O caso das mulheres que confrontam a Meta é um alerta contundente sobre a necessidade de maior sensibilidade e mecanismos de controle mais eficazes nas plataformas digitais. A otimização algorítmica não deve sobrepor-se à ética e ao impacto emocional real nos usuários. Este debate ressalta a urgência de as empresas de tecnologia desenvolverem sistemas que não apenas capturam dados, mas também compreendam e respeitem a complexidade das experiências humanas. Continue explorando nosso conteúdo para se aprofundar em análises sobre o impacto da tecnologia em nossa sociedade, sempre aqui na editoria de Análises.

Crédito da imagem: BBC/Arquivo pessoal/Sammi Claxon

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