O astroturismo, a prática de contemplar o céu noturno e seus fenômenos, está emergindo como uma faceta promissora e em expansão do ecoturismo mundial. A atividade, que atrai desde entusiastas de caminhadas e trilhas até escaladores, oferece uma perspectiva singular para aqueles que buscam uma conexão mais profunda com a natureza, valorizando a escuridão do céu como um recurso singular a ser explorado em diferentes biomas do Brasil e do mundo.
Este segmento de turismo vem demonstrando um crescimento substancial em todo o globo. De acordo com informações de Dennys Hyde, representante da empresa Entreparques, o mercado de astroturismo movimentou impressionantes US$ 250 milhões no ano de 2023. As projeções indicam uma expansão ainda maior, com estimativa de crescimento anual de 10%, o que pode elevar o valor movimentado para US$ 400 milhões até o ano de 2030, evidenciando o crescente interesse pela observação de estrelas e eventos astronômicos.
Astroturismo Cresce: Observação de Estrelas Impulsiona Ecoturismo
O conceito de “ouvir estrelas”, metaforicamente expresso no poema “Via Láctea”, do renomado poeta Olavo Bilac (1865-1918), que integrava o parnasianismo brasileiro, inicialmente parecia um ato de delírio poético. No entanto, o que outrora era visto como o devaneio de um artista, hoje se tornou uma realidade em expansão. Embora em 1888, quando Bilac escrevia, abrir a janela no Rio de Janeiro fosse suficiente para a contemplação celeste, as modernas cidades do século XXI, inundadas de luzes artificiais, enfrentam desafios consideráveis para proporcionar tal experiência, o que reforça a busca por locais com céus realmente escuros.
Um dos maiores obstáculos para a observação celeste é a poluição luminosa. Hyde aponta para estudos que indicam um aumento global de 10% ao ano neste tipo de poluição, com maior concentração no hemisfério norte. Apesar da eficiência energética das novas lâmpadas de LED, o excesso de iluminação em centros urbanos leva a um desperdício significativo de luz. Essa realidade, se por um lado melhora a segurança urbana, por outro, impulsiona os amantes do céu noturno para zonas mais remotas e naturalmente escuras.
Para as regiões que oferecem esta experiência, o astroturismo apresenta um benefício econômico considerável. Os visitantes dedicados à observação de estrelas tendem a gerar mais renda para as comunidades locais. Geralmente, esses turistas estendem sua estadia pernoitando nas proximidades dos pontos de observação, contribuindo diretamente para o setor hoteleiro, gastronômico e de serviços locais. Você pode ler mais sobre como a luz afeta a observação celeste em pesquisas e estudos de alta relevância sobre poluição luminosa, como os compilados pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), que evidenciam o impacto ambiental.
No Brasil, a atividade ainda está em seus primeiros passos e carece de dados precisos sobre a demanda, mas o país já celebra iniciativas pioneiras no fomento ao astroturismo. O Parque Estadual do Desengano, situado no norte fluminense a 269 quilômetros da capital Rio de Janeiro, é a primeira unidade de conservação brasileira a receber a cobiçada certificação “Dark Sky Park” da agência norte-americana, reconhecendo-o como um local de céu escuro ideal para a prática de observar estrelas.
Adicionalmente, outras cidades brasileiras estão atentas ao potencial do astroturismo. É o caso de Matureia, na Paraíba. Localizada a 310 quilômetros de João Pessoa e vizinha ao Parque Nacional da Serra do Teixeira, a cidade implementou uma lei para a proteção de seus céus escuros. Essa medida visa qualificar a região para buscar sua própria chancela de local ideal para a observação de fenômenos astronômicos, consolidando-a como um novo polo turístico de alto potencial.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Para mapear esse potencial em âmbito nacional, o projeto Astroturismo nos Parques Brasileiros desenvolveu o Iastro (Índice de Potencial Astroturístico dos Parques Nacionais). Entre as áreas avaliadas como de excelência para a atividade, destacam-se diversos parques nacionais brasileiros com cenários exuberantes para a observação. Na lista dos considerados “excelentes” estão: Chapada dos Veadeiros, as nascentes do Rio Parnaíba, Viruá, Serra da Capivara, Serra do Teixeira, Catimbau, Sempre-Vivas, Sete Cidades e o Pantanal Mato-Grossense. Essas regiões oferecem condições privilegiadas para a observação de estrelas e constelações.
Mesmo entre os locais classificados como “ótimos” pelo Iastro, que ficam logo abaixo da categoria de excelência, a oferta para os astroturistas é considerável e diversificada. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, por exemplo, já disponibiliza pacotes de excursão específicos para a atividade. No sul do país, o Parque Nacional do Iguaçu, que foi avaliado como “muito bom” no estudo, oferece o roteiro “Céu das Cataratas”, um atrativo que, após ser inicialmente exclusivo para hóspedes do Hotel das Cataratas, agora está aberto ao grande público, democratizando o acesso à beleza do céu noturno sobre as imponentes quedas.
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O crescimento do astroturismo no Brasil e no mundo sinaliza uma nova e promissora via para o ecoturismo, incentivando a valorização dos céus escuros e o desenvolvimento regional sustentável. Fique por dentro de mais notícias e análises sobre o impacto ambiental e cultural do turismo em nossa editoria de Análises, onde exploramos as tendências e transformações do setor.
Crédito da imagem: Eric Hanson/Getty Images e Rodrigo Guerra/Cosmos Iguassu
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