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“Sirât” Abre 49ª Mostra de SP com Reflexão Existencial

Com uma profunda análise sobre a condição humana e os desafios do mundo contemporâneo, o filme “Sirât” abre a 49ª Mostra de Cinema de São Paulo, oferecendo aos espectadores uma viagem reveladora pelo deserto. Dirigido por Oliver Laxe e agraciado com o Prêmio do Júri no prestigiado Festival de Cannes, a obra cinematográfica mergulha na […]

Com uma profunda análise sobre a condição humana e os desafios do mundo contemporâneo, o filme “Sirât” abre a 49ª Mostra de Cinema de São Paulo, oferecendo aos espectadores uma viagem reveladora pelo deserto. Dirigido por Oliver Laxe e agraciado com o Prêmio do Júri no prestigiado Festival de Cannes, a obra cinematográfica mergulha na hostilidade e beleza de paisagens áridas, explorando temas como crise climática, guerras e a busca pela sobrevivência existencial em um cenário de transformações.

A imensidão silenciosa do deserto, já eternizada por pensadores como T.E. Lawrence, Antoine de Saint-Exupéry e Edward Abbey, serve como metáfora para um confronto inadiável consigo mesmo. Laxe utiliza essa premissa para narrar a história de um pai e seu filho em busca de uma filha desaparecida no deserto marroquino. Este local, marcado por conflitos territoriais entre grupos armados e por se transformar em palco de raves de música eletrônica frequentadas pela jovem, é o pano de fundo de uma travessia inesperada.

“Sirât” Abre 49ª Mostra de SP com Reflexão Existencial

Em meio a uma dessas festas barulhentas, enquanto distribuem panfletos, pai e filho cruzam caminho com um grupo de hippies nômades, que se move de evento em evento pelo deserto. Sem encontrar a filha, eles decidem acompanhar este grupo, e a jornada de busca inicial transforma-se em uma luta pela sobrevivência e, mais adiante, em uma alegoria potente dos dramas que afligem a sociedade global, como a eclosão de guerras, a crise climática iminente e o esgotamento econômico.

Uma Alegoria Contemporânea e a Filosofia de Oliver Laxe

O diretor Oliver Laxe, em comunicação por videochamada, enfatiza que “Sirât” é uma obra profundamente conectada com as aflições do mundo. Segundo ele, a narrativa não apenas critica, mas reflete sobre a insustentabilidade do sistema atual, posicionando este momento como uma fase de transição inerentemente difícil. A questão central levantada é a redefinição do que significa ser humano diante dos avanços tecnológicos e da crise ambiental que se aprofunda.

A profundidade do filme se reflete no seu próprio título. “Sirât” refere-se, na tradição islâmica, a uma ponte sobre o inferno que deve ser cruzada antes do julgamento final, simbolizando uma jornada de redenção existencial e espiritual. Essa temática ressoa com as filosofias sufis que o diretor, franco-espanhol, absorveu ao longo de 12 anos vivendo no Marrocos. Laxe aspirava a representar em seu filme o conceito de “morrer em vida”, momentos extremos que levam ao desapego do ego, elementos essenciais na mística sufista.

Embora alguns críticos, após a estreia em Cannes, tenham classificado “Sirât” como um “Mad Max” alternativo, as obras divergem significativamente em suas abordagens. Enquanto o filme eletrizante de George Miller apresenta uma perseguição constante no deserto, focando na condenação do colapso civilizatório e suas consequências na natureza e na população, a produção de Laxe expõe os personagens às suas fraquezas, obrigando-os a confrontar a natureza implacável e o território em conflito, longe da alienação dos dramas e prazeres individuais.

Contexto Político e Impacto no Festival de Cannes

Apesar do seu teor místico, “Sirât” não se esquiva de comentários políticos incisivos. Uma cena inicial, onde uma festa é interrompida por militares evacuando a área, evoca inescapavelmente a invasão do Hamas a uma rave em Re’im, Israel, em outubro de 2023, desencadeando a guerra em Gaza. O Festival de Cannes, neste ano, foi marcado por diversas manifestações políticas, e “Sirât” alinhou-se a essa atmosfera de “mal-estar coletivo”. Oliver Laxe, por sua vez, participou de um tributo à fotojornalista palestina Fatma Hassouna, clamando para que “a matança pare de ser normalizada”.

O elenco de “Sirât” incluiu não-atores, como Jade Oukid, que interpreta uma das hippies no filme. Oukid relatou ter amigos presentes na festa de Re’im, adicionando uma camada de autenticidade às conexões entre a ficção e a realidade brutal. Tanto Oukid quanto Stefania Gadda, que vive outra personagem hippie, são convidadas da 49ª Mostra em São Paulo, compartilhando a visão de que o grupo de viajantes na trama simboliza um inconformismo frente ao colapso do sistema mundial. Gadda compara a postura do grupo a “dançar sobre a guerra”, uma forma de refúgio e, ao mesmo tempo, de resistência coletiva onde a colaboração é essencial.

“Sirât” Abre 49ª Mostra de SP com Reflexão Existencial - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Essa atmosfera de inquietação global perpassa diversos outros títulos exibidos na 49ª Mostra de Cinema. Filmes como “Bugonia”, de Yorgos Lanthimos, “No Other Choice”, de Park Chan-wook, e “Atropia”, de Hailey Gates, utilizam narrativas absurdas para tecer críticas políticas e sociais. O cinema brasileiro também se faz presente com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, que explora a ditadura militar e a construção da memória, enquanto documentários como “Era uma Vez em Gaza” e “Palestina 36” abordam a vida nos territórios palestinos. Além disso, a Mostra exibe clássicos restaurados, como “Chuva Negra”, sobre Hiroshima, e “Crônica dos Anos de Fogo”, Palma de Ouro de 1975, que retrata a Argélia pré-revolucionária. Muitos destes filmes também foram destaques no conceituado Festival de Cannes, ampliando a diversidade e o alcance cultural da Mostra de São Paulo.

Oliver Laxe acredita que, apesar do cenário global árido, existe um “oásis” na aceitação da dor e na persistência em seguir adiante. Para o diretor, parte da responsabilidade humana é permanecer conectado ao mundo, buscando, ao mesmo tempo, minimizar a angústia pessoal. Esse processo, embora árduo, é visto como fundamental para encontrar uma melhor maneira de existir.

As exibições de “Sirât” na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo estão programadas para quinta-feira (16), às 18h, na Cinemateca; quarta-feira (22), às 20h15, no Cinesesc; e sexta-feira (24), às 14h, no Playarte Marabá. O filme é classificado para maiores de 16 anos e conta com um elenco que inclui Jade Oukid, Sergi López e Stefania Gadda, sendo uma produção conjunta da Espanha e França, com lançamento previsto para 2025.

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Em suma, “Sirât” transcende a mera exibição cinematográfica, propondo um convite à reflexão sobre a humanidade e o futuro do planeta, elementos centrais na 49ª Mostra de Cinema de São Paulo. Não perca a oportunidade de explorar essas narrativas e continuar a acompanhar as análises profundas de nosso site sobre o cinema mundial em nossa seção de Análises.

Crédito da imagem: Cena do filme ‘Sirat’, de Oliver Laxe – Divulgação

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