A oposição declara vitória nas eleições em Camarões, em um movimento ousado que contesta a autoridade do presidente em exercício, Paul Biya. O candidato Issa Tchiroma, 79 anos, anunciou sua vitória na noite da última segunda-feira, 13 de outubro, embora o órgão eleitoral oficial do país, Elecam, ainda não tenha divulgado nenhum resultado. Tchiroma conclamou o atual chefe de Estado, 92, que comanda a nação africana desde 1982 e foi seu antigo aliado, a aceitar a derrota e “honrar a verdade das urnas”.
“Nossa vitória é inegável e deve ser respeitada. O povo expressou sua escolha”, declarou Tchiroma em um pronunciamento publicado em sua página no Facebook, sinalizando uma crescente tensão pós-eleitoral em Camarões. Essa afirmação chega em um cenário de expectativas sobre a governança e a transparência do processo democrático camaronês.
Oposição Declara Vitória em Eleições Conturbadas de Camarões
A trajetória política de Issa Tchiroma é marcada por uma significativa ruptura. Ex-porta-voz do governo e antigo Ministro do Emprego, ele distanciou-se de Biya no início deste ano para lançar sua própria campanha presidencial. Sua jornada culminou na construção de uma plataforma que atraiu vastas multidões e garantiu o apoio de uma coalizão robusta de partidos de oposição e grupos civis, fortalecendo sua posição na disputa pela presidência. A contenda atual reacende debates sobre o futuro político do país.
Em resposta à declaração do opositor, o Movimento Democrático do Povo de Camarões (CPDM), partido do presidente Biya, qualificou a afirmação como um “embuste grotesco” em um comunicado divulgado nesta terça-feira, 14 de outubro, sem nomear Tchiroma diretamente. O CPDM reiterou que, segundo a legislação, apenas o Conselho Constitucional possui a prerrogativa de proclamar os resultados oficiais do pleito.
Contudo, a estrutura do Conselho Constitucional, a mais alta instância para a interpretação de leis e regulação eleitoral no país, levanta questionamentos sobre sua independência. Previsto pela Constituição de 1996, o órgão foi estabelecido somente em 2018, e todos os seus 11 membros foram nomeados pessoalmente por Paul Biya. Tal configuração intensifica a preocupação de analistas e da comunidade internacional acerca da imparcialidade e transparência das eleições em Camarões.
O Legado de Paul Biya e o Futuro de Camarões
Paul Biya, considerado o chefe de Estado em exercício mais velho do mundo, almeja seu oitavo mandato, o que o faria alcançar 43 anos no poder. Em caso de vitória, ele permaneceria no cargo até os 99 anos de idade. Até a publicação desta reportagem, Biya, que raramente faz aparições públicas, não havia emitido qualquer posicionamento oficial sobre as declarações de seu opositor. O seu silêncio, nesse contexto, pode ser interpretado de diversas formas, contribuindo para a atmosfera de incerteza em torno da eleição.
Analistas políticos haviam previsto que o controle consolidado de Biya sobre as instituições estatais e uma oposição historicamente fragmentada concederiam a ele uma vantagem considerável nas eleições camaronesas. Isso ocorreu apesar do crescente descontentamento público, alimentado pela estagnação econômica, uma grave crise de segurança resultante de um conflito separatista na região oeste do país e as persistentes ameaças de grupos radicais islâmicos, como o Boko Haram, na região norte. Este complexo cenário exacerba os desafios de governança democrática e a necessidade de transparência eleitoral no país.
Intimidação e Apelo à Lealdade Republicana
Issa Tchiroma expressou seu reconhecimento aos eleitores por demonstrarem coragem, desafiando o que ele classificou como intimidação e permanecendo nas seções eleitorais até altas horas da noite para salvaguardar seus votos. “Agradeço também aos demais candidatos que já me enviaram suas felicitações e reconheceram a autêntica vontade do povo camaronês”, acrescentou, em um sinal de união entre partes da oposição.

Imagem: mais de via www1.folha.uol.com.br
“Nós colocamos o regime diante de suas obrigações: ou demonstra magnanimidade ao aceitar a verdade das urnas, ou opta por mergulhar a nação em uma turbulência que deixará uma cicatriz indelével no cerne de nossa república”, advertiu o candidato oposicionista, ressaltando as potenciais consequências da não aceitação dos resultados percebidos. A retórica tensa reflete a profundidade da polarização política após as eleições em Camarões.
A legislação eleitoral de Camarões permite que os resultados parciais sejam divulgados e afixados nas seções de votação, mas as apurações finais requerem validação oficial do Conselho Constitucional. Este órgão tem até 26 de outubro para anunciar o resultado final da disputa presidencial. Tchiroma afirmou que, em breve, publicará uma análise independente detalhada dos totais de votos compilados de cada região. “Esta conquista não pertence a um indivíduo, tampouco a um único partido. Ela representa a vitória de um povo”, enfatizou.
Em um apelo direto às instituições de segurança do país, o opositor conclamou os militares, as forças de segurança e os funcionários públicos a manterem sua lealdade incondicional à “república, e não ao regime” em vigor. Por outro lado, o Ministro da Administração Territorial, Paul Atanga Nji, emitiu um aviso contundente no final de semana, alertando que qualquer publicação unilateral de resultados seria interpretada como um ato de “alta traição”.
O sistema eleitoral de Camarões adota o turno único, onde a presidência é conferida ao candidato que obtiver o maior número de votos, mesmo que não alcance a maioria absoluta. Mais de 8 milhões de cidadãos estavam registrados para exercer seu direito de voto nestas importantes eleições em Camarões, evidenciando o grande interesse público na definição do futuro político da nação.
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As recentes eleições em Camarões e a declaração unilateral de vitória por parte de Issa Tchiroma abrem um período de incerteza política e testam a robustez das instituições democráticas do país. A expectativa agora se volta para a decisão do Conselho Constitucional e para os próximos movimentos de ambas as partes, que moldarão o futuro do país africano. Continue acompanhando os desdobramentos desta e outras notícias internacionais em nossa editoria de Política para se manter atualizado.
Crédito da imagem: Desire Danga Essigue – 30.set.25/Reuters
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