O samba do interior paulista lamenta a partida de Wagner José de Camargo Nicoletti, um músico que, com talento e dedicação, inscreveu seu nome na história cultural de Piracicaba e região. Nascido em 1966, Wagner, cuja vida foi um exemplo de paixão pela música e perseverança, faleceu em 6 de outubro de 2025, aos 59 anos, deixando um legado marcado pela autenticidade e pelo amor ao ritmo contagiante que ele tanto cultivava.
Desde a juventude, em sua natal Piracicaba, a música já pulsava na veia de Wagner Nicoletti. Ele e seus amigos tinham no Fundo de Quintal não apenas uma banda favorita, mas uma inspiração diária. As reuniões entre eles se transformavam em autênticas rodas de samba, onde, além de apreciar, imitavam e interpretavam as canções de seus ídolos. Uma dessas imitações, inclusive, foi confessada de forma bem-humorada ao próprio Sombrinha, um dos integrantes originais do Fundo de Quintal, durante uma roda de samba na chácara de Alessandro Penezzi, amigo de Wagner.
Wagner Nicoletti: A Essência do Samba no Interior Paulista
A jornada musical de Nicoletti começou com simples batucadas. Das margens dos campos de futebol, onde a diversão pós-jogo se misturava aos ritmos, a música migrou para os bares, onde as cantorias ganhavam forma. A inspiração se estendia para além do Fundo de Quintal, englobando grandes nomes como Beth Carvalho, Leci Brandão, Almir Guineto, Paulinho da Viola e Candeia. Foi nesse caldeirão de referências que Wagner Nicoletti desenvolveu seu talento como percussionista, especializando-se no tantan, e também como cantor. A vocação musical sempre esteve presente, mas a necessidade de apoiar a família o impulsionou a trilhar uma carreira paralela. Ele trabalhou como carteiro, estudou produção industrial e construiu uma sólida jornada profissional em uma fábrica de papel, onde, em seus últimos anos, atuava como líder na área de acabamento, enquanto dedicava seu tempo livre à sua verdadeira paixão.
A seriedade de sua paixão pela música logo transformou as despretensiosas brincadeiras em um projeto mais elaborado. Com amigos, formou o grupo “Pagodeando”, que rapidamente conquistou seu espaço na cena local. Segundo Alessandro Penezzi, a voz potente de Wagner era admirada por todos, e o amigo expressa que sempre a “invejou”, em tom de brincadeira. A necessidade de um novo nome surgiu quando outra formação registrou a mesma marca. Em uma nova homenagem ao grupo que os inspirou, Wagner e seus companheiros batizaram o conjunto de “Oitava Cor”, fazendo alusão a uma conhecida música dos mestres do samba carioca.
A vida de Wagner Nicoletti foi igualmente rica em conexões pessoais. Em 1986, durante uma festa organizada por colegas do Tiro de Guerra, onde servia, ele conheceu Ana Nicoletti, a mulher que viria a ser sua companheira para toda a vida. O primeiro convite para dançar foi ao som de “Leão Ferido”, de Byafra, e a sintonia foi imediata. Um segundo convite para jantar foi recusado por Ana, que tinha uma apresentação de balé no Teatro Municipal Dr. Losso Netto. O gesto romântico de Wagner, ao comparecer e aceitar um convite para assistir ao espetáculo, selou o início de um namoro que se estendeu até os dias atuais, como ressaltou Ana. Em 1995, Wagner e Ana se casaram, e a família cresceu com o nascimento das filhas Gabrielle, 28, e Rafaella, 23, nos anos subsequentes.
O talento do Oitava Cor ganhou reconhecimento além de Piracicaba. Em 1992, o grupo sagrou-se vencedor de um festival no antigo Só Pra Contrariar, uma renomada casa de shows no bairro do Bixiga, na região central de São Paulo. A canção “Tiro no Escuro” foi gravada no disco resultante do evento, e a mesma faixa abriria o primeiro CD solo do grupo, lançado em 1995. O impacto de Wagner Nicoletti na cena musical de Piracicaba transcendeu os palcos de seu grupo. Ele deixou contribuições valiosas com a composição de sambas-enredo e participações marcantes em festivais ao longo dos anos, consolidando a rica cultura sambista da região. Muitas de suas composições, embora não gravadas, ressoam como um testamento de sua paixão incessante pela música.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
A influência de grupos históricos como o Fundo de Quintal moldou profundamente a trajetória musical de Wagner, que sempre buscou a autenticidade e a essência do samba em suas criações e interpretações. Seu estilo era um reflexo de uma tradição que ele fez questão de honrar e perpetuar em seu próprio caminho, inspirando gerações.
Wagner José de Camargo Nicoletti partiu em 6 de outubro de 2025, aos 59 anos de idade, após enfrentar um tratamento de câncer que resultou em uma sepse. Ele deixa a esposa, Ana Nicoletti, e suas duas filhas, Gabrielle e Rafaella, que certamente manterão viva a memória e a paixão pela música que ele dedicou grande parte de sua vida. Sua presença fará falta, mas seu legado permanecerá no coração dos fãs do samba e da cultura de Piracicaba.
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A vida e a obra de Wagner Nicoletti reforçam a riqueza cultural do interior paulista, especialmente no samba. Sua dedicação, desde as rodas informais até o palco, são um testemunho da paixão que ele nutria pela música brasileira. Para saber mais sobre outras figuras marcantes ou as novidades da cena cultural em diversas cidades do país, continue explorando o conteúdo do nosso portal.
Crédito da imagem: Arquivo pessoal
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