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Bodocongó: Polo da Ciência e Educação em Campina Grande

O bairro de Bodocongó, em Campina Grande, transformou-se no vibrante polo da ciência e educação da região ao longo de quase um século. Suas ruas e as margens do açude homônimo testemunham uma trajetória rica em inovação, abrigando atualmente importantes instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a Universidade […]

O bairro de Bodocongó, em Campina Grande, transformou-se no vibrante polo da ciência e educação da região ao longo de quase um século. Suas ruas e as margens do açude homônimo testemunham uma trajetória rica em inovação, abrigando atualmente importantes instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o Parque Tecnológico, e diversas escolas técnicas. Essa vocação para a inovação não é recente; ela se manifestou pela primeira vez muito antes da chegada das grandes universidades, quando Bodocongó recebeu a pioneira instituição científica de Campina Grande.

A história da pesquisa e do desenvolvimento no bairro teve um marco crucial em 1934. Nesse ano, o Açude de Bodocongó foi o palco de um dos avanços mais significativos da biologia brasileira: a primeira reprodução artificial de peixes do país. Este feito foi alcançado graças ao dedicado trabalho do zoólogo Rodolpho von Ihering, juntamente com a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste (CTPN). Fundada como uma resposta às severas secas que afligiam a região, a Comissão tinha o objetivo ambicioso de fortalecer a oferta alimentar através da criação de peixes em açudes nordestinos, e escolheu Campina Grande como sua base para tal propósito.

Bodocongó: Polo da Ciência e Educação em Campina Grande

A escolha estratégica do Açude de Bodocongó pela CTPN não foi aleatória. Conforme apontado pela pesquisadora Ida Steinmüller, cujos estudos se aprofundam nesse período, o contexto urbano crescente da cidade e as condições específicas do açude foram determinantes. “Pudemos concluir que a vinda da Comissão teve incentivos de uma rede de paraibanos, além de a cidade se encontrar envolvida em processo de crescimento e urbanização, contribuindo para que a Comissão pudesse desenvolver seus estudos e instalar a sede na cidade. Mas, tendo como principal ponto a proximidade com o açude Bodocongó, por suas condições, para obtenção dos resultados da pesquisa do Dr. Rodolpho e sua equipe”, explica Steinmüller. Foi nesse ambiente propício que uma experiência revolucionária na piscicultura tomou forma: a primeira reprodução artificial de curimatãs adultas em aquário, por meio da hipofisação – uma técnica que, uma vez consolidada, transformou a reprodução em cativeiro e se difundiu por todo o Brasil, elevando a importância da aquicultura nacional.

A passagem da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste por Campina Grande se revelou extraordinariamente fecunda. De acordo com Ida Steinmüller, essa iniciativa deixou um legado de impacto nacional e internacional, cujas contribuições são até hoje reconhecidas e empregadas. Além dessa inovação na aquicultura, o ano de 1934 foi ainda mais marcante para Bodocongó e a ciência brasileira: o bairro presenciou o surgimento da Limnologia no Brasil, campo da Biologia dedicado ao estudo das águas interiores. As pesquisas conduzidas pelo cientista norte-americano Stillman Wright nas águas do açude Bodocongó marcaram o início dessa nova área de estudo no país. Assim, o modesto açude, situado na época a aproximadamente seis quilômetros do coração de Campina Grande, ascendeu ao status de primeiro laboratório natural da cidade, dando origem a uma rica história científica que, mesmo após quase um século, continua a se expandir.

Da Era Industrial ao Florescimento Universitário em Bodocongó

Após as inovações científicas iniciais, o panorama de Bodocongó começou a passar por significativas transformações em meados do século passado. Durante os anos 1950, o bairro se consolidou como um polo industrial, espelhando o avanço fabril de Campina Grande, um crescimento robusto impulsionado, em parte, pelos investimentos estratégicos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). No entanto, com a chegada dos anos 1960, o som característico das máquinas industriais passou a coexistir com o burburinho de salas de aula e centros acadêmicos. Essa mudança de foco se acentuou, conforme relata a historiadora Keila Queiroz e Silva, professora da UFCG. Ela destaca 1964 como o ano pivotal, quando o campus da então Universidade Federal da Paraíba começou a operar no bairro, redefinindo sua identidade.

“O bairro de Bodocongó representava a paisagem industrial da cidade. Muitas indústrias foram construídas em torno do açude. A transformação do bairro de Bodocongó em um complexo educacional de instituições de ensino superior foi gradativa”, contextualiza Keila. A origem da primeira universidade pública em Campina Grande remonta a 1952, com a fundação da Escola Politécnica. Idealizada por visionários professores, entre eles Lynaldo Cavalcanti de Oliveira, que foi crucial na estruturação dos primeiros cursos de Engenharia, esta instituição lançou as bases para o ensino superior na cidade. Pouco depois, em 1955, a criação da Faculdade de Ciências Econômicas solidificou ainda mais essa identidade acadêmica.

A Expansão das Instituições Acadêmicas e o Crescimento do Bairro

O fervor educacional se intensificou na década de 1970, como narra a historiadora Keila. Esse período testemunhou a fundação da Fundação Universitária de Ensino (Furne), um projeto ambicioso concebido por Edvaldo de Souza do Ó. Inicialmente, a Furne ofertava cursos de licenciatura, expandindo progressivamente para abarcar áreas da saúde e tecnologia. O processo culminou em 1987, quando a instituição foi estadualizada, dando vida à atual Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), um pilar fundamental no Bodocongó: Polo da Ciência e Educação em Campina Grande.

O impacto do crescimento das duas universidades públicas – UFPB (e posteriormente UFCG) e UEPB – no bairro de Bodocongó é tangível e profundo. “A expansão do setor da construção civil no bairro de Bodocongó é sem dúvida provocada pelo polo educacional que foi criado no seu entorno. A própria verticalização do bairro é consequência das demandas das duas universidades por habitações para estudantes de outros estados do Brasil e até de outros países”, ressalta a historiadora Keila Queiroz e Silva, ilustrando a intensa sinergia entre o desenvolvimento urbano e a consolidação acadêmica.

Bodocongó: Polo da Ciência e Educação em Campina Grande - Imagem do artigo original

Imagem: g1.globo.com

Esse período de rápida expansão do ensino superior em Campina Grande foi um fator decisivo para a reorganização institucional da Universidade Federal da Paraíba. Em 2002, esse movimento levou ao desmembramento da UFPB e à consequente criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), marcando um novo capítulo para o bairro, que passou a apresentar novos contornos, ainda mais ligados à vida acadêmica e à pesquisa científica. A UFCG e a UEPB juntas impulsionam um fluxo constante de estudantes e pesquisadores, fortalecendo a relevância de Bodocongó como um centro de conhecimento.

Ao longo das últimas décadas, o papel de Bodocongó como um centro de inovação só se consolidou. O bairro expandiu seu portfólio de instituições, passando a abrigar, além das renomadas universidades, o importante Parque Tecnológico, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), e as unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Esses novos estabelecimentos diversificaram ainda mais as oportunidades de pesquisa, desenvolvimento e qualificação profissional na região.

Quase um século se passou desde os pioneiros experimentos de Rodolpho von Ihering, e hoje, o bairro de Bodocongó se estabelece firmemente como o coração científico e educacional de Campina Grande. As águas do açude, que em tempos passados serviram como o primeiro laboratório para descobertas científicas fundamentais sobre a vida aquática, agora parecem refletir o constante futuro de inovação e progresso educacional. Este notável processo de desenvolvimento exemplifica como um local pode se transformar em um farol de conhecimento e pesquisa para todo o país.

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Crédito da imagem: Divulgação/UEPB

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