A Justiça de Bauru (SP) proferiu sentenças no aguardado Caso Cláudia Lobo, que investigou o desaparecimento e subsequente assassinato da ex-secretária da Apae. Após intenso júri, Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da instituição, e Dilomar Batista, auxiliar de almoxarifado, receberam condenações distintas nesta sexta-feira (10), após a fase de debates e votação dos jurados.
Roberto Franceschetti Filho foi sentenciado a uma pena total de 22 anos e seis meses de prisão, em regime inicialmente fechado. As acusações que o levaram à condenação incluem homicídio qualificado — motivado por torpeza, dissimulação e utilização de um recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ter sido praticado para ocultar outro crime. Somam-se a isso as condenações por ocultação de cadáver e fraude processual, evidenciando a gravidade das infrações imputadas ao ex-dirigente da Apae de Bauru.
Condenação no Caso Cláudia Lobo: Réus Pegam 22 e 1 Anos
Por outro lado, Dilomar Batista, o outro réu envolvido no caso Cláudia Lobo, foi condenado a um ano e seis meses de reclusão pelos crimes de ocultação de cadáver e fraude processual. No entanto, a sentença de Batista foi convertida para prestação de serviços à comunidade, cumulada com o pagamento de multa, indicando um tratamento jurídico diferente, possivelmente devido à tese da defesa de coação.
Detalhamento do Julgamento e Provas Apresentadas
O julgamento dos acusados pelo assassinato de Cláudia Lobo, que movimentou o Fórum de Bauru, estendeu-se por dois dias. Na quinta-feira (9), o primeiro dia foi marcado pelas oitivas das testemunhas de defesa e acusação, iniciando por volta das 9h e prolongando-se até o início da noite. Ao todo, cinco testemunhas foram apresentadas pela acusação, composta pelo Ministério Público e um assistente de acusação. A defesa de Roberto Franceschetti indicou cinco testemunhas, enquanto a defesa de Dilomar Batista convocou duas pessoas para depor. O júri foi composto por sete membros, sendo quatro mulheres e três homens, que tiveram tempo para analisar a vasta documentação do processo antes das oitivas.
Roberto Franceschetti Filho foi transferido do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos para o CDP de Bauru para participar presencialmente. Ele chegou ao Fórum sob escolta da Secretária de Administração Penitenciária (SAP), sem fazer declarações à imprensa. A defesa de Dilomar Batista, representada pelo advogado Thiago Tezani, enfatizou que seu cliente era réu confesso pelos crimes de fraude processual e ocultação de cadáver, mas alegou que as ações de Dilomar foram resultado de uma “coação moral irresistível” por parte de Roberto, incluindo ameaças à sua família e integridade física, corroboradas por mensagens e evidências da presença de veículos próximos à residência do auxiliar de almoxarifado.
Letícia Lobo, filha de Cláudia, compareceu ao Fórum acompanhada de familiares e advogados, mas optou por não falar com os jornalistas. Ela atuou como uma das testemunhas de acusação e, em outro processo, responde em liberdade sobre investigações de desvio de dinheiro na Apae. O advogado da família de Cláudia, Alisson Caridi, expressou a confiança de Letícia na responsabilização dos envolvidos nos crimes contra sua mãe, incluindo homicídio e destruição de cadáver. Durante seu depoimento, Letícia relatou que só percebeu, após Roberto se tornar suspeito, que ele era o único que nunca expressava esperança de que sua mãe fosse encontrada. Ela também detalhou a proximidade de sua mãe com Roberto, com quem Cláudia compartilhava informações pessoais e íntimas.
Depoimentos Cruciais e Imagens da Polícia Civil
Delegados, como Gláucio Eduardo Stoco e Cledson Nascimento – responsável pela investigação do homicídio e cujo depoimento se estendeu por mais de uma hora – foram os primeiros a depor pela acusação. Outro investigador da polícia também foi ouvido pela manhã. Após um intervalo, o julgamento retomou à tarde. A psicóloga Jéssica Perota Xavier, que atua na Apae, revelou que Dilomar Batista, um dia após o desaparecimento de Cláudia, usou a expressão “deu ruim” ao saber que câmeras de segurança haviam registrado o momento em que ele abandonou o carro da ex-secretária em uma rua. A psicóloga também confirmou informações sobre um terreno da Apae utilizado para queima de materiais, onde o corpo de Cláudia possivelmente foi ocultado.
Maguina Cristina Cardoso, que trabalhava na limpeza de um imóvel próximo ao local de ocultação, também testemunhou, confirmando a presença de Dilomar na área e um breve contato com ele. Fernando Sheridan, primo de Cláudia Lobo e ex-motorista da Apae, prestou depoimento confirmando uma reunião entre Cláudia e Roberto em 6 de agosto de 2024, por volta das 14h. Além deles, um perito da Polícia Civil e uma testemunha protegida também apresentaram suas versões dos fatos.

Imagem: g1.globo.com
Nos depoimentos dos réus, Dilomar Batista reafirmou sua versão inicial das investigações, alegando que agiu sob ameaças e coação de Roberto. Ele citou uma ligação na qual Roberto perguntava se ele havia “resolvido o problema da manutenção no telhado da entidade”, que, segundo Dilomar, era um código para a ocultação do corpo de Cláudia. Essa conversa faz parte das escutas telefônicas obtidas pela Polícia Civil e divulgadas pela imprensa. Roberto, por sua vez, chorou em diversos momentos, negou veementemente seu envolvimento no crime e argumentou que, no dia em questão, ele, Cláudia e Dilomar estariam indo resolver assuntos com um agiota, desassociando-se do homicídio.
A Linha do Tempo e o Contexto dos Desvios
Roberto Franceschetti Filho foi detido em 15 de agosto de 2024, após Cláudia ter sido vista pela última vez em 6 de agosto do mesmo ano, sendo o principal suspeito de seu desaparecimento e morte. Cláudia havia deixado a Apae sem sua bolsa ou celular, alegando que iria “resolver algumas coisas do trabalho”, utilizando um veículo da entidade. O carro foi encontrado no dia seguinte, abandonado no bairro Vila Dutra, com vestígios de sangue. Imagens de segurança foram cruciais para a investigação, mostrando Cláudia e Roberto trocando de lugar dentro do veículo, momento em que a Polícia Civil acredita que ele efetuou os disparos. Dilomar Batista, por sua vez, teve a prisão preventiva negada e continuou respondendo em liberdade, ratificando seu envolvimento na ocultação do corpo durante as audiências do caso em 16 de janeiro de 2025.
Além do processo por homicídio e ocultação de cadáver no Caso Cláudia Lobo, Roberto Franceschetti também é figura central em investigações sobre um grande esquema de desvio de verbas na Apae, que se acredita ter sido a motivação para o crime. As apurações sobre esses desvios, que também incluem parentes da vítima, continuam em andamento, conduzidas pelo Seccold (setor especializado em crimes de lavagem de dinheiro da Polícia Civil) e pelo Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público). Essas investigações já levaram à prisão de nove pessoas e a um inquérito que envolve mais quatro suspeitos, que respondem em liberdade. O Gaeco, inclusive, solicitou o ressarcimento de R$ 10 milhões dos envolvidos nos desvios, demonstrando a dimensão do impacto financeiro do esquema.
Para contextualizar ainda mais a importância de decisões judiciais no cenário nacional e internacional, a consulta a fontes autorizadas pode ser útil. Por exemplo, informações sobre temas de corrupção e probidade no judiciário brasileiro, oferecem dados e perspectivas adicionais sobre o combate a crimes complexos.
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As condenações de Roberto Franceschetti Filho e Dilomar Batista representam um passo significativo na busca por justiça no Caso Cláudia Lobo. Para mais notícias e análises sobre decisões judiciais, política local e os impactos na cidade de Bauru, continue acompanhando a editoria de Cidades em nosso portal.
Crédito da imagem: Raíssa Toledo/ TV TEM
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