Um estudo recente aponta que a alta exposição à masculinidade digital está intrinsecamente ligada à diminuição da autoestima em meninos adolescentes. Publicada nesta quarta-feira (8) pela Common Sense Media, a pesquisa revela uma preocupação crescente para pais e educadores sobre os impactos do conteúdo online na formação identitária dos jovens.
Historicamente, a atenção dos pais sobre os filhos na internet frequentemente se volta para questões como o acesso a conteúdo explícito ou “sextortion”. Contudo, pesquisadores vêm explorando uma vertente distinta que afeta particularmente pré-adolescentes e adolescentes: os conteúdos relacionados à “masculinidade digital”. Este material abrange temas como acumular riqueza, desenvolver músculos, o uso de armamento e métodos para atrair mulheres, entre outras coisas.
Estudo: Masculinidade digital liga-se à baixa autoestima em meninos
A pesquisa é resultado de um levantamento representativo em âmbito nacional, realizado nos Estados Unidos no mês de julho, com a participação de mais de mil meninos com idades entre 11 e 17 anos. Ela detalha como a interação dos jovens com plataformas de mídias sociais — incluindo TikTok, Instagram e YouTube — e com as comunidades de jogos se relaciona diretamente com o seu bem-estar emocional. A relevância deste tipo de material durante uma fase crucial de desenvolvimento desses meninos é evidenciada.
Exposição Generalizada e Estereótipos Problemáticos
Os dados coletados indicam que a maioria dos jovens é regularmente exposta a conteúdo sobre masculinidade online, e que os com maior nível de exposição manifestam uma propensão superior a experimentar sensações de solidão e baixa autoestima. De acordo com o chefe de pesquisa da Common Sense Media, Michael Robb, o objetivo central é compreender como os ecossistemas digitais estão moldando o senso de identidade e de masculinidade entre os jovens. Robb salienta que, nesse período, os meninos buscam responder a perguntas como “quem sou eu, onde me encaixo?”, passando por profundas transformações e necessitando de aceitação social.
Quase três quartos dos meninos pesquisados, ou seja, 73%, afirmam serem expostos frequentemente a mensagens online sobre masculinidade. Esse tipo de conteúdo inclui aspectos como finanças, condição física, relacionamentos, apostas e lutas. Dentre eles, um em cada quatro declara ter um nível elevado de contato com esse material. Além disso, 69% dos jovens reportam o encontro regular com conteúdos de masculinidade que promovem estereótipos de gênero que são considerados problemáticos. Tais mensagens sugerem, por exemplo, que homens são tratados injustamente em comparação às mulheres, que a mulher deve focar na vida doméstica e familiar, ou que meninas se utilizam da aparência para conseguir vantagens, e que desejam se relacionar apenas com tipos específicos de homens, como aqueles que são altos, ricos e atraentes.
Impacto na Imagem Corporal e Saúde Mental
Praticamente todos os meninos — 91% dos participantes do estudo — revelam encontrar conteúdos focados na aparência física na internet. Alarmantemente, um quarto desses jovens indica que essas mensagens os levam a sentir que precisam alterar sua própria aparência. A pesquisa estabeleceu uma correlação entre altos níveis de exposição a conteúdo de masculinidade e a incidência de solidão. Embora a natureza causal exata dessa relação não seja totalmente clara, Robb pondera que a solidão pode levar à busca por esse conteúdo, ou vice-versa, ou até mesmo uma combinação de ambos os fatores.
Embora a maioria dos entrevistados declare possuir uma autoestima saudável, o grupo com alta exposição à masculinidade digital demonstra maior vulnerabilidade. A pesquisa indica que 14% dos meninos neste grupo apresentam baixa autoestima, contrastando com apenas 5% entre aqueles com pouca exposição. Da mesma forma, 39% do primeiro grupo, frente a 24% do segundo, afirma sentir-se “inútil às vezes”. O dado se agrava quando 34% dos meninos altamente expostos versus 16% dos menos expostos consideram-se “sem valor”.
A Influência Crescente de Criadores de Conteúdo
No cenário atual, os influenciadores online assumem um papel cada vez mais significativo como fontes de orientação e suporte emocional para meninos adolescentes. Essa é uma mudança geracional expressiva, destacada pelo estudo, já que em épocas anteriores, familiares, membros da comunidade e a mídia tradicional eram as principais referências. Robb ressalta a magnitude do impacto desses influenciadores, notando que 60% dos meninos os consideram inspiradores e mais da metade recebeu conselhos práticos úteis. O especialista, contudo, enfatiza que os pais podem desconhecer essas influências digitais.

Imagem: www1.folha.uol.com.br
Apesar de temores generalizados sobre a imersão de meninos em narrativas misóginas online, Robb aponta que somente 12% dos jovens relatam contato com conteúdo que sugere um tratamento injusto aos meninos em comparação com as meninas. Esse número, embora não seja negligenciável, sugere que tal tipo de mensagem pode não ser tão predominante quanto se imagina. Surpreendentemente, termos como “incel” e “red pill” são menos familiares do que “macho alfa” e “beta male”. Apenas 16% dos entrevistados estavam familiarizados com a expressão “incel” (celibato involuntário), o que diverge da percepção midiática de que os jovens estariam “inundados” por conteúdos altamente tóxicos. Para uma compreensão mais profunda sobre as nuances do cuidado com a saúde mental em adolescentes, pode-se consultar o Guia de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes do Ministério da Saúde, uma fonte de alta autoridade.
Conexões Reais e o Apoio Familiar como Chaves
O estudo conclui que as conexões no mundo real — com pais, amigos e irmãos — atuam como fatores de proteção essenciais. Meninos que possuem laços mais fortes reportam melhor saúde mental e autoestima, além de maior capacidade para navegar pelo ambiente digital sem internalizar mensagens masculinas nocivas. Em situações adversas, os pais são a primeira opção de suporte para 79% dos meninos, seguidos pelos amigos (54%) e irmãos (38%). Contudo, é notável que os meninos com alta exposição à masculinidade digital demonstram uma menor inclinação a procurar o apoio dos pais.
Robb reforça a ideia de que o fortalecimento dos laços familiares funciona como uma barreira protetora robusta. É fundamental que as crianças tenham adultos em quem confiem, capazes de exemplificar a expressão de sentimentos e emoções de forma plena, mostrando o espectro completo das reações que um homem adulto pode ter. Ele encoraja os pais a iniciarem conversas sobre a atividade online de seus filhos, adotando um tom aberto e não-julgador. Segundo o especialista, abordar o tema com atitudes muito rígidas sobre influenciadores ou tipos de conteúdo pode encerrar o diálogo. Perguntas como “Que tipo de coisa você está assistindo? Pode me mostrar seu TikTok ou Instagram?” podem estimular os meninos a refletir sobre o conteúdo que consomem e como isso os faz sentir. Essa abordagem ajuda os meninos a processarem o complexo ambiente digital em que estão inseridos.
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Em suma, a compreensão coletiva sobre o que os meninos encontram online e como eles processam essas informações é crucial. A pesquisa evidencia que, assim como as meninas, os meninos também enfrentam complexidades significativas nos ambientes digitais, que se estendem por mídias sociais, comunidades de jogos e ecossistemas de criadores de conteúdo. São nesses espaços que eles buscam construir relacionamentos e decifrar o que significa ser homem nos dias de hoje. Para continuar explorando estudos e análises sobre o comportamento jovem e o mundo digital, siga nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: Owen Cooper em cena da série ‘Adolescência’ – Courtesy of Netflix
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