O documentário ‘Inside Gaza’ oferece uma imersão profunda na experiência dos jornalistas da Agence France-Presse (AFP) que cobriram o conflito na Faixa de Gaza. O filme narra os desafios diários desses profissionais, que se viram reportando a guerra enquanto suas próprias vidas e rotinas eram drasticamente afetadas pelas hostilidades.
Dirigido pela renomada jornalista independente Hélène Lam Trong, a obra audiovisual documenta os primeiros meses da ofensiva israelense, desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Mais de 1.200 pessoas foram mortas no território israelense, conforme levantamento da AFP baseado em dados oficiais, desencadeando uma subsequente resposta militar de Israel no território palestino.
Documentário ‘Inside Gaza’ mostra o dia a dia da AFP
A exibição de “Inside Gaza” está agendada para a quinta-feira (9), durante a cerimônia de entrega dos prêmios Bayeux, na França, um evento de prestígio dedicado a correspondentes de guerra. Seis dos sete jornalistas permanentes da AFP que estiveram na vanguarda da cobertura do início do conflito na Faixa de Gaza participarão do evento. O longa-metragem retrata a árdua realidade enfrentada por esses profissionais, que documentaram dia após dia os horrores vividos pela população civil em Gaza, onde, segundo dados do Ministério da Saúde local considerados confiáveis pela ONU, morreram 67.000 pessoas, a maioria delas civis.
A ética e a desconfiança em Gaza
“Eu quis detalhar em que consiste este trabalho, que é essencialmente realizado no terreno”, afirmou Hélène Lam Trong à AFP, explicando a motivação por trás da produção. O filme, uma coprodução entre Factstory (uma subsidiária da AFP especializada em documentários), a Arte e a emissora pública belga RTBF, utiliza quase integralmente imagens captadas pelos próprios jornalistas da AFP retratados na narrativa. A rotina desses repórteres incluía registrar crianças feridas, indivíduos soterrados em escombros e corpos envoltos em mortalhas. Esse trabalho é ininterrupto, já que nenhum jornalista estrangeiro possui autorização para ingressar na Faixa de Gaza, tornando o trabalho dos correspondentes locais da AFP insubstituível.
Hélène Lam Trong descreve esses profissionais como “jornalistas experientes, na faixa dos cinquenta anos, que conseguem manter o rigor mesmo sob condições de extrema urgência e desconforto”. A diretora realizou entrevistas extensas com eles após a saída da região no início de 2024. Contudo, as informações divulgadas por eles são frequentemente contestadas. Grupos de influência pró-Israel, por exemplo, questionaram a autenticidade de uma imagem feita por Mohammed Abed, que mostra uma criança morta nos braços do pai, alegando tratar-se de uma boneca. O jornalista narra que diversas mídias ocidentais chegaram a solicitar provas da morte da criança.
“Poucas vezes houve tamanho questionamento às informações divulgadas por jornalistas tão experientes”, observou Lam Trong, acrescentando que “os jornalistas palestinos enfrentaram o maior grau de desconfiança em relação à mídia”. Este cenário complexo ressalta a importância de fontes como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) no monitoramento da liberdade e segurança da imprensa, fornecendo dados e análises cruciais sobre as condições de trabalho desses profissionais em zonas de conflito. Saiba mais sobre o trabalho essencial do CPJ para jornalistas em áreas de alto risco acessando o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Profissionais sob ataque e o custo humano da cobertura
A seleção das imagens para “Inside Gaza” foi rigorosa, e a diretora enfatizou que realizou uma segunda triagem para excluir as cenas mais impactantes, embora o documentário ainda contenha momentos intensos. Ela ressaltou que o que foi exibido “está muito, muito abaixo da realidade” do que esses profissionais testemunharam. Os sete jornalistas da AFP e suas respectivas famílias foram retirados do território entre fevereiro e abril de 2024 e, atualmente, residem em Doha, Cairo ou Londres. Muitos deles sofrem de transtornos de estresse pós-traumático em decorrência da experiência.
A Agence France-Presse mantém hoje cerca de dez colaboradores em Gaza. Yann Ollivier, produtor do filme e responsável pela área de documentários na Factstory, afirmou que “o propósito do filme é instigar reflexões sobre a função dos jornalistas”, especialmente aqueles que enfrentam perigos globais, e de forma acentuada em Gaza, onde a imprensa é alvo constante de ataques. Ele expressou a esperança de que, ao assistir ao documentário, “aqueles que afirmam que não há jornalistas em Gaza sejam forçados a reconhecer que eles existem e que sua ética é a de praticar um jornalismo factual”.
O impacto devastador do conflito sobre a imprensa é evidenciado por estatísticas alarmantes. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas e Repórteres Sem Fronteiras, aproximadamente 200 jornalistas perderam suas vidas na Faixa de Gaza desde o início da guerra. Essa tragédia humana reforça a urgência de defender a liberdade de imprensa e garantir a segurança de quem atua em zonas de conflito.
Confira também: crédito imobiliário
Em suma, “Inside Gaza” é mais do que um filme; é um testemunho pungente da resiliência e dedicação de jornalistas que arriscam suas vidas para informar o mundo sobre a realidade de um dos conflitos mais complexos de nosso tempo. O documentário provoca uma importante discussão sobre o papel fundamental da imprensa e os desafios da cobertura em meio à desinformação e à violência. Continue acompanhando nossas análises para compreender a fundo o impacto da cobertura midiática em diferentes cenários de crise global, explorando o trabalho e a dedicação dos profissionais da comunicação em nossa editoria de Análises.
Crédito da imagem: agu/jlo/jmo/es/pb/sag/dd/aa Agence France-Presse
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados