Morte de Odete Roitman em Remake de Vale Tudo Respeita Original

O desfecho de Odete Roitman no remake de Vale Tudo finalmente ocorreu, com a vilã sendo morta em cena no capítulo da última segunda-feira, dia 6. O resultado dissipou preocupações de espectadores e críticos que temiam que a autora Manuela Dias, à frente desta nova versão, alterasse o destino da personagem de forma radical. Essa fidelidade à morte da antagonista respeitou o desejo original dos criadores Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.

Havia um receio considerável sobre possíveis mudanças na trama de “Vale Tudo”, dado o histórico de alterações promovidas ao longo dos mais de seis meses de exibição. Muitos se perguntavam se Odete, interpretada por Debora Bloch, poderia reaparecer em um plot twist final, desfrutando de uma ilha grega com um coquetel na mão, fugindo do castigo merecido, como um movimento “iconoclasta” da autora.

Morte de Odete Roitman em Remake de Vale Tudo Respeita Original

A versão original de “Vale Tudo” espelhava um Brasil imerso em uma profunda crise socioeconômica e moral, apresentando a personagem Raquel como um símbolo da honestidade contra a ambição sem limites de Odete Roitman. Os preconceitos e a postura vilanesca de Odete provocaram um desconforto inédito, cravando-a na história da teledramaturgia brasileira como uma das maiores vilãs de todos os tempos. Sua presença rascante e assustadora marcou a carreira de Beatriz Segall na época. Por outro lado, a nova interpretação, embora repleta de declarações controversas, desvinculou-se em grande parte desta tensão social original.

No remake, a novela distanciou-se do embate entre honestidade e oportunismo para ilustrar um Brasil utópico, onde conflitos de classe e dificuldades financeiras parecem não existir. As poucas referências políticas foram relegadas à sequência de abertura, evidenciando uma “despolitização” da trama. A versão mais recente de Odete, personificada por Debora Bloch, se diferenciou da intensidade e crueldade de sua predecessora. Debora construiu uma vilã mais jovial e liberta, que, em suas próprias palavras metafóricas, “bebeu caipirinha e caiu no samba”, vestindo uma capa “chique” sobre a maldade da personagem.

De fato, a Odete interpretada por Debora Bloch mostrou-se uma das figuras mais gratificadas da narrativa. Conforme as cenas se desenrolavam, a personagem exibia um comportamento empoderado e sexy, entregando-se aos prazeres de sua escolha em quase todos os capítulos. Esta Odete 2.0 pareceu divertir-se intensamente, dedicando pouco tempo ao planejamento de suas vilanias, o que explicaria as ações muitas vezes improvisadas e falhas que perpetrava ao longo da história.

A percepção do público sobre o destino ideal para Odete Roitman também se alterou consideravelmente. Segundo pesquisa do Datafolha, 86% dos telespectadores da nova versão desejavam ver a personagem punida de alguma forma, porém, apenas 4% ansiavam por sua morte. A preferência da maioria se dividia entre vê-la pobre (47%) ou presa (35%). Este cenário contrasta com o resultado da mesma pesquisa realizada em 1988, com paulistanos, onde 38% almejavam a morte da vilã, 20% a prisão e 14% a miséria.

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Manuela Dias, autora da releitura, expressou em entrevista ao “Fantástico” que também se apaixonou pela Odete, admitindo que “deu dó” ter que dar o desfecho fatal à personagem. Pouco antes de sua morte na tela, a própria Odete, em um momento de ironia e ausência de modéstia, autoafirmou: “Odete é altamente viciante”. Apesar das críticas à inclusão excessiva e, por vezes, mal posicionada de anúncios comerciais nos capítulos – uma queixa comum entre o público – o capítulo derradeiro da personagem foi elogiado por não abusar da paciência do espectador com interrupções publicitárias. A veiculação de sabão em pó durante uma cena dramática exemplifica a falta de talento e cuidado observada em muitas dessas inserções.

Diversos personagens nutriam o desejo de assassinar Odete na fatídica noite de sua morte. A trama mostrou Maria de Fátima adquirindo uma arma e aprendendo a atirar em questão de minutos; Marco Aurélio se instalando no Copacabana Palace; Olavo revelando ser um “fuzileiro sniper”; Celina arquitetando uma desculpa para visitar a irmã; César surgindo com um revólver; e Heleninha também se fazendo presente no hotel. Apesar da proliferação de suspeitos, o principal assassino parece ter sido um elemento menos importante para a narrativa do que a própria morte simbólica da figura de Odete.

Em um panorama mais amplo, a adaptação não deve ser vista como uma “traição” a Gilberto Braga. A Rede Globo, celebrando 60 anos, demonstra buscar inovações e novas abordagens para a produção de conteúdo, incluindo formatos curtos para redes sociais. O remake de “Vale Tudo” reflete essa modernização, caracterizado por cenas mais ágeis, diálogos menos complexos e um foco mais superficial nas tramas, com menor preocupação com o acabamento primoroso. As novelas na atual década se transformaram, diferindo substancialmente das produções dos anos 1980 e 1990. Os dados de audiência do Ibope podem não ter sido os mais exuberantes, mas garantiram uma performance comercial sem questionamentos, revelando a eficácia da emissora em atrair anunciantes.

Confira também: crédito imobiliário

Em suma, a morte de Odete Roitman no remake de “Vale Tudo” representa uma síntese da homenagem à versão original e uma adaptação às novas tendências de produção e consumo televisivo. Para entender mais sobre a evolução do entretenimento na televisão brasileira e a análise de novas produções, convidamos você a explorar outras matérias na editoria de celebridade e cultura de nosso portal.

Crédito da imagem: Reprodução/Globo