O combate às fábricas clandestinas de bebida no Brasil intensificou-se, revelando uma média preocupante: uma planta de produção de falsificados fechada a cada cinco dias entre 2022 e 2024. Esta realidade emerge em meio à crescente preocupação com 225 casos suspeitos de intoxicação por metanol em todo o país. O metanol, uma substância tóxica, tem sido detectado ilegalmente em bebidas e já resultou em hospitalizações severas e mortes em diversos estados.
As investigações conduzidas pelas autoridades indicam que a raiz do problema não se encontra nas grandes indústrias do setor, mas sim em pequenos e descentralizados esquemas de adulteração. Conforme explicado por Bruna Pratto, professora de Engenharia Química, “certamente é um caso de adulteração, porque, de maneira controlada e fiscalizada, não há quantidades de metanol suficientes para oferecer risco ao consumo humano”. Esta declaração ressalta a natureza criminosa da adição da substância.
Brasil fecha fábrica clandestina e alerta para metanol em bebidas
A Associação Brasileira de Bebidas (ABRAB), por meio de sua presidente, Cristiana Foja, tem se esforçado para restabelecer a confiança do público. Foja enfatiza que “o produto legal é confiável. As empresas sérias seguem padrões rígidos e o consumidor pode consumir tranquilamente”. Contudo, o perigo permanece real quando se trata de produtos provenientes de fontes ilegais.
O metanol é um tipo de álcool de elevado risco. Sua ingestão pode desencadear consequências devastadoras para a saúde humana, incluindo cegueira permanente, insuficiência respiratória aguda e, em muitos casos, levar ao óbito. Sua detecção a olho nu é virtualmente impossível, visto que a substância é incolor e o aroma pode ser mascarado na mistura, o que amplifica o perigo do consumo de bebidas adulteradas. Diante desse cenário alarmante, laboratórios como o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) de Campinas, no estado de São Paulo, têm sido fundamentais na análise de amostras de sangue de pacientes que apresentam quadros de suspeita de intoxicação. Pesquisadores confirmam que os cenários mais graves da condição de saúde geralmente estão associados à presença do metanol em concentrações elevadas, prática comum nas bebidas ilícitas.
Medidas de Combate e Prevenção à Intoxicação
Em uma resposta direta à crise, o Ministério da Saúde agiu rapidamente para fortalecer o estoque nacional do fomepizol, o antídoto crucial contra a intoxicação por metanol. O medicamento foi importado com urgência do Japão, garantindo recursos para tratamentos. Paralelamente, as forças de segurança, incluindo a Polícia Civil e a Receita Federal, intensificaram as operações em todo o território nacional. O objetivo dessas ações coordenadas é identificar e desmantelar laboratórios e redes clandestinas responsáveis pela produção e distribuição de bebidas falsificadas. O esforço conjunto visa não apenas punir os responsáveis, mas também proteger a população dos perigos iminentes do metanol.
Casos Históricos de Intoxicação por Metanol no Brasil
A história brasileira registra episódios passados de grande preocupação com a contaminação por metanol em bebidas. Em julho de 1990, um incidente trágico na Bahia levou à morte de 18 pessoas após uma festa em que foi consumida cachaça adulterada com a substância. Mais tarde, em dezembro de 1992, na cidade de Diadema, dezenas de indivíduos foram internados durante a madrugada do dia 26, depois de consumirem uma bebida conhecida como “bomberinho”, feita com vodca, groselha e limão. Três jovens sucumbiram naquela mesma semana. O surto mais recente e grave dos últimos anos ocorreu entre 2016 e 2023, resultando em 11 mortes. As vítimas eram, majoritariamente, homens pobres, em situação de rua e vulnerabilidade social, além de serem dependentes químicos. Apesar da gravidade, esse último surto não obteve a repercussão pública devida, embora tenha mantido os pesquisadores em alerta.
Entendendo a Ação do Metanol no Organismo
O CIATox de Campinas continua na linha de frente na análise das amostras de sangue, buscando entender e combater a intoxicação. O metanol é incolor, o que dificulta sua identificação em meio ao etanol, o álcool presente em bebidas lícitas. Embora possua um cheiro distinto do etanol, essa diferença é sutil e facilmente mascarada em misturas. Os sintomas de intoxicação costumam manifestar-se em até 24 horas, e podem ser confundidos com os efeitos de uma ressaca comum. Estes incluem náuseas, cólicas e dores abdominais intensas. A visão tende a ficar turva, acompanhada de tontura e potenciais alterações de consciência. Internamente, o sangue se torna mais ácido, enquanto o fígado é diretamente impactado. Os danos podem estender-se à medula óssea e ao cérebro. Adicionalmente, o metanol afeta os pulmões, resultando em insuficiência respiratória, e compromete o nervo óptico, podendo culminar em cegueira irreversível. O conhecimento aprofundado sobre esses efeitos é vital para a rápida identificação e tratamento dos casos.

Imagem: metanol no Brasil via g1.globo.com
É essencial que haja um esforço contínuo e fiscalização rigorosa, especialmente por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para garantir a segurança alimentar e a integridade dos produtos consumidos, prevenindo a proliferação de bebidas adulteradas.
Os Antídotos para a Intoxicação por Metanol
O tratamento para a intoxicação por metanol pode parecer incomum, mas sua metodologia tem precedentes históricos, inclusive o uso da cachaça como antídoto há três décadas. O repórter e químico Álvaro Pereira Júnior esclarece que o metanol por si só não é o principal agente tóxico; o perigo real surge quando, uma vez ingerido, ele é metabolizado no fígado, transformando-se em outras substâncias altamente prejudiciais ao corpo. Assim, a urgência de administrar antídotos. O principal e mais eficaz desses é o fomepizol. Sua ação reside na capacidade de ligar-se às enzimas hepáticas que normalmente metabolizariam o metanol. Ao ocupar essas enzimas, o fomepizol impede que o metanol seja processado em substâncias mais tóxicas, permitindo que o metanol circule no organismo até ser eliminado pelos rins, através da urina.
Quando o fomepizol não está prontamente disponível, uma alternativa terapêutica que os médicos podem empregar é o etanol, o mesmo álcool encontrado nas bebidas. O princípio de funcionamento é similar: o paciente recebe uma dose controlada de etanol, frequentemente administrada intravenosamente. As enzimas hepáticas possuem maior afinidade pelo etanol do que pelo metanol. Dessa forma, o etanol é preferencialmente ligado às enzimas, as quais ficam “ocupadas”. Com as enzimas já dominadas pelo etanol, o metanol perde a capacidade de ser transformado em seus derivados tóxicos, sendo então eliminado pela urina sem causar danos adicionais. Contudo, é fundamental reiterar uma ressalva de suma importância: a administração de qualquer um desses antídotos – seja o fomepizol ou o etanol – deve ocorrer sob estrita e rigorosa supervisão médica, devido à complexidade do tratamento e aos riscos envolvidos. A notícia da importação de 2,5 mil tratamentos de fomepizol pelo Ministério da Saúde, anunciada pelo Ministro Alexandre Padilha junto à Organização Panamericana de Saúde, reforça a capacidade do país em combater essa emergência de saúde.
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A constante vigilância e as ações enérgicas contra as operações clandestinas de bebida são essenciais para proteger a saúde pública no Brasil. É imperativo que os consumidores estejam alertas e que o poder público mantenha a fiscalização ativa. Para mais informações sobre a atuação do governo e fiscalização em prol da saúde e segurança dos cidadãos, acompanhe nossas notícias sobre fiscalização e ações governamentais em nossa editoria de Política e fique por dentro das últimas atualizações.
Crédito da imagem: Arte/g1
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