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Fania Oz Critica Punição Coletiva na Guerra de Gaza

A renomada historiadora e escritora israelense Fania Oz-Salzberger critica a punição coletiva de comunidades, traçando um paralelo entre a forma como seu governo trata os palestinos e o preconceito sofrido por judeus em razão do conflito. Filha do aclamado romancista Amós Oz, ela expressa uma visão moderada e muitas vezes solitária no atual cenário de […]

A renomada historiadora e escritora israelense Fania Oz-Salzberger critica a punição coletiva de comunidades, traçando um paralelo entre a forma como seu governo trata os palestinos e o preconceito sofrido por judeus em razão do conflito. Filha do aclamado romancista Amós Oz, ela expressa uma visão moderada e muitas vezes solitária no atual cenário de Israel, defendendo que os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 não podem ser uma justificativa para as ações em Gaza.

Fania Oz-Salzberger, reconhecida professora emérita de história na Universidade de Haifa e doutora pela Universidade de Oxford, atua como uma voz contundente contra a condução da guerra e as políticas do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Ela compartilha sua dificuldade em combater a punição coletiva direcionada aos judeus por eventos pelos quais ela própria critica o governo de Israel, afirmando sua luta em palestras, redes sociais e em sua conta no X. Segundo Oz-Salzberger, há dois anos tem feito apelos para que sejam impostas sanções contra Netanyahu e membros de sua administração por parte de aliados de Israel, buscando responsabilização pelos rumos do conflito e suas consequências.

Fania Oz Críticas ao Conflito de Gaza

Para Oz-Salzberger, a conduta de Israel na Faixa de Gaza, após os traumáticos eventos de 7 de outubro de 2023, reflete um desvio grave de responsabilidade governamental. A historiadora enfatiza que os governos têm o dever de liderar e assumir responsabilidades, sem se comportarem como entidades traumatizadas. Tal comportamento, argumenta Fania Oz, impede a cura da nação e compromete a sua própria justificativa perante a comunidade internacional. O ataque do Hamas, embora profundamente impactante para a sociedade israelense – que ainda vive as cicatrizes e o luto daquele dia –, não deve servir de pretexto para a escala e o tipo de conflito atualmente travado.

Em sua análise, Oz-Salzberger detalha o profundo trauma vivido por Israel após os ataques, que em 2025 completarão dois anos. Ela relata que a experiência é semelhante à de indivíduos que enfrentaram um trauma e não receberam o tratamento adequado, e muitos israelenses conhecem pessoalmente vítimas, reféns ou enlutados, devido ao tamanho compacto do país. Contudo, ela reiterou em entrevista à Folha a crucial distinção: o sofrimento da população não concede licença ao governo para justificar as operações em Gaza. Fania Oz destaca a incapacidade da atual liderança em curar a nação, exacerbando a crise interna e externa.

Fania Oz-Salzberger participará da 4ª edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, entre 9 e 12 de outubro, a convite do Instituto Brasil-Israel, onde deve aprofundar essas questões complexas sobre a sociedade israelense e o conflito em curso. Sua presença sublinha a relevância do debate sobre a condução política de Israel em um cenário de crescentes desafios diplomáticos e humanitários.

O Trauma do 7 de Outubro e a Resposta Governamental

A experiência da geração de Fania Oz, marcada pelo pós-Segunda Guerra Mundial e pela esperança dos Acordos de Oslo, transforma a atual situação em um doloroso desmoronamento de ideais. A historiadora, que presenciou o assassinato do ex-primeiro-ministro israelense Itzhak Rabin a poucos metros de distância em 1995 – um evento que simbolizou um retrocesso para a paz –, descreve a sensação de ver sua história de vida e suas esperanças desmoronarem. Para Fania Oz, sua geração e as mais antigas servem como “disco rígido” da nação, guardando a memória dos sacrifícios feitos para estabelecer um Israel democrático, liberal, humano e de coexistência judaico-árabe. Este projeto, contudo, é atualmente vivido como um “pesadelo em câmera lenta”.

Antes dos ataques de 7 de outubro de 2023, Israel estava profundamente dividido por protestos maciços contra a reforma judicial proposta pela coalizão de Netanyahu, um movimento visto como uma “revolta secular, judaica, liberal e humanista” contra ameaças à democracia. Os atentados do Hamas paralisaram essa luta cívica, com a população focando em esforços de resgate e assistência, pois o governo mostrou-se, inicialmente, inoperante. Fania Oz relembra o caos e a ausência de resposta governamental nas primeiras horas, levando cidadãos comuns a assumir funções de salvamento. No entanto, o otimismo inicial de que o governo priorizaria a unidade nacional e a recuperação foi frustrado, pois a ofensiva contra a separação de poderes e o judiciário foi retomada, reavivando gradualmente o movimento de protesto. Essa dualidade de trauma externo e divisão interna intensifica a crise da identidade e governança israelense.

O Declínio dos Acordos de Paz e a Divisão Interna

A postura crítica de Fania Oz não se restringe à ação militar. Ela também analisa a evolução da política israelense e o impacto dos ataques de 7 de outubro nas tensões internas do país. Em seus escritos recentes, a historiadora tem argumentado que Netanyahu perdeu sua legitimidade, uma afirmação que ela fundamenta não apenas em percepções pessoais, mas também em avaliações de especialistas em direito constitucional, com os quais colabora. Ela considera a guerra em Gaza “criminosa”, por ter uma causa justa que degenerou em “massacre em massa de civis” sob uma perspectiva internacional e democrática israelense. Oz-Salzberger critica Netanyahu por enfrentar três acusações de corrupção e tentar evadir o julgamento de forma ilegal, além de permitir que o Exército ignore a violência de colonos extremistas contra palestinos na Cisjordânia, com relatos de assassinatos, mutilações e roubos. Diante de tais fatos, ela qualifica o primeiro-ministro como “desonesto” em diversas frentes: política interna, relação com a comunidade internacional, e na gestão dos conflitos em Gaza e na Cisjordânia.

Fania Oz Critica Punição Coletiva na Guerra de Gaza - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

O cenário geopolítico atual demonstra Israel sob uma crescente avalanche de críticas, vinda inclusive de aliados históricos e organizações respeitadas internacionalmente. Fania Oz reconhece e compartilha grande parte dessas críticas legítimas. No entanto, ela estabelece uma importante distinção: o ódio generalizado e a punição coletiva de israelenses meramente por sua origem é um fenômeno que ela não sabe como combater. Esse tipo de “punição coletiva”, compara, é o mesmo que seu próprio governo aplica aos palestinos – uma prática que ela categoricamente condena. Sua luta se dá em duas frentes: combater o preconceito indiscriminado contra seu povo e, ao mesmo tempo, pedir que amigos de Israel imponham sanções a membros extremistas do governo Netanyahu, defendendo que o boicote deve ser direcionado à liderança política radical, e não à cultura ou ao povo israelense de forma ampla.

Reconstruindo a Confiança Internacional e a Paz Futura

A preocupação com o futuro de Israel e de seu povo levou Fania Oz a tomar uma posição ousada e controvertida: encorajar jovens israelenses a recusarem-se a servir em Gaza. Ela esclarece que seu apelo não é para abandonar o Exército em sua totalidade – cuja existência é vital para a nação – mas para recusar o serviço especificamente na Faixa de Gaza, onde a guerra se tornou “mais horrenda a cada dia”. Essa decisão, explica a historiadora, foi inspirada pela coragem de jovens que manifestaram a mesma intenção, diante da ineficácia dos protestos civis em depor democraticamente o atual governo.

Frente à questão do “dia seguinte” da guerra, tanto em Gaza quanto em Israel, Fania Oz articula esperanças e receios. Ela projeta um futuro onde, idealmente, eleições honestas levariam à queda de Netanyahu e de sua coalizão, pavimentando o caminho para um novo governo de centro e moderado. Sem essa mudança, a historiadora alerta que o futuro de israelenses moderados como ela pode ser desastroso, talvez levando a um conflito civil, pois a transferência de milhões de pessoas para outro lugar não é uma opção viável. Após a ascensão de um governo moderado, diversas ações seriam urgentes: a promoção de um processo de paz com os palestinos, incluindo a implementação de um plano de dois Estados (como o de Trump ou qualquer outra proposta razoável); e a “cura” interna da sociedade israelense. Essa cura passaria por combater o crescente ultranacionalismo e a extrema direita, uma “desradicalização” que o próprio povo israelense precisa realizar. Além disso, é crucial interromper o legado de divisão nacional cultivado por Netanyahu, que, segundo Fania Oz, demonizou a “outra metade” da nação – uma estratégia que difere do fascismo clássico por não pregar uma falsa unidade, mas sim pela polarização. Essa recuperação é vital antes que seja tarde demais. Ela vê o “plano de Trump”, ou qualquer plano para dois estados, como uma excelente oportunidade para toda a região, apesar das objeções de “fanáticos” e “belicistas” de ambos os lados, caso venha a funcionar.

Para mais informações sobre as questões do Oriente Médio, você pode consultar o site da Human Rights Watch, que monitora a situação dos direitos humanos na região, incluindo Israel e os Territórios Palestinos Ocupados, e oferece análises e recomendações independentes.

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Em suma, a perspectiva de Fania Oz-Salzberger oferece uma reflexão crítica e dolorosa sobre o estado atual de Israel e do conflito em Gaza, ressaltando a urgência de responsabilização governamental e de um profundo processo de cura nacional. Sua voz moderada e articulada convida à análise da complexidade da situação, propondo um caminho de resiliência e busca pela paz em meio a desafios sem precedentes. Continue acompanhando nossas análises para entender os desdobramentos desta e de outras notícias globais na editoria de Análises.

Crédito da imagem: Acervo pessoal

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