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Scholastique Mukasonga: Memória Guia Desenvolvimento em Ruanda

A lição central que a escritora Scholastique Mukasonga oferece ao mundo é que a **memória é o alicerce fundamental para o desenvolvimento e a resiliência** de uma nação. Sua obra, permeada pela vivência do genocídio em Ruanda, destaca como a lembrança e o testemunho são cruciais para forjar um futuro mais consciente e promissor. Em […]

A lição central que a escritora Scholastique Mukasonga oferece ao mundo é que a **memória é o alicerce fundamental para o desenvolvimento e a resiliência** de uma nação. Sua obra, permeada pela vivência do genocídio em Ruanda, destaca como a lembrança e o testemunho são cruciais para forjar um futuro mais consciente e promissor. Em suas palavras e narrativas, Mukasonga não apenas evoca o passado trágico de sua terra natal, mas também aponta para a coragem necessária de se confrontar a história para se construir uma identidade nacional coesa e virada para o avanço.

No pungente livro “A mulher dos pés descalços”, Mukasonga expressa a dor da impossibilidade de atender ao último desejo de sua mãe, Stefania, de ter seu corpo coberto após a morte. A autora, impossibilitada de estar presente no momento final, lamenta a distância e a ausência, transformando suas palavras e a escrita em uma espécie de ritual fúnebre tardio e solitário. Ela dedica a obra não apenas à sua mãe, mas a todas as mães e vítimas do genocídio em Ruanda, expandindo essa reflexão para outros conflitos atrozes na história da humanidade. É uma evocação comovente de um luto coletivo e pessoal, entrelaçado nas frágeis teias da memória e da linguagem, em uma língua que sua mãe não compreendia plenamente, tornando o esforço ainda mais dilacerante.

Scholastique Mukasonga: Memória Guia Desenvolvimento em Ruanda

Scholastique Mukasonga foi uma das homenageadas do 13º Festival Literário de Araxá, em Minas Gerais, um evento que a recebeu ao lado do renomado autor brasileiro Itamar Vieira Junior. Sua participação, crucial para a curadoria da qual Bianca Santana também fez parte ao lado de Afonso Borges, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches, serviu como um poderoso elo para conectar as discussões sobre o genocídio em Ruanda com a dor de contextos atuais, como os vividos em Gaza, Congo e Sudão, além de reforçar reflexões sobre o genocídio negro no Brasil, tema central da tese de doutorado da própria Bianca Santana. Durante uma das mesas do festival, Mukasonga partilhou a íntima e resiliente imagem que perpassa sua escrita: a de mães que, mesmo cercadas pela mais brutal violência, persistiram em “guardar o fogo”, um gesto simbólico de preservação da vida e dos valores para a sobrevivência e a continuidade de suas descendências.

A trajetória de Ruanda é marcada por uma história complexa e dolorosa, catalisada pela colonização belga na década de 1930. Neste período, foram impostas rígidas identidades étnicas, dividindo a população entre Hutu e Tutsi por meio de carteiras de identidade, semeando as bases para futuras tensões. A partir da década de 1950, Ruanda testemunhou uma escalada de massacres e expulsões, pressagiando a catástrofe iminente. Famílias como a de Mukasonga foram deportadas para regiões inóspitas, como Nyamata, em um movimento de opressão que visava desintegrar laços e exilar populações vulneráveis.

O acúmulo de décadas de ódio e segregação culminou no brutal genocídio de 1994. Em apenas cem dias, cerca de 800 mil tutsis foram brutalmente assassinados. A tragédia atingiu Scholastique Mukasonga de forma avassaladora, ceifando a vida de 37 membros de sua própria família. Ela, que havia alcançado a fronteira do Burundi com seu irmão duas décadas antes, sobreviveu graças ao planejamento meticuloso e à premonição de sua mãe, que possibilitou uma fuga extenuante de 40 quilômetros a pé em seis horas. Desde seu exílio na França, iniciado em 1992, Mukasonga abraçou a vital missão de ser a memória viva e o testemunho daqueles que pereceram e daqueles que ficaram sem voz. “Um sobrevivente perde a palavra. Os livros a recuperam”, declarou em Araxá, reforçando o poder da literatura como ferramenta de resgate histórico. A autora já publicou cinco livros no Brasil pela editora Nós, com mais uma obra prevista para lançamento, contribuindo significativamente para a compreensão global do que aconteceu em Ruanda.

É fundamental ressaltar que o governo ruandês não buscou apagar o seu passado trágico. Pelo contrário, conforme insistiu Scholastique, a nação recusou-se a permanecer refém dele. Logo após o genocídio, em um gesto de reconstrução e união, os ruandeses queimaram as carteiras de identidade étnica, buscando forjar uma cidadania comum, desvinculada das divisões do passado. Além disso, o genocídio foi formalmente incluído nos currículos escolares, assegurando que as futuras gerações compreendam a violência que jamais deve se repetir. Mukasonga enfaticamente destaca que a verdadeira reconciliação só pode ser alcançada quando não se esconde o passado e quando cada nova geração se conscientiza plenamente das atrocidades ocorridas, um ensinamento crucial e diretamente aplicável a contextos como o do Brasil, onde a história também exige ser confrontada.

Apesar do passado devastador, Ruanda tem emergido como um dos países mais proeminentes e progressistas da África. Essa transformação é notável em diversos setores: a nação se destaca pelo protagonismo feminino na política e pelo avançado desenvolvimento de tecnologias digitais. Esses progressos, longe de apagarem a história, são solidificados e pavimentados pela valorização da memória, que atua como uma infraestrutura social essencial para a construção de um futuro próspero e equitativo. Para uma compreensão mais aprofundada sobre os eventos históricos que moldaram o país, a trajetória do Genocídio de Ruanda pode ser consultada em diversas fontes fidedignas, como a **página dedicada no Wikipédia**, que oferece um panorama detalhado.

Scholastique Mukasonga: Memória Guia Desenvolvimento em Ruanda - Imagem do artigo original

Imagem: www1.folha.uol.com.br

Ao final do festival literário, a leitura emocionada do desfecho do livro de Scholastique Mukasonga ecoou a mensagem de urgência e necessidade de se manter viva a lembrança dos eventos, utilizando um tom de profundo luto e reflexão sobre a vastidão da tragédia. O texto descreve um cenário devastador, de montes de ossadas, corpos anônimos e perguntas incessantes: “Ao pé do altar de Jesus, ao pé da estátua de Maria, vejo vários montes de ossadas: esqueletos de homens, de mulheres, de crianças de Nyamata espalhados pelo chão da igreja.” Em seguida, surge a indagação pungente de uma figura chamada Cândida, que se desvanece gradualmente em um eco distante, questionando a capacidade de reconhecimento dos rostos, dos entes queridos, e culminando com a pergunta sobre a existência de um pano grande o suficiente para cobrir todos, todos os mortos.

O testemunho de Scholastique Mukasonga é um poderoso lembrete de que a memória não é apenas um fardo, mas uma força propulsora para a reconstrução e o avanço. A forma como Ruanda encarou e integrou seu passado brutal em sua identidade atual serve como um modelo global de resiliência. Sua narrativa e a postura da nação reforçam que, somente através do enfrentamento honesto e da lembrança ativa das atrocidades, é possível forjar uma sociedade mais justa e consciente, pronta para pavimentar seu caminho rumo ao desenvolvimento pleno. Os desafios da memória e da reconstrução social são temas que frequentemente exploramos em nossa seção de **notícias de política e sociedade**.

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Crédito da Imagem: Divulgação

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